Luanda - A falta de kwanzas no mercado angolano continua a travar a subida do preço do dólar norte-americano nas ruas de Luanda, praticamente inalterado há um mês, conforme constatou a Lusa numa ronda pela capital.

Fonte:  Manuel Luamba

A cotação do mercado paralelo, na venda da nota de dólar, mantinha-se hoje nos 490 kwanzas (2,75 euros) pela quarta semana consecutiva, o que, embora inferior a valores anteriores, ainda se situa muito acima do câmbio oficial.

 

As `kinguilas` de Luanda, como são conhecidas as mulheres que se dedicam à compra e venda de divisas na rua, insistem que não há kwanzas no mercado, o que trava a subida do dólar, que também não há em quantidade suficiente para a procura no mercado paralelo e oficial.

 

Contudo, ninguém arrisca uma previsão para as próximas semanas, tendo em conta o período de Natal e as habituais viagens para o estrangeiro e correspondente aumento de procura de divisas.

 

O preço praticado no mercado de rua de Luanda permaneceu próximo dos 600 kwanzas por cada dólar em agosto e julho, depois de máximos acima dos 630 kwanzas em junho, embora com pontuais flutuações semanais.

 

Na ronda semanal realizada hoje pela Lusa, a venda de cada dólar estava fixa nos 490 kwanzas nos bairros de São Paulo, Mártires de Kifangondo, Maculusso e na Mutamba, ainda cerca de três vezes acima da taxa oficial de câmbio.

 

O chefe da missão do Fundo Monetário Internacional (FMI) para Angola, Ricardo Velloso, defendeu na quarta-feira, em Luanda, após duas semanas de reuniões, anuais, com as autoridades angolanas, a necessidade de uma `flexibilidade na política cambial´ angolana.

 

Para o economista brasileiro, em função da conjuntura angolana atual - crise provocada pela quebra nas receitas do petróleo e escassez de divisas -, são necessárias novas desvalorizações do kwanza.

 

«Não recomendámos um número específico e depende um pouco das políticas que dão apoio a essa política cambial mais flexível», apontou o chefe da missão do Fundo para Angola.

 

Desde setembro de 2014, a moeda nacional angolana desvalorizou-se em mais de 40 por cento face ao dólar norte-americano, para 166 kwanzas por dólar, à taxa oficial, muito longe dos valores do mercado paralelo.

 

A inflação também se ressente e os preços a 12 meses ultrapassaram, segundo o Instituto Nacional de Estatística angolano, 40% de aumento, até outubro.

 

O Banco Nacional de Angola (BNA) vendeu cerca de 900 milhões de euros de divisas aos bancos comerciais em agosto e 930 milhões de euros em julho, valores máximos de 2016. Só em setembro, o banco central angolano vendeu mais de 1.000 milhões de euros em divisas aos bancos, valor que desceu cerca de 890 milhões de euros em todo o mês de outubro.

 

Aos balcões dos bancos ainda persistem as dificuldades no acesso a divisas - devido à crise que afeta o país, decorrente da quebra nas receitas petrolíferas -, levando clientes a optarem pelo mercado de rua, apesar de taxas de câmbio, que ainda são três vezes superiores à oficial.

 

São preços especulativos que, em muitos casos, como para os trabalhadores expatriados, é a única forma de ter acesso a divisas no atual contexto de crise económica, financeira e cambial.

 

O BNA revelou já em julho que está a trabalhar com os bancos comerciais numa «melhor programação na venda de divisas» para «repor de forma gradual, programada, organizada e prudente» as necessidades de todos os setores da economia.