Luanda - Polícia efectuou detenções e disparos para dispersar instruendos que protestavam contra o cancelamento do curso de bombeiros voluntários.

Fonte: O País
Ao todo, são 3.750 jovens que há mais de sete meses vêm frequentando o primeiro curso de bombeiros voluntários nas instalações da Escola Tecnológica de Angola, localizada no bairro da Sanzala, município de Viana, em Luanda. No entanto, na Sexta-feira, os instruendos referem que foram surpreendidos com a presença do director da Escola Nacional de Bombeiros, Valetim Xavier, que exigia a retirada imediata de todos os formandos, alegando que o dono do imóvel precisava do espaço com urgência.

Sem alternativas e inconformados com a medida, os alunos e os instrutores decidiram manter-se no local, tendo em conta que o processo de formação continua em curso, devendo terminar no dia 30 de Novembro. Porém, ontem, por volta das 9 horas, enquanto decorriam os treinos, os alunos afirmaram terem sido confrontados com um aparato policial que orientava, entre ameaças, o abandono do imóvel. A situação gerou uma enorme confusão que resultou em fortes protestos defronte a Escola Nacional de Bombeiros.

Durante a manifestação, os aspirantes a bombeiros bloquearam parcialmente a estrada de Catete, impedido assim a circulação de viaturas e de outros transeuntes durante cerca de meia hora. Em resposta, a polícia efectuou disparos de arma de fogo, para o ar, para dispersar os manifestantes que exigiam a continuidade da formação. Na ocasião, dois alunos foram detidos e postos em liberdade apenas no final do dia.

De acordo com os protestantes, durante o tempo em que estão em formação, todas as despesas como a alimentação, a água e outros meios têm sido custeados por si próprios. Muitos abdicaram dos estudos e de outros afazeres diários para se dedicarem à formação. Com efeito, face a suspensão do curso, os alunos, desesperados, dizem verem anuladas as perspectivas de entrarem para os quadros do Serviço Nacional de Protecção Civil e Bombeiros.

“Quando fomos recrutados nos foi dito que não havíamos de ter salário. Que devíamos fazer apenas a formação e os melhores alunos deviam ser seleccionados para entrarem nos Bombeiros tão logo houvesse disponibilidade de vagas. Com a paralisação do curso toda a esperança caiu por terra. E quem nos vai pagar pelo tempo perdido?”, questionou o instruendo Zambá Lourenço.

Por seu lado, Genoveva dos Santos, outra instruenda, disse não entender a atitude das autoridades em cancelar o curso numa altura em que faltam menos de dez dias para o seu término.

“Conforme nos estão a tratar parece que somos marginais, quando na verdade estamos aqui porque fomos recrutados pelos Serviços de Bombeiros. O curso foi aberto inclusivamente no quartel principal. Não podem encerrar assim as aulas. Do nada. Falta pouco tempo para terminarmos o curso. Não entendo a atitude dos nossos dirigentes”, repudiou.

Insensibilidade

Para Rosário do Amaral, o cancelamento do primeiro curso de bombeiros voluntários, além de ser uma atitude negativa, demonstra a insensibilidade das autoridades e uma falta de consideração pelos futuros bombeiros. Segundo disse, apesar de estarem em formação, os mais de três mil instruendos são regularmente chamados para acudir situações de calamidades sociais sem qualquer recompensa financeira.

“Temos dois treinos diarios. Mas, ainda assim, somos várias vezes chamados para acudir e intervir em determinadas áreas quando chove ou quando há alguma situação de sinistralidade e de emergência. Por exemplo, na altura da crise da febre-amarela, fomos nós que andámos de um lado para outro carregando pessoas. E tudo a custo zero. Agora, depois de nos usarem estão a nos abandonar. Não é justo”, lamentou.

Dias agitados

Justiça é o que os alunos pedem das autoridades competentes, de forma a concluírem o curso e receberem o certificado. No entanto, caso se continue com a ideia de cancelá-lo, os instruendos garantem que vão agitar as ruas de Luanda com manifestações até que se reponha a legalidade. “A Polícia, como sempre, bate nas pessoas erradas. Mas isso não nos vai intimidar. Vamos sair à rua todos os dias até que nos deixem terminar o curso com o devido certificado. Não podemos perder o nosso tempo assim do nada. Aqui há chefes de família que largaram tudo para se dedicarem a formação. Vamos até às últimas consequência. Os pró próximos dias serão agitados”, atestou Moreira João.

Falha na comunicação

O porta-voz dos Serviços Provinciais de Protecção Civil e Bombeiros, Faustino Minguês, fez saber que não existe nenhuma comunicação oficial que orientasse o cancelamento do curso. O que houve, segundo disse, é uma falha de comunicação que terá causado tumultos sem necessidade.

Todavia, diante da situação, Faustino Minguês avançou que foi já criada uma comissão que está trabalhar, desde o final do dia de ontem, com vista a apurar o que terá acontecido de concreto, prometendo dar mais detalhes da situação ao longo do dia de hoje.