Lisboa - O terreno do Kanhangulo, em Angola, que terá servido de meio para a circulação de oito milhões de euros entre Hélder Bataglia e Carlos Santos Silva – e cujo beneficiário terá sido José Sócrates – foi efetivamente vendido ao antigo BES Angola (BESA). O negócio foi feito por mais de metade do preço fixado no contrato- -promessa de compra e venda entre Angola Investments – do Grupo Lena – e Eninvest Investments – na esfera do antigo presidente da ESCOM, em 2010.


Fonte: CM

Segundo apurou o CM, os dados recolhidos pela investigação indiciam que o contrato- -promessa para a venda do Kanhangulo, por 35 milhões de euros, à empresa de Bataglia, terá sido elaborado de forma fictícia para justificar a transferência dos oito milhões de euros. O contrato reporta à data de dezembro de 2010 mas terá sido feito posteriormente, acreditam os investigadores.


A sustentar esta interpretação está o facto de terem sido apreendidos emails entre o Grupo Lena e pessoas relacionadas com o BESA, que comprovam que a única operação real em torno do terreno do Kanhangulo foi a negociação decorrida entre esse banco e a construtora. As negociações entre o BESA e o Grupo Lena terão, aliás, começado entre 2009 e 2010 – o mesmo período do contrato entre a Angola Investments e a Eninvest – e a assinatura da escritura foi concluída em 2012.


Os montantes da venda também demonstram que o preço supostamente acordado entre a empresa Angola Investments e a Eninvest estava muito acima da avaliação de mercado do terreno. Os emails apreendidos mostram que o BESA avaliou o Kanhangulo em cerca de 13 milhões de euros – menos de metade dos 30 milhões acordados no contrato alegadamente simulado.


Henrique Resina, antigo consultor do BES Angola – à época presidido por Álvaro Sobrinho – foi alvo de buscas no âmbito da Operação Marquês. Resina foi um dos elementos que negociaram com o Grupo Lena a efetiva venda do terreno do Kanhangulo, em 2012. Ele é também englobado em muitas das conversas por email que foram apreendidas na investigação e que relatam a negociação real da alienação do terreno, tendo servido de intermediário entre funcionários da construtora de Leiria e o BESA.