Luanda  - Agora, com algum recuo no tempo, o rigor histórico e a honestidade intelectual obrigam-nos a fazer reflexões sobre o nosso percurso como jovem país, não no sentido de encontrar culpados, porque isso somos todos, mas para fazer com que não tenhamos de repetir no futuro, os momentos menos bons e mesmo de grande turbulência que a nossa própria historia conheceu.
 
Fonte: Club-k.net
 
As grandes opções ideológicas assumidas em 1974/1975 como modelo para governar Angola revelaram-se hoje, quatro décadas depois, um autentico desastre para o país. Tudo o que se seguiu, nos planos politico-institucional, económico e social, diplomático e da cooperação internacional e mesmo no plano cultural, era decorrente daquelas opções.
 
 
A guerra pós-colonial foi sem duvidas o efeito/consequência mais grave daquele pensamento pois exacerbou e aprofundou a fractura social e política até então em estado latente. Volvidos 42 anos desde a nossa independência, ainda estamos a procura do rumo, ainda estamos a tentar arrumar a casa, ainda estamos a procura das melhores instituições com vista a uma maior estabilidade do país. Ate me parece, sem nenhum exagero, que foi mais fácil a reconciliação com a antiga potência colonial do que entre os próprios irmãos, filhos da mesma mãe pátria, Angola.
 
 
Considero por isso urgente e importante pararmos para repensarmos o nosso país. Alguns, possuídos pela psicose da ''negociação'', acham que não há mais nada para falarmos. Outros argumentam que ''já existem instituições como a Assembleia Nacional vocacionadas ao dialogo'', como se o dialogo nacional se esgotasse nos órgãos de soberania...
 
 
Propus, por exemplo, durante o presente ano legislativo na Assembleia Nacional, a necessidade da criação de uma ''Comissão Nacional'', composta por personalidades de idoneidade reconhecida nas diversas áreas das ciências sociais, bem como autoridades tradicionais (igualmente idóneas) tendo como objectivo o aprofundamento da problemática dos valores que configuram a nossa, tradição, usos e costumes tendo em linha de conta a complexidade do nosso vasto mosaico social, cultural, religioso, etno-linguístico e racial. Não se pode falar com tanta facilidade da necessidade de resgatar valores cívicos e morais se estes não forem previamente decantados e conhecidos por todos. A minha proposta deve estar aguardando numa gaveta qualquer ate um dia...
 
 
Outro assunto também de grande importância é o modelo económico para o desenvolvimento do nosso país. Basta recordar que ate finais de 1973 Angola tinha atingido níveis de produção e produtividade agrícola que fizeram dela ''a pérola da coroa''. Por ordem de importância eram os seguintes os produtos de exportação:
 
1- Café.
2- Algodão.
3- Mineiro de ferro.
4- Madeiras e celulose.
5- Petróleo e diamante.
6- Sisal e rícino.
 
Veja-se o lugar preponderante da agricultura no quadro acima!
 
 
Alguns dirão que o sistema de exploração do homem tinha características esclavagistas. Até posso concordar mas o que não posso aceitar é que se tenha mudado o rumo de política económica, que se tenha mudado a vocação agro-industrial do país ''através'' da independência. Importa recordar ainda que cerca de 88% da produção agrícola naquela altura era resultado da agricultura familiar e não dos mega projectos agrícolas. É preciso repensarmos tudo isso. Não esquecendo os sectores da saúde e da educação. Ninguém tem o monopólio do conhecimento. O dialogo nacional é uma necessidade sob pena de cometermos os mesmos erros do passado. A crise actual contém oportunidades, desde que haja da parte dos que dirigem, humildade, serenidade, lucidez e vontade de fazer melhor e num espírito mais inclusivo.
 
 
A independência trouxe-nos a petro-dependência mal ensaiada cujo resultado está à vista.
 
Como é que durante 40 anos vendemos apenas o petróleo em estado bruto, o crude?
 
 
A única refinaria no nosso país data de 1958 com vocação para a produção de GPL, (gás) gasolina, jet e gasóleo.
 
Nessa época, portanto 1958, a nossa refinaria tinha uma capacidade de refinar apenas cerca de 2.000 bpd (barris de petróleo dia).
 
 
Durante o ano de 1972-73 essa capacidade foi ampliada pelas autoridades coloniais para cerca de 30.000 bpd.
 
Nos dias de hoje o nosso país gasta anualmente cerca de 300 milhões de dólares com a importação de produtos derivados do petróleo. Desse montante exclui-se o GPL que deixamos de importar em 2005.
 
 
A pergunta que me ocorre neste momento consiste em saber porque que com o ''boom'' do petróleo não se construíram mais 2 ou 3 refinarias, não só para suprimir a importação de derivados do petróleo mas e sobretudo para se acrescentar valor ao nosso crude para exportação tendo em conta a posição geo-estratégica que o nosso país ocupa simultaneamente na África Central, Austral Grandes Lagos e Golfo da Guiné. Exportar derivados do petróleo para a RDC que é um grande mercado de 100 milhões de habitantes, ao norte e leste de Angola, a Zâmbia país sem saída para o mar, e mesmo para a Namíbia e África do Sul, seria ouro sobre azul. Isso iria sem duvidas constituir-se numa fonte suplementar de receitas para o nosso Orçamento Geral do Estado. Já que toda a economia andou desde a independência à volta do petróleo, pelo menos devíamos ter optimizado, aprimorado esse importante sector. Infelizmente ficamos na exploração e comercialização do petróleo bruto, refastelados à sombra da mulemba...
 
Foi apenas uma reflexão.
 
 
Lukamba Gato