Luanda - O ativista angolano Rafael Marques defendeu hoje que "qualquer mudança política em Angola tem de passar por uma transição" envolvendo as forças políticas e cívicas, e considerou que o MPLA "quer ver o Presidente pelas costas".

Fonte: Lusa

"Qualquer mudança política em Angola tem de passar por uma transição bem estruturada entre todas as forças políticas e cívicas do país. O MPLA, por si só, não está capaz de mudar Angola porque são os mesmos dirigentes corruptos, que estão todos envolvidos nos crimes", disse à Lusa o jornalista angolano.


Hoje, segundo a rádio pública angolana, o chefe de Estado e presidente do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), José Eduardo dos Santos, indicou o vice-presidente do partido e atual ministro da Defesa, João Lourenço, como o candidato do partido a Presidente da República nas eleições de 2017.


"Começa a tornar-se insustentável a manutenção de José Eduardo dos Santos no poder durante muito mais tempo. A nomeação de Isabel dos Santos [filha do Presidente] para a Sonangol acaba por ser o maior erro político", considerou Rafael Marques, acrescentando que "a crise e a falta de dinheiro estão a levar a família presidencial a concentrar cada vez mais os benefícios, ao invés de dividir com os outros corruptos do MPLA".


Rafael Marques, que falava à Lusa por telefone a partir de Angola, afirmou que "aparentemente, o anúncio [da sucessão de José Eduardo dos Santos] ia ser feito apenas a 10 de dezembro, e os próprios membros do MPLA já estão a divulgar a informação, precisamente para que o Presidente não volte atrás".


"O MPLA também já quer ver o Presidente pelas costas", defendeu.


"É necessário que o putativo sucessor de José Eduardo dos Santos no MPLA tenha essa ideia de lutar por uma transição e [nesse caso,] penso que o MPLA poderá renovar-se. Se for mais do mesmo, vamos às eleições com batota, vamos ganhar, numa crise destas, só complicará ainda mais a situação do país", sustentou.


De outra forma, alertou, "João Lourenço, Bornito de Sousa ou outros nomes que possam ser aventados é apenas para dar continuidade a um estado de podridão que certamente não interessará aos angolanos".


"Numa fase crítica como esta", continuou, "o anúncio de saída do Presidente vai moralizar muitos setores da sociedade e do MPLA, que vão pensar que esta é uma oportunidade de levantar muitas questões".


Rafael Marques notou que João Lourenço "já deu sinais de que é um indivíduo com quem se pode conversar", mas defendeu a necessidade de "um sinal claro".


O ativista disse que "é preciso manter um pé atrás até ver a lista do MPLA que será anunciada".


Para o número dois da lista do MPLA às eleições gerais de 2017, e candidato a vice-presidente, foi indicado e aprovado na reunião do Comité Central do partido, que se realizou hoje em Luanda, o nome do atual ministro da Administração do Território, Bornito de Sousa.

 

“Muda a cara fica o regime”


Rafael Marques não se congratula com a formalização do nome de João Lourenço para candidato presidencial do MPLA às eleições de 2017, em Angola.


“Neste momento qualquer cidadão está em condições de substituir o presidente José Eduardo dos Santos”, afirmou, em entrevista à SIC Notícias. “O presidente sai e o regime fica”, enfatizou.


Para o ativista, os angolanos não querem só “uma mudança de caras”, face a um partido que está há 41 anos no poder. “O presidente não é o único mau da fita. Estamos aqui a falar de um regime, que vai permanecer. Os angolanos querem mudanças efetivas e que o poder seja devolvido às instituições do Estado”, afirmou.