Luanda - Hoje há consenso dos analistas e historiadores de como alvor foi um acordo formal e não realista particularmente no que se refere ao entendimento político pacífico entre os seus subscritores: FNLA, MPLA, UNITA, MFA e os Povos de Angola.

Fonte: Club-k.net


41 Anos depois este entendimento está ainda longe de ser efectuado apesar de algumas investidas neste caminho com Bicesse, Lussaka e Luena. Vive-se um longo período de polarização geral entre Angolanos bons e Angolanos maus, entre a guerra e a paz, entre os legítimos e ilegítimos por quanto esses critérios são insuficientes e fracturantes produzindo a cada circunstância do desenvolvimento da história do país um inimigo a abater e o uso da lei da força, a lei do dito superior como elementos agregadores da ordem social que marcaram a construção da consciência colectivas das últimas gerações de Angolanos.


Neste sentido vejo a importância de colocar em evidencia as discussões que visibilize os factos da trajectória dos 41 anos da independência tendo como referencia um o percurso de socialização dos povos de Angola que priorizou a laço político- ideológico em detrimento do laço social, histórico e cultural.


O propósito deste tema é o de promover uma reflexão sobre Angola que temos (Angola real). Os Angolanos precisam de coragem e discernimento no identificar os seus desafios, não vale apenas subestimar ou ludibriar os constrangimentos referentes ao relacionamento inter-étnico, racial e regional.


Na era do determinismo político as sociedades são reflexo das suas instituições sociais e políticas portanto a forma como um povo é governado e a forma como se comporta as suas elites governantes determina o comportamento dos seus membros e a das suas sociedades e é em função desta verdade que assistimos infelizmente ainda no país: A descriminação política; as desigualdades sociais; o esvaziamento do papel da família; a aculturação por destruição; e a pobreza.


Os desafios de uma Angola plural são de natureza estrutural e transversal por isso a procura das vias para o seu alcance tem de ser visto na perspectiva abrangente e envolver o que pode se chamar: Inteligência Colectiva através do dialogo social capaz de transformar as adversidades em oportunidades, capaz de indicar os melhores caminhos para uma Angola plural que considere conjuntamente a identidade dos povos e a equidade nos direitos e deveres de cidadania.


Uma Angola plural implica mudança de paradigmas de como os Angolanos se vêem, se abordam e se consideram no plano inter-étnico, racial, inter-regional, e inter-classes isto é: Como é que o povo Tchokue vê, aborda e considera o povo Angolano mestiço ou branco. Como o povo Angolano branco mestiço vê, aborda e considera o povo Nganguela; Como é que o povo Nganguela ve, aborda e considera o povo Kimbundu; Como é que o povo Kimbundu ve, aborda e considera o povo Umbundu; Como o povo Umbundu ve, aborda e considera o povo Bacongo; como é que o povo Bacongo ve, aborda e considera o povo Angolano descendente de Caboverdiano, Santomense, Madeirense e Afro-brasileiro; Como é que o povo Angolano descendente de Caboverdiano, Santomense, Madeirense e Afro-brasileiro ve, aborda e considera o povo Kwanhama; Como é que o povo Kwanhama ve, aborda e considera o povo Imbinda etc.


Um bom relacionamento positivo entre os povos de Angola constituir-se há num grande marco no caminho da reconstrução nacional. Deve residir nos povos de Angola a vontade de viverem juntos sem subalternizações, adjectivações, negativismos, ódios e recalcamentos com base no diálogo social permanente, nos princípios e valores partilhados na procura de convivências, na consolidação do processo civilizacional democrático colectivo, na definição do almejado conceito de Nação pois ela não é natural mas sim resultante de um contrato e de uma associação voluntária de seus Povos unidos em torno de um interesse comum a concórdia numa Angola plural.


A co-habitação e a inter-dependência dos Povos de Angola mesmo na diferença são condições indispensáveis para se definir a sociabilidade do Homem Angolano.


CHIPINDO BONGA