Luanda - O Pacote Legislativo da Comunicação Social foi aprovado esta sexta-feira (18.11). Associações profissionais tencionam pedir ao Tribunal Constitucional uma declaração de inconstitucionalidade.

Fonte: DW

Os deputados angolanos aprovaram na Assembleia Nacional nesta sexta-feira (18.11) o Pacote Legislativo da Comunicação Social. A elaboração final do pacote, porém, não contemplou todas as questões levantadas pelos jornalistas, muitas visavam melhorias nas leis.


Em entrevista à DW África, o secretário-geral do Sindicato dos Jornalistas Angolanos, Teixeira Cândido, disse que três aspetos foram levados em conta. Primeiro, a carteira de ética e deontologia profissional foi devolvida às associações profissionais como estabelecem a Constituição e a lei vigente.


A carteira profissional deixou de ser da competência da entidade reguladora e passou a ser de uma comissão de ética eleita numa assembleia de jornalistas, diz Cândido. Por último, também foram atendidos aspetos sobre os incentivos à comunicação social.


Críticas


Porém, restam críticas. Alexandre Neto Solombe, presidente do Instituto de Comunicação Social da África Austral, o MISA-Angola, diz que as competências atribuídas pela nova Lei de Imprensa ao Ministério da Comunicação Social deveriam constar do diploma legal.


"Há um articulado (na Lei de Imprensa) segundo o qual o Ministério da Comunicação Social ganha competência para, por exemplo, decidir sobre a suspensão da emissão radiofónica de uma determinada emissora sem litigar; sem que alguém faça uma análise imparcial do assunto, seja o que estiver em litigação. Uma entidade ministerial politicamente dominada por um ministro que represente uma determinada coligação político-partidária”, diz o presidente do MISA-Angola.


Outro aspeto levantado pelo Sindicato dos Jornalistas Angolanos, porém ignorado pelo Governo de Luanda, foi a composição da Entidade Reguladora da Comunicação Social Angolana (ERCA).


Segundo avança Teixeira Cândido, a ERCA é uma instituição predominantemente política, "uma entidade reguladora dominada maioritariamente pelos partidos políticos. Designam nove membros ao todo e as associações profissionais designam dois”.

 

Porém, a questão principal, segundo ele, tampouco diz respeito no número de membros designados, "mas quem são os membros a integrar a comissão reguladora, como são designados e quais são os critérios – isso não foi bem resolvido”, acrescenta.


Human Rights Foundation


A Human Rights Foundation (HRF), que defende direitos humanos no mundo, e que tem sede em Nova Iorque, já criticou, em agosto deste ano, o Pacote Legislativo da Comunicação Social. Uma das questões levantadas pela organização foi a composição da ERCA.


A organização norte-americana avançou na altura que, se aprovado do modo como foi concebido, o pacote minaria a liberdade de imprensa. A organização comparou Angola aos países onde a actividade jornalística é restringida, a exemplo de Venezuela, China, Zimbabwe, Cuba e Arábia Saudita.


Alexandre Neto, o presidente do MISA-Angola, diz que a última esperança é exigir do Tribunal Constitucional uma declaração de inconstitucionalidade das leis ora aprovadas:


"Pedir ao Tribunal Constitucional uma declaração de inconstitucionalidade é a única batalha sobre a qual teremos alguma esperança”, e acrescentou que "não estavam otimistas sobre o que poderia ser colhido do exercício feito pela Assembleia”.


O Pacote Legislativo da Comunicação Social é constituído pela Lei de Imprensa, de TV, de Rádiodifusão, pela Lei da Entidade Reguladora da Comunicação Social Angolana (ERCA) e pelo Estatuto dos Jornalistas e Lei de Redes Informáticas.


Em declarações à imprensa, o ministro da Comunicação Social de Angola, José Luís de Matos, disse que as leis aprovadas munirão a classe jornalística com bons instrumentos para a realização de um bom trabalho e "com maior responsabilidade".