Luanda  - Na chamada era de Informação em que estamos, o relacionamento que os partidos políticos e políticos têm com o poder bem como sua manutenção exigem em muitos casos, acções mais rigorosas e concretas.

 
Fonte: Club-k.net
 
O fim último de um partido político é a obtenção do poder e com ele, realizar o desejo do soberano (o povo), ou de atingir o seu objectivo. Acontece assim em todos os regimes políticos do mundo desde que o conceito de partido político nasceu, cresceu e se desenvolveu até os dias actuais com todas as transformações que tem sofrido; porquanto, cada sociedade é uma realidade concreta apesar de ter similitudes com outras.
 
 
Podemos tomar como exemplo, a democracia, que nasceu na Grécia e se expandiu para o mundo inteiro fruto da política expacionista de muitos países europeus e outros que obrigou muitas culturas políticas a se esbarrarem nela.
 
Por conta disso, criou novos paradígmas e dada a sua abertura, facilmente os povos de muitas partes se adaptaram a ela apesar de que, em muitas paragens (como é o caso de África), não havia opção de escolha. Com ela, as estruturas reais africanas de modo particular, se desmoronaram, o continente ficou dividido e tornou-se dependente do intento do mais forte de então (o colonizador), tendo continuando nesse formato até às independências e os dias atuais. Adoptaram as Repúblicas com o sistema democrático dentro como o novo modo de vida.
 
No entanto, os estudiosos políticos e jurídicos têm ainda um grande caminho a trilhar pelo menos do ponto de vista da Antropologia Política. A verdade porém, é que, como consequência de dividir reinos a força e impor-lhes um modo de vida política diferente, o continente tornou-se dependente e vulnerável em tudo; as instituições antigas foram banidas e as novas não funcionam e se por acidente funcionarem, é apenas para subjugar o povo tornando-o cada vez mais pobre em tudo; a identidade africana foi trocada com a europeia, asiática e americana graças ao colonialismo no passado e o neocolonialismo na actualidade.
 
 
A consequência vivida actualmente, derivou principalmente da divisão feita na Conferência de Berlim na Alemanha (1884-1885), pelos antigos colonos. O Resultado é o seguinte: os políticos africanos continuam a se comportar como verdadeiros reis, o cidadão africano até o mais democrático, vê a figura de um presidente com alta estima que questioná-lo torna-se uma ousadia ou uma ofensa a sua honra pelo que, os seus bajuladores perfilam para amordaçar o ousado.
 
 
Entretanto, os presidentes detêm o poder absoluto, permanecem no poder o tempo que julgam necessário; dez, vinte, trinta anos e há quem já chegou aos quarenta anos de poder, a dominar o mesmo povo; outros preferem morrer no poder. A maioria depois de um, quer um segundo mandato. Se terminar e a constituição não lhe permitir, manipula o povo, faz fráude e se assim não for possível, altera a própria Constituição; noutros casos, os presidentes são sucedidos pelos seus filhos ou pessoas próximas.
 
 
Mas o trabalho difícil e até ridículo as vezes, é dos que se colocam na posição de bajuladores que têm a árdua missão de construir um presidente deus, infalível e que a estabilidade do país depende apenas dele. Dito de outra forma, sem ele o país se torna instavel. Infelizmente os infelizes terminam sempre mal porque já vimos presidentes a saírem do poder forçados ou não mas o País continua na normalidade.
 
 
Face a isso, se torma imperioso colocar algumas indagações: a democracia serve para a África? Por que razão os líderes africanos têm tendência de se manter no poder por muito tempo? E porque alteram as constituições?
 
 
Exemplos não faltam e podemos citar o caso de Angola, República Democrática do Congo e Ruanda, só para ficarmos no início de uma de uma longa fila.
 
 
Esta realidade nua e crua, tem sido ignorada por muitos intelectuais africanos (Politólogos, Juristas, Antropólogos, Sociólogos filósofos etc), por se sentirem incapazes de criar outro sistema político que se adapta à realidade concreta. De um lado porque são frutos da educação ocidental e do outro por estarem amarrados a compromissos históricos com os anteriores colonos, aliás a maioria dos partidos políticos no continente berço tem acordos secretos com antigos patrões que, em muitos casos, lhes transferiu o poder.
 
 
No caso de Angola, a cada pleito eleitoral os partidos são chamados a fazerem prova da sua existência e demonstração de força o que pressupõe um teste duro pois implica passar em revista todo um imbróglio de situações tanto endógenos quanto exógenos.
 
 
Acrescido à tal desafio, está a realização dos compromissos antes de um pleito eleitoral a cada cinco anos, como define a Constituição da República de Angola.
 
 
O momento actual em que o país atravessa, uma crise económica e financeira acentuada, os Partidos Políticos, vêm - se em derrapagem financeira das suas contas e até mesmo os que têm representação parlamentar, que por força da Lei, recebem alguma cabimentação que vem da dotação orçamental, dado o contexto hodierno que é cinzento, enfrentam as mesmas dificuldades que aqueles sem representação.
 
 
A maioria dos partidos sobrevivem das quotas dos militantes, estes já pobres e também afectados pela crise, fazem o que podem facto que dificulta ainda mais a sobrevivência de ambos uma vez que aumenta o grau de descontentamento.
 
 
A isso também, esta acrescida a má gestão de alguns dirigentes e a má estruturação da organização; pois, partidos há em que o Vice-presidente é o primo do Presidente, a Secretária é a filha do Presidente, a Tesoureira é a esposa do Presidente por ai a diante. E para agudizar ainda mais a situação, a sede nacional é em casa do Presidente isso para quem tem; outros ainda, desconhecidos pelo povo que afirmam representar e defender, não vão a imprensa , pois, nem um escritório têm.
 
 
Isto em parte resulta do liberalismo político que se verifica nos últimos tempos em que os políticos não precisam ter sequer uma pequena preparação política. Todos pensam que entendem de política. Basta ler um manualzinho já se sente um iluminado político a exemplo do que acontece na religião onde um indivíduo basta ler alguns capítulos se considera profeta e até escolhido por Deus para pastar um rebanho de distraídos e dementes.
 
 
Desde o fim da guerra em 2002, esperava-se mais dos partidos políticos no que diz respeito ao dinamismo e exercício político e ainda, era espectante que surgissem novas forças políticas com visão centrada mais para o cidadão do que para os seus bolsos.
 
 
Não foi possível, de um lado, fruto do contexto histórico de conflito a que estava confinado o País. Durante o período de luta pelas independências segundo muitos autores de história, a mentalidade era a mesma em todos os lugares onde estavam os angolanos daí que uma das principais forma de participar na luta era fazer parte de um dos movimentos criados na altura.
 
 
O quadro mudou com a guerra de interesses que se seguiu logo após o dia 11 de Novembro de 1975, com a criação da República Popular de Angola.
 
 
Daí para diante, e fruto de antagonismos criados, os angolanos estavam juntos apenas fisicamente no mesmo território mas mentalmente estavam completamente separados o que levou a que se odiassem mutuamente aponto de que, se um angolano vísse outro angolano que não era do seu partido, catalogava-o de inimigo e lhe tornava num alvo a abater.
 
 
Para ter uma ideia disso, um mais velho neste trabalho que levamos acabo de escrever sobre a história recente de Angola, confidenciou-me o seguinte  ́ ́nós do MPLA naquele tempo fomos ensinados que em termos de comparação do perigo, se encontrares a UNITA e a cobra, mata a UNITA e deixa a cobra ́ ́. Só para termos uma ideia do que pairava nas mentes de muitos cidadãos e o ódio que sentiam e ainda sentem em alguns casos um pelo outro.
 
 
Essa mentalidade, com características dos conselhos de Maquial (a velha máxima de dividir para melhor reinar), tornou os angolanos divididos até os dias de hoje e trouxe outros paradígmas que devem ser banidos pela Reconciliação Nacional.
 
 
A partir de determinada altura, em Angola ou se é do MPLA ou se é da FNLA ou da UNITA; mais tarde ou é do MPLA ou da UNITA, ou é do D ́agosto ou do Petro, ou é Católico ou Protestante até altura em que começaram a surgir outras forças como é o caso do PRS, PDP-ANA, PLD e outros nos anos 90 e a CASA-CE em em 2012.
 
 
Esta mentalidade, tornou-os ainda mais separados e criou aquela máxima judaica  ́ ́que não é por nós é contra nós ́ ́ dai a expressão frequente nas lides partidárias ́ ́Esse não é nosso  ́ ́ quando se trata de alguém que não faz parte de um determinado partido.
 
As consequências foram além, porquanto, este facto afectou até os grupos ectino-linguistiticos conforme a origem e a composição directiva dos partidos. Os Ovimbundu foram catalogados como UNITA pelo facto de o Fundador deste partido Jonas Malhieiro Savimbi ser um otchimbundu, os Bakongo como FNLA, também pelo facto de o seu fundador Álvaro Holden Roberto ser deste grupo étnico, de igual modo, os Ambundu eram conotados como sendo do MPLA por Agostinho Neto, seu primeiro Presidente ser integrante deste grupo etnoliguistico e ter no seu seio a maioria dos membros de direcção, o mesmo que noutros partidos.
 
De igual modo os Tchokwe (Lundas Norte e Sul e Moxico) eram considerados do PRS pelo facto de os fundadores deste partido serem desta região tão estratégica para o país.
 
 
Esses antagonismos prevalecem hoje ainda que em menor escala, mas, nos tempos idos custava muito caro a todos aqueles que o único crime cometido era nascer numa determinada localidade do País.
 
 
Hojé é necessário por fim a este tipo de discriminação mas com a acção coordenada de academias para a moldar a mentalidade da sociedade mais para a vertente de reconciliação e a boa convivência entre cidadãos. É também urgente tirar da mente dos políticos do nosso tempo a ideias de partidos de massas de modo que percebam equanto cedo, que a actual lógica de que só se faz política nos partidos esta errada e ultrapassada.
 
 
Os cidadãos precisam ter um terceira via de participação política, a de ser apartidários utilizando outros requisitos como a meritocracia, a competência e a excelência e não a militância.
 
 
Mas isso não será possível com instituições de ensino superior partidarizados e com a filosofia de mandar as crianças às escolas para amanhã ser alguém, ter boa casa, bom carro, emprego fixo ou seguro (no estado), formar família etc.
 
 
De modo mais sintético, não podemos ensinar o conceito do ter, mas sim o ser. Isto, para evitar a desgraça em que estamos hoje caídos que o país terá licenciados todos os anos não os emprega, ou porque não fazem parte do partido que governa ou porque não acredita neles e o resultado é: dinheiro do Orçamento Geral do Estado gasto em vão e o tempo perdido,
 
 
Precisamos de um país em que as universidades são realmente o berço da sabedoria e o local por excelência de se praticar ciência e encontrar solução de muitos problemas.