Luanda  - Portugal é, sem sombra de dúvidas, o país que menos moral teria para falar e comentar a respeito de situações vividas em Angola e pelos angolanos. É verdade que existem problemas em Angola que já deveriam estar ultrapassados a considerar o tempo de paz que o país experimenta. Mas, a realidade angolana demonstra serem os problemas que herdou do tempo da colonização, muito piores do que se pode imagina.
 
Fonte: Club-k.net
 
Eu sou um crítico à forma de governação despótica que Angola que nalguns períodos da nossa história se conheceu, e contra todos os resquícios de ditadura que ainda se enfrenta. Sou totalmente contrário à corrupção massiva com que a maioria dos membros do partido no poder se acostumou a governar Angola. Sou contrário ao enriquecimento fácil e desproporcional dos filhos do presidente angolano, amigos, familiares e generais. Sou contrário à pobreza que o povo experimenta, e contrário ainda mais à má qualidade de educação, de saúde e de vida que todo o país experimenta.
 
 
Os números de pobreza apontados nesta reportagem podem conter indicadores reais, pois temos, de fato, sinais de que o país está doente, que se vive mal, que não temos qualidade de vida.
 
 
Mas qualquer reportagem feita por Portugal a respeito de Angola traz-me à memória grandes questionamentos, e não os posso deixar de fazer agora:
 
 
1.Não foram os portugueses que escravizaram os angolanos por 500 anos?
 
2. Não foram os portugueses que oficialmente apenas excluíram os trabalhos forçados dos angolanos em 1962?
 
3.Não foi para Portugal, Brasil, Espanha, Inglaterra, Estados Unidos da América, e demais países, que mais de 5 milhões de filhos e filhas angolanos foram levados à força para trabalharem nas plantações de cana de açúcar, abertura e construção de estradas, pontes, barragens, e nunca mais regressaram ao país?
 
 
4.   Não foram os navios negreiros dos europeus que transportam e assassinara milhares e milhares de angolanos que hoje deveriam contribuir, por meios de seus descendentes, para o grande avanço e desenvolvimento de Angola?
 
5.   Não são os portugueses os culpados de 150 milhões de mortos africanos, dentre eles várias centenas de milhões de angolanos?
 
 
6.   Não são os portugueses os mestres da arte da corrupção transmitida com maestria aos sipaios angolanos, cujo legado se espalhou como cancro em toda a sociedade angolana?
 
 
Portugal, da mesma forma que se apresenta como paladino da verdade, deveria apresentar aos angolanos jovens e ao mundo em geral, como o promotor principal da miséria de Angola, porque foi Portugal o país que assaltou Angola como nenhum outro na história da humanidade fez.
Repito, tenho as minhas diferenças em relação à forma como as coisas são dirigidas pelos meus irmãos que hoje governam o país, principalmente quando abordamos aspectos relacionados à democracia, saúde e economia. Mas devo asseverar que a única coisa que sinto quando olho para a Angola que temos hoje, é um profundo sentimento de revolta contra Portugal.
 
 
Angola, diga-se ao abono da verdade, apesar de ter experimentado 12 anos de paz, 40 de independência vividos também em uma guerra fraticida com a participação de Portugal, é um país que teve todo o seu tecido psíquico, emocional, físico e intelectual, amputado, destruído, anulado e atrasado de propósito, pelos próprios portugueses, que ao longo da história da colonização, jamais esteve interessado no desenvolvimento de Angola nem dos angolanos. Portugal manteve Angola como colônia para a explorar, e os brancos portugueses, de maneira geral, jamais tiveram interesse em que os negros africanos da província ultramarina de Angola fossem desenvolvidos.
 
 
Mostrem a miséria de Angola, mas digam ao mundo todo que a culpa deste mal que enferma o país foram os 500 anos, não foram 50 anos nem 100 dias. Foram 500 anos, 5 séculos, foram centenas de anos a destruírem, a transportarem em vossos navios milhares e milhares de riquezas naturais angolanas para os vossos países.
 
 
Eu lanço um apelo à juventude angolana hoje, no sentido de não se deixar corromper por forças ocultas que a partir de Portugal trabalham para instigar o ódio entre os angolanos. Somos uma nação muito jovem para sermos comparados à outras que têm 200 anos de independência e mais 400 anos de história como povo organizado.
 
 
Quando viajamos à Portugal, Brasil ou Estados Unidos invejamos as infraestruturas daqueles países, à qualidade de vida, da educação, da saúde, os lindos prédios e monumentos históricos. Mas nunca se esqueçam que por trás daqueles monumentos estão ossos de milhares de angolanos forçados a trabalhar como escravos nas suas construções. Não olvidem- se de entender que por baixo das estradas e viadutos está sangue de escravos. Não enganem-se, porque a riqueza que tem Portugal e a maioria da Europa é pilhagem vinda de Angola e dos demais países africanos.
 
 
Eu sou angolano, conheço Angola de norte a sul, do Leste ao Este. Mas enoja-me assistir à qualquer reportagem sobre o meu país trazida à luz por antigas potencias escravistas. O imperialismo europeu é o culpado pela miséria que vivemos em Angola, não se deixem iludir.
 
 
Precisamos resolver os nossos problemas de Governação, Educação, Economia, Religião, Saúde e Distribuição de Renda. Mas antes de conseguirmos discutir tudo isso, precisamos ter sabedoria para que os princípios de unidade e civilidade nos catapultem à níveis que sonhamos como nação.
 
 
Estou convencido que o presidente da república de Angola não é, e jamais será, o culpado pela desgraça que Angola vive. Somos nós, os angolanos sem sabedoria, e com muito pouco entendimento, que carregaremos a culpa por sermos um povo alienado. Precisamos de ser um povo unido, necessitamos de lutar e transformar o nosso país sem a ingerência de antigos colonizadores, porque não devemos continuar a permitir que nos conotem como uma sub-raça.
 
 
Se cada angolano fizer a sua parte, trabalhar, pensar, estudar e reivindicar os seus direitos à luz das leis angolanas, desenvolver-se intelectualmente e criar oportunidades de negócios, o país começará a mudar para melhor.
 
 
Eu não concordo com nenhuma forma de ditadura, e oro a Deus que nos conceda um período de real paz, harmonia social, crescimento econômico e desenvolvimento em todos os níveis. Eu espero também que Deus nos conceda bons governantes. Mas eu não desejo, de forma alguma, continuar a assistir Portugal a trazer a tona ao mundo uma Angola que ele mesmo ajudou a Destruir por 500 séculos, e desejar agora que aplaudamos sua audácia mentirosa e caluniosa.
 
 
Angola é dos angolanos. Deixem que sejamos nós os angolanos a resolvermos os nossos problemas.
 
 
Parem de nos expor ao ridículo. Portugal não merece a nossa consideração, e só desperta ódio e sentimentos de revolta e desejos de vingança de quem tem noção do que significaram para o nosso tecido social, econômico, antropológico, social, político, educacional, cultural, os 500 anos de escravidão.
 
 
12 anos de paz não são suficientes para reverter 500 anos de escravidão. Tenham vergonha na cara, e deixem de falar mentiras e meias verdades.
 
 
Ao mundo desejo dizer apenas uma coisa:
 
 
PORTUGAL CONTINUA A SER O MAIOR CULPADO DESSE QUADRO QUE EXPÕE.
 
 
Domingos Amândio Eduardo
 
Pastor do Ministério AMPC Internacional
Empresário Fundador do Grupo GCI LDA
Formado em Teologia, Acadêmico de Direito, Pôs Graduando em Ciência Política e Docência do Ensino Universitário Conferencista Internacional.