Luanda  - Desde cedo da minha infância sempre fiquei movido e inspirado por valores e princípios que a minha mãe incutia incessantemente na minha mente. Por isso, no íntimo da minha consciência não pulsa o apologismo pelo mundo virtual ou pelo paraíso onde se encontrasse em abundância os bens, a felicidade absoluta, a harmonia total e a mandriice. Pelo contrário, eu sou daqueles que acredita num mundo razoável em que cada um tenha a liberdade de se realizar e de viver livre e dignamente, dando a mão ao próximo, no espirito de solidariedade e de altruísmo social. 
 
Fonte: Club-k.net
 
“I have a Dream” - Martin Luther King, Jr.
 
Para este efeito, do acima exposto, combater veementemente a prepotência, a ganância e o ultra individualismo, que se traduzem na corrupção e na apropriação ilícita dos bens públicos. Impondo, em função disso, a justiça social e a igualdade de oportunidades para todos, sem excepção. Logo, a liberdade, a igualdade e a cidadania são os pressupostos imprescindíveis para a realização dos SONHOS que habitam na humanidade – de todas raças, de todas etnias e de todas camadas sociais.
 
 
Nesta esteira, no comício do dia 27 de Outubro de 2016, no Estado da Carolina do Norte, enquadrado na campanha eleitoral, a Hillary Clinton e Michelle Obama, pela primeira vez, apareceram no palco eleitoral, de uma forma impressionante vê-las, as duas senhoras de peso, diante um multidão, a levantar bem alto a voz da razão feminina. Óbvio, eu sou defensor acérrimo do feminismo e do género, que acredita profundamente na supremacia moral da Mulher, que sabe distinguir entre o bem e o mal, como sendo o padrão da vida humana. Este conjunto de valores morais e éticos normativos de uma comunidade ou de um grupo social é-nos transmitido no círculo da família, desde infância, no qual a presença da Mãe é dominante e efectiva.
 
 
Portanto, o que me impressionou bastante não só o potencial feminino e o domínio da razão, mas sobretudo as afirmações da Michelle Obama, nos seguintes termos:
 
“Este é o país em que tudo é possível de alcançar, e cada um é capaz de realizar livremente os seus SONHOS, nos marcos da lei. Os meus bisavôs foram escravos trazidos para cá, e hoje, eu estou cá, bem firme, na qualidade de Primeira-dama dos Estados Unidos da América, país mais avançado e mais poderoso do Mundo. Sabeis que, este país é composto por pessoas vindas de todos cantos do Mundo, e transformaram-no naquilo que hoje é – próspero e poderoso.” Fim de citação. 
 
Essas afirmações da Michelle Obama, uma mulher preta, convicta da sua identidade cultural e ciente da sua origem, reflectem não só a dignidade da pessoa humana, mas sobretudo os valores da democracia americana. Só imagine em condições desumanas em que os escravos negros chegaram ao continente americano, de onde, de nada, encetaram uma luta titânica pela liberdade e pela igualdade, como seres racionais. Apesar da existência do ódio e da segregação racial, que ainda persiste nalguns sectores; porém, a comunidade afro-americana conquistou um espaço próprio e importante dentro do sistema político americano, participando activamente, em pé de igualdade, na tomada de decisões nucleares e na formulação das grandes políticas do País e do Mundo. 
 
A minha reflexão não visa fazer uma opinião sobre as eleições presidenciais em curso, entre Hillary Clinton e Donald Trump, mas sim, enaltecer as virtudes do sistema político americano em que, as instituições públicas servem o povo, e não servem os interesses dos governantes ou das elites políticas em Washington. Apesar da influência enorme da Hillary Clinton e do seu Partido Democrata, ainda no poder, mas é incapaz de se impôr sobre os Serviços de Inteligência, que continuam a investigar os seus correios electrónicos (emails), durante o mandato dela de Secretária de Estado (Ministra dos Negócios Estrangeiros). 
 
Isso demonstra nitidamente a independência dos órgãos de soberania de Estado e a separação dos poderes. Pois, para se tornar Presidente dos Estados Unidos da América, terás que passar por uma investigação séria, que prove a sua honestidade e que certifique a sua idoneidade, para que a eleição seja transparente, justa, legítima e credível. Nesta referência, o desprezo feminino e os assédios sexuais do Donald Trump, contra muitas mulheres abusadas, na sua dignidade feminina, apesar de ser um Multi Bilionário, mas não têm sido capazes de corrompe-las e silencia-las. Acima disso, o enriquecimento ilícito deste grande magnata através de fuga ao fisco e de outsourcing de capitais aos mercados externos, prejudicando a economia do país, tudo isso veio à baila, nesta campanha eleitoral. Alias, este sistema político norte-americano traz à superfície as virtudes bem como as desvirtudes dos candidatos em disputa, de modo a permitir os eleitores fazer uma prévia apreciação global, e poder votar em plena consciência.  
 
Tem sido neste contexto, da supremacia da lei, da abertura e da transparência, em que os cidadãos americanos, sem discriminação alguma, têm sido capazes de realizar os seus SONHOS. Com isso não quer dizer que, a democracia americana é perfeita. Ela tem muitas lacunas e imperfeições, que as vezes, em certas circunstâncias, limitam o Poder do Estado agir em plenitude, com eficácia e com pontualidade necessária. Notando, no funcionamento das instituições públicas, um certo grau de desfasamento, desequilíbrios, descontrolo, desorientação, incoerência e autonomização excessiva.
 
Não obstante, quando os interesses públicos, os direitos individuais e a Carta Magna estiverem em causa, por mais poderoso que seja a personalidade envolvida, torna-se problemático alcançar o poder político ou mantê-lo seguramente. Tendo em conta o facto de que, o nepotismo, o culto de personalidade, o tráfico de influência e a corrupção, que são fenómenos nocivos, são combatidos seriamente por Órgãos competentes do Estado.
 
Enquanto, os cidadãos, no contexto da cidadania, estão sempre à espreita, com olhos postos naquilo que passa na sociedade, salvaguardando os seus direitos, liberdades, deveres, obrigações e garantias constitucionais, no contexto do direito internacional.
 
Para o melhor entendimento, que é fundamental para esta reflexão, um cidadão ou uma cidadã é um individuo pertencente a um Estado livre, no gozo dos seus direitos civis e políticos, e sujeito a todas as obrigações inerentes a essa condição. A cidadania, por sua vez, é um vínculo jurídico-político que, traduzindo a pertinência de um individuo a um Estado, o constitui, perante este Estado, num conjunto de direitos e obrigações. 
 
Por isso, a cidadania implica direitos civis e políticos, que devem ser exercidos na sua plenitude, sem condicionalismo e sem segregação alguma. Pois, um Estado só se torna verdadeiramente livre se os seus cidadãos estiverem no pleno gozo dos seus direitos, liberdades, deveres, obrigações e garantias constitucionais, à luz do direito internacional. Um povo amordaçado, oprimido e limitado nos seus direitos é incapaz de realizar, em pleno, as suas múltiplas potencialidades – em todos sectores. Tornando-se, deste modo, num país adiado, oprimido, atrasado, pobre, inerte, estagnante, decadente, corrupto, vulnerável e entregue aos interesses dos abutres estrangeiros. A corrupção, o cancro erosivo, floresce como cogumelo, tornando-se num modo de estar dos governantes e dos funcionários públicos com acesso fácil aos Cofres do Estado e aos circuitos financeiros. Sugando, deste modo, os recursos públicos para os bolsos individuais, em detrimento do povo, que fica mergulhado na penúria e na pobreza extrema. 
 
Este tem sido o maior handicap da sociedade angolana em que, o partido no poder, não reconhece a essência da cidadania, que se limita a um círculo fechado de algumas famílias, como um verdadeiro Clique, que consideram-se donos do país, com direitos nobres, de uma monarquia absoluta. Fico escandalizado e revoltado quando observar determinadas personalidades, Deputados que age com arrogância como se fossem colonos, diante os seus súbditos, da época colonial. Assisti uma cena triste deste género na TV-ZIMBO, entre os Deputados de todas Bancadas Parlamentares da Assembleia Nacional, a comportar-se deste género, ao ponto de pensar que, o erário público é propriedade partidária do MPLA, que actua como dono da riqueza, que faz o favor aos seus servos.
 
Em síntese, isso leva-nos a uma reflexão profunda do caminho tortuoso que Angola há-de trilhar nos próximos tempos. Os escravos negros tiveram ousadia de libertar-se do jugo da escravatura e da segregação racial, ter alcançado a Casa Branca, através da Presidência do Barack Obama e da Primeira-dama Michelle Obama. Logo, neste respeito, a nova geração, do pós-guerra civil, do nosso país, tem o grande desafio de lutar pelas mesmas liberdades e pelos mesmos direitos fundamentais, contra a nova forma de colonização – que se instalou no país. Que inviabilizou, deste modo, as «aspirações profundas» da luta pela Independência de Angola, que custou muito sacrifício, muito sofrimento, muito suor e muito sangue derramado – em todos cantos do país e em todas famílias angolanas.
 
Nesta lógica, dizia Martin Luther King, Jr,: “Tenho o Sonho.” Este Grande SONHO do Martin Luther King é que constituíra-se na «força motora» da luta dos Afro-Americanos na sua cruzada pelos direitos civis e políticos, evocados com firmeza e orgulho pela Michelle Obama, na plataforma política da Carolina do Norte, ao lado da Hillary Clinton, aplaudidas em ovação pela multidão em sua volta. 
 
Portanto, o SONHO do Nacionalismo Angolano (apesar do surgimento do sistema neocolonial) não apagou-se, mante-se viva, constante e dinâmica. Por isso, a Juventude Angolana deve engajar-se com firmeza, com coragem e com perseverança, em busca da cidadania, da liberdade e da igualdade. 
 
Luanda, 31 de Outubro de 2016