Alemanha - Este tema não só é bastante sugestivo, mas de certo modo, suscita uma reflexão profunda sobre as realidades concretas que têm sido vistas como sendo tabus na convivência humana e na coexistência pacífica entre as Nações modernas, desde o advento da civilização humana, até à época contemporânea – da Globalização.
 
Fonte: Club-k.net
 
Bem entendida, de forma resumida, a Etnia é um conjunto de indivíduos que, podendo pertencer a raças e as Nações diferentes, estão unidos por uma cultura e, particularmente, por uma língua comuns – como seu património e sua herança cultural. Note-se que, o pertencer as Nações (Estados) diferentes, não invalida o elo de ligação existente entre os mesmos indivíduos, da mesma etnia, da mesma cultura, da mesma língua e do mesmo sangue – sob a mesma árvore genealógica.
 
 
Esta realidade sociológica, da “coesão étnica” (ou de nacionalismo étnico), tem sido desvirtuada ou mal-entendida ao longo da civilização humana, no processo gradual da fundação das Nações e da construção de Estados modernos multiétnicos, multiculturais, multilinguísticos e multirraciais. A criação de sociedades cosmopolitas, compostas por diversos povos de diferentes espaços geográficos, veiculados por inúmeros factores da Globalização, tornando o Mundo numa pequena aldeia, fizera com que, o nacionalismo ou o patriotismo perdesse a sua base étnico-cultural.
 
 
Pois, os elementos básicos da etnia, isto é, os valores culturais e linguísticos, como fontes da coesão nacional, entraram no processo gradual e sistemático da aculturação, da assimilação e da alienação cultural. Criando, deste modo, os ditos, «cidadãos do mundo», sujeitos aos factores da Globalização, dominados pelas multinacionais – detentores de grandes capitais financeiros. O poder financeiro das multinacionais sujeita e subordina os poderes políticos de todas Nações do Mundo, incluindo as Organizações multilaterais, como as Nações Unidas, dominadas pelas potências mundiais.
 
 
Só assim que se torna entendível a renascença do nacionalismo étnico que se verifica nos dias de hoje, em todas partes do Mundo. A bordo do avião, de Luanda para Munique, via Lisboa, tive a oportunidade de fazer uma leitura de vários artigos, da Revista, The Economist, com uma caricatura de capa muito interessante, que desejo partilhar com os internautas, deste espaço social. Esta Revista fez o trabalho detalhado de fundo sobre o ressurgimento do «novo nacionalismo étnico», que se verifica em diversos países da Europa, da Asia, da América e da Africa, com destaque: Os Estados Unidos da América, Brasil, Rússia, China, India, Myanmar, Grã-Bretanha, França, Alemanha, Espanha, Turquia, Síria, Iraque, Irão, Egipto, Líbia, Africa do Sul, Cote d’Ivoire, Sudão do Norte, Sudão do Sul, Mali, Somália, Quénia, Republica Centro Africana, Burundi, Ruanda, RDC, Nigéria, Angola, etc.
 
 
O meu espanto reside no facto de que, embora os Estados Unidos da América seja um País (em geral) de imigrantes, em que a comunidade branca (de origem europeia) é composta por 69,1%, com maior poder financeiro e poder politico, a nível nacional e a escala mundial. Mas mesmo assim, esta comunidade, em referência, sente-se insegura no que diz respeito a afirmação dos seus valores étnico-culturais, como sustentáculo do poder politico, económico e financeiro.
 
 
Buscando, desta maneira, o nacionalismo étnico, como forma de afirmar a sua hegemonia política sobre outras comunidades, nomeadamente: a comunidade hispânica (12,5%), vinda da América Latina; a comunidade afro-americana (12,3%), descendente de escravos negros, trazidos da Africa Negra; a comunidade asiática (3.6%), vinda da Asia; e as comunidades indígenas (2,5%), que foram alvos de genocídio, perpetrado por invasores brancos europeus, durante as guerras de ocupação dos territórios americanos.
 
 
Este fenómeno, do nacionalismo étnico, se regista igualmente na Rússia (etnia Eslavo- russo) e na China (etnia Han-chinesa), que buscam a afirmação da sua supremacia cultural, linguística, politico e económica sobre outros grupos étnicos, dentro e fora das suas esferas de influências. Acontece que, os factores da globalização do Mundo capitalista, já têm enormes impactos sociais, económicos e culturais nas duas potências asiáticas acima mencionadas. Desmoronando gradualmente os pilares básicos dos poderes políticos, com estruturas bem centralizadas – de cima para baixo.
 
 
A Turquia, o antigo Império Otomano, da cultura muçulmana-árabe, que ocupava um território de 5.000.000km2, tem estado aproximar a União Europeia, dominada pela Alemanha, França e Grã-Bretanha, com fim de se integrar no sistema capitalista, assente nos valores Cristãos, como motor da civilização ocidental. Só que, o contraste entre a cultura muçulmana-árabe e o cristianismo-europeu é bastante enorme e quase irreconciliável. Tem havido reticências reciprocas entre os Europeus e os Turcos, com aspirações políticas, culturais e religiosas contraditórias.
 
 
Internamente a Turquia enfrenta resistências fortes das minorias Curdos-Arménios, que foram alvos de genocídio na Primeira Guerra Mundial por Império Otomano. Além disso, o posicionamento da Turquia no Médio Oriente é visto com desconfiança por seus vizinhos que eram oprimidos durante o Expansionismo Turco-Otomano. Interessa notar que, os conflitos armados no Médio Oriente e no Norte da Africa desencadearam o êxodo migratório intenso, com destino à Europa Ocidental. Agravando, assim, as relações multilaterais entre os Europeus e os Árabes Muçulmanos.
 
 
O Reino Unido foi a maior potência colonial europeia, com territórios vastos em Africa, na Asia e na América do Norte. A sua influência politica, económica e cultural era enorme a nível mundial. Desempenhado o papel primordial nas duas guerras mundiais em que Alemanha foi decisivamente derrotada. Todavia, com o andar do tempo, pós- guerra mundial II, com a independência das colônias, o Reino Unido tem estado em declínio gradual. Ofuscando-se pela ascensão económica e tecnológica da Alemanha, que se afirma hoje, dentro da União Europeia, como Líder do Velho Continente. Alinhando-se com a França, criando um «Eixo-Central» de influência junto da União Europeia, manipulado pela Alemanha.
 
A imigração árabe e africana à Europa tem estado agravar a situação, já bastante complexa, servindo-se de pretexto da retirada do Reino Unido da União Europeia (BREXIT), cujas repercussões são evidentes em toda Europa. Havendo o risco da Escócia desmembrar-se do Reino Unido, preferindo manter-se dentro da União Europeia. Na verdade, olhando bem para a paisagem sociocultural da Europa Central, torna-se evidente a expansão da cultura muçulmana, capaz de alterar o quadro étnico- cultural da Europa nos próximos três décadas. O processo da integração social (choque de culturas) na Europa Ocidental poderá resultar-se na «sujeição cultural» do Cristianismo ao Islamismo; ou na «ruptura social» entre o Islamismo-Árabe e o Cristianismo-Europeu.
 
 
Em síntese, o ímpeto da Globalização do Mundo está em abrandamento. A baixa do preço do petróleo enfraquecera de forma dramática o domínio dos detentores dos grandes capitais financeiros sobre os poderes políticos e as organizações multilaterais. O nacionalismo cosmopolita, assente na cidadania mundial enfrenta enormes desafios na arena internacional. Ao passo que, o nacionalismo étnico está em plena ascensão. Os valores do capitalismo ocidental, assente no sufrágio universal, na liberdade, na igualdade, na cidadania e na justiça social, têm estado a perder o terreno.
 
 
As Nações Unidas, a Sede do Multilateralismo, tem sido difícil a manutenção do «equilíbrio geopolítico» entre as Nações, os Estados e os Continentes. Perdendo gradualmente a sua legitimidade e credibilidade diante os Povos do Mundo. Por outro lado, cresce vertiginosamente os conflitos políticos, culturais, religiosos e interétnicos. Estando o Mundo em via de transformações profundas, em busca da nova ordem mundial e de novos sistemas políticos. Contudo, a incerteza é maior, e não se sabe, com exactidão, as consequências do surgimento do novo nacionalismo étnico, que se alastra pelo Mundo inteiro.
 
 
Não obstante, a verdade é esta, a revolução social contra os detentores de grandes capitais, já está em marcha. Sendo, as correntes políticas, da extrema-direita e da extrema-esquerda, a conquistar espaços significativos do centro-direita e do centro- esquerda, respectivamente. Nesta referência, da época contemporânea, das grandes transformações que ocorrem no Mundo, a «Etnia Bantu», que representa a maior parte dos Povos da Africa Subsaariana tem os grandes desafios de defender, salvaguardar, preservar, promover e projectar as suas línguas e os seus valores culturais, com vista a renascer o esplendor da NEGRITUDE, que defende a identidade cultural das comunidades negras, de origens negras, de sangue negro e de mistura com sangue negro – espalhadas pelo Mundo inteiro.
 
 
Este Conceito, da NEGRITUDE, não constitui tabu nenhum, mas sim, se trata de uma realidade material – incontornável – capaz de buscar o poder politico, económico e financeiro; revestir-se da autoridade e da dignidade étnica; valorizar a raça negra; e conquistar a cidadania real e verdadeira – sustentável, respeitável e soberana.
 
 
Munique, 29 de Novembro de 2016