Luanda - Angola importa mensalmente 160 milhões de euros em combustíveis refinados, fornecimento que está a ser dificultado pela falta de divisas, atrasando pagamentos por parte da concessionária estatal Sonangol.

Fonte: Lusa

Os dados constam de uma informação da própria Sociedade Nacional de Combustíveis de Angola (Sonangol), que reconhece a "limitada" produção nacional de combustíveis refinados, que ronda apenas 20% do consumo total.


De acordo com a petrolífera estatal, todos os meses a empresa está a importar, em média, 170 milhões de dólares (160 milhões de euros) em produtos refinados, custos que "cresceram ao longo de 2016".

 

Além disso, recorda a empresa liderada por Isabel dos Santos, os custos incorridos são em dólares norte-americanos (compra no exterior) e as vendas realizadas em kwanzas no país, num cenário de crise financeira, económica e cambial que Angola atravessa.

 

"O acesso a divisas nesta conjuntura tem sido muito desafiante para a Sonangol, que tem tido dificuldades para realizar os pagamentos aos seus fornecedores no exterior. Esta situação é agravada por existirem dívidas acumuladas referentes à totalidade de 2015 e ao primeiro semestre de 2016", reconhece a petrolífera estatal.

 

Angola é o segundo maior produtor de petróleo em África, com cerca de 1,7 milhões de barris de crude por dia, mas a atividade de refinação está concentrada na refinaria de Luanda.

 

Construída em 1955, aquela refinaria tem uma capacidade atual para tratar 65.000 barris de petróleo por dia, operando a cerca de 70% da sua capacidade e com custos de produção superior à gasolina e gasóleo importados, segundo um relatório sobre os subsídios do Estado angolano ao preço dos combustíveis, elaborado pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) em 2014.

 

Para garantir o aumento da capacidade de refinação interna está em curso o projeto de construção da refinaria do Lobito, com capacidade para processar 200.000 barris de petróleo por dia e cuja conclusão chegou a estar prevista para 2018.

 

Contudo, devido ao processo de reestruturação financeira, provocada pela quebra nas receitas com a exportação de petróleo e uma dívida superior a 9.800 milhões de dólares (9.200 milhões de euros), a Sonangol decidiu reavaliar todos os investimentos e projetos, nomeadamente o da refinaria do Lobito, que está agora suspenso para "reavaliação da visão estratégica e da viabilidade económica".

 

Angola comprou mais de 6,241 milhões de toneladas de produtos refinados em 2015, mas a reduzida capacidade de refinação nacional obrigou a concessionária estatal Sonangol a importar cerca de 80% desse total, noticiou anteriormente a Lusa, com base no relatório e contas da petrolífera.

 

O consumo de combustíveis por Angola caiu 5% em 2015, na mesma proporção da importação de produtos refinados, essencialmente gasolina e gasóleo, face a 2014.

 

Contudo, os dados da Sonangol referem que o país comercializou diretamente no mercado interno 4,864 milhões de toneladas de produtos refinados, enquanto 1,3 milhões de toneladas foram vendidas ao mercado externo.

 

Para este volume de necessidades, a refinaria de Luanda apenas produziu 1,134 milhões de toneladas de combustíveis, ainda assim um aumento de 11%, tendo em conta a produção de 2014.

 

O Governo angolano deixou de comparticipar o gasóleo desde 01 de janeiro de 2016, passando ao regime de preço livre, tal como acontecia desde abril de 2015 com a gasolina.

 

A decisão foi divulgada a 31 de dezembro de 2015 pelo Ministério das Finanças de Angola, em comunicado sobre o ajuste no gasóleo, produto que passa a "pertencer ao regime de preços livres, cessando assim a obrigação do Estado com a subvenção de preços".

 

O Governo justificou a decisão com a conjuntura internacional, devido à quebra na cotação internacional do barril de crude.