Luanda - O Presidente da República orientou ontem celeridade na construção de casas para realojar a população que habita a área abrangida pelo projecto de requalificação da Boavista e da zona do antigo mercado do Roque Santeiro, no Sambizanga, para permitir a conclusão das obras de infra-estruturas e passar-se à fase de loteamento.

Fonte: JA

Na visita ontem ao distrito urbano do Sambizanga e da Boavista para constatar a execução das obras de requalificação em curso, cinco meses depois de lá ter estado, José Eduardo dos Santos lembrou a necessidade de passar-se à fase de urbanização. Nos locais foram desenhados projectos de desenvolvimento urbano. O loteamento vai dinamizar a construção de projectos habitacionais e estruturas económicas e sociais, incluindo a nova embaixada da China, que está projectada para a zona do antigo Roque Santeiro, e o futuro jardim botânico. Nas encostas da Boavista, por exemplo, vão nascer áreas comerciais, escritórios e áreas de lazer.


Desta vez, o Presidente da República e do MPLA constatou a evolução das obras de desenvolvimento urbano, a protecção das encostas, a construção de um sistema viário integrado pelas avenidas Kima Kienda (Boavista) e Lueji Anconda ( que passa pelo antigo Roque Santeiro) e o viaduto junto da Administração do Sambizanga, além de inteirar-se do realojamento das populações, através da construção de mais de quatro mil fogos.


Na reunião com os ministros titulares dos departamentos ministeriais intervenientes na requalificação do distrito, o Presidente da República pediu maior articulação entre as demais instituições que constituem parte do processo e também um programa integrado que englobe todos os projectos existentes.


O ministro da Construção, Artur Fortunato, revelou que há uma necessidade de nove mil casas para as famílias a desalojar nas áreas do antigo Roque Santeiro e nas encostas da Boavista. A empresa chinesa que está a trabalhar na construção das infra-estruturas garantiu ao Presidente da República que tem em carteira a construção de um total de três mil casas, das quais 500 são entregues já no fim deste mês. Tão logo esteja concluída a construção das três mil casas, cujo financiamento está a ser acertado, segundo garantias do ministro das Finanças, Archer Mangueira, as pessoas podem ser realojadas e concluir-se então os trabalhos de infra-estruturas.


O ministro da Construção falou também do andamento das obras nos acessos ao Porto de Luanda, a ligação com a Via Expresso Luanda-Kifangondo, na Rotunda da Boavista, na Rua 12 de Julho, na Avenida Ngola Kiluanji e nas encostas da Boavista. Concluído está já o viaduto na intercepção da Rua Mandume com a Lueji–ya-Nkonde que liga, no nível inferior, a Boavista ao bairro São Paulo. A Rua 12 de Julho sofre uma reabilitação profunda, ao passo que a Estrada Ngola Kiluanje vai ter um viaduto, uma passagem superior do caminho-de-ferro, na zona da fábrica de plásticos da Cipal.


Iniciada em 2011, a requalificação urbana da Boavista e do distrito do Sambizanga vai conferir nova imagem à área, com equipamentos sociais e económicos. Para isso, está previsto o realojamento de 22 mil famílias da zona do Sambizanga e mais três mil do Bairro Operário. A metodologia definida para a aplicação da estratégia de reconversão urbana consiste, numa primeira fase e de forma genérica, na urbanização de uma área disponível (sem ocupação), com o objectivo de acomodar a população residente nas áreas circunvizinhas.


A estratégia permite edificar novas urbanizações de forma faseada, nas áreas libertas após a transferência da população dos espaços degradados. O método, apelidado “bola de neve”, permite que a estratégia definida para reconversão urbana se configure num ciclo de acções sustentáveis, servindo de exemplo para a intervenção noutras localidades.


O governador provincial de Luanda garantiu que tudo está a ser feito para que em breve o projecto possa estar concluido para melhorar a vida das famílias e a circulação rodoviária numa zona com trânsito caótico, devido a grande circulação de camiões que entram e saem do Porto de Luanda.

As fases da requalificação

A requalificação do local, segundo o projecto inicial, está a ser desenvolvida em quatro fases, com a construção de três mil moradias do tipo T3 e edifícios com até cinco andares, numa área equivalente a 78 campos de futebol, para albergar 20 mil famílias.


A primeira fase da empreitada consiste na construção de infra-estruturas sociais no perímetro do ex-Roque Santeiro, ligação rodoviária Miramar/Campo Mário Santiago/Rotunda da Boavista/Estrada Lueji Anconda, estações de tratamento de água potável, esgotos e de energia eléctrica.


A segunda fase prevê a construção de três mil moradias do tipo T3, enquanto a terceira engloba a criação de um túnel de três mil metros de comprimento e 16 de largura, partindo da zona do Miramar até São Paulo. A quarta e última fase do projecto consiste nos trabalhos de protecção, estabilização e arranjos exteriores, bem como na criação de equipamentos sociais nas encostas da Boavista e Sambizanga.

Financiamento assegurado

O ministro das Finanças, Archer Mangueira, afirmou que parte dos financiamentos, integrados na linha de crédito da China, estão assegurados e outros precisam ser identificados e negociados. “Vamos trabalhar para identificar as fontes de financiamento para as casas que devem ser contruidas para realojar as famílias, para agilizar as obras”, disse o ministro, que não indicou o valor total que envolve as nove mil casas para o realojamento.

Jardim botânico

O Jardim Botânico de Luanda começa a ser construído no primeiro trimestre de 2017. Projectado nas encostas da Boavista e talude do Miramar, o jardim tem por objectivo promover o conhecimento científico e cultural em volta da conservação da natureza através do turismo ecológico.


O projecto vai ainda valorizar a biodiversidade angolana e beneficiar em simultâneo a cidade capital com um importante espaço verde público com oportunidades de lazer em diversas formas. A reabilitação do Largo do Ambiente, inaugurado em Fevereiro último pelo Presidente da República, também faz parte do projecto, já que é nesta zona que está prevista a entrada principal do Jardim Botânico. Do ponto de vista urbanístico, o Jardim Botânico de Luanda, que prevê ocupar uma área equivalente a 13 mil campos de futebol, está integrado nas obras de estabilização das encostas da Boavista, de requalificação do Sambizanga e urbanização da área da antiga praça Roque Santeiro.


O Jardim Botânico de Luanda prevê jardins temáticos, como a Praça dos Embondeiros, jardim infantil e jardim público, com café-terraço, esquadra de polícia, restaurante e estacionamento controlado. O projecto inclui o jardim botânico propriamente dito, um arboreto, estufa-fria, parque recreativo e estacionamento para 500 viaturas. O jardim botânico vai ser um recinto fechado igual a quatro mil e seiscentos campos de futebol de acesso reservado, que tem como missão celebrar a flora angolana ali representada por 15 “jardins angolanos”, onde cada um representa a biodiversidade de cada uma das eco regiões do país.


No “coração” do Jardim Botânico de Luanda vai ser possível viajar pelo Deserto de Kaokoveld, pelas matas angolanas de Mopane e de Miombo, as florestas equatoriais da Costa Atlântica, o mosaico floresta-savana do Congo Sul, as matas de savana da Namíbia, de Bakiaea da Zambézia, e as pradarias da Zambézia Ocidental. Já o arboredo deve ser uma área aberta ao público para recreação, educação e pesquisa, por tratar-se de um espaço destinado ao cultivo de árvores, arbustos, plantas herbáceas, medicinais, ornamentais ou outras, mantidas e ordenadas cientificamente, em geral documentadas e identificadas. Esta visita de campo do Presidente José Eduardo dos Santos realiza-se na véspera do MPLA assinalar os seus 60 anos.