Luanda - As sessões de julgamento retomam hoje, com o interrogatório dos réus Isaac Arão, Luciano Samuel e Rafael Xiama. Entretanto, dos 60 cidadãos que participariam no alegado atentado ao Presidente da República, os peritos do Serviço de Investigação Criminal (SIC) conseguiram identificar mais de 37 e só prenderam 35

Fonte: Opais

O juiz-presidente, João António Eduardo Agostinho, revela, na pronúncia, que para conseguir atrair os 60 indivíduos que participariam na alegada tentativa de golpe de estado, um dos seus mentores invocara que Jonas Savimbi “está vivo” ou que “iria ressuscitar”.

 

No documento lido na pretérita Sexta-feira, nas instalações da 14ª Secção de Crimes Comuns do Tribunal Provincial de Luanda, consta que um dos prófugos, identificado por Jacob Cassoma ou Mutu Ya Kevela, residente nesta cidade, começou com a campanha de mobilização em Dezembro de 2013, na província do Huambo.

 

Além de invocar a falsa reaparição do fundador do maior partido da Oposição em Angola, como forma de atrair os antigos militares das extintas Forças Armadas de Libertação de Angola (FALA), distribuía panfletos publicitários dessa agremiação.

 

“Assim, em data indeterminada de 2014, o réu Raimundo Chiquete reuniu-se em sua casa, em Cacuaco, com os co-réus, Paulo André Tomas Camambala, Jacob Cassoma, também conhecido por Mutu Ya Kevela e criaram o grupo Linha Estrela Brilhante, com o fito de recrutarem antigos militares das extintas FALA para realizarem manifestações e acções de rebelião visando atingir a integridade física do Presidente da República, o engenheiro José Eduardo dos Santos”, consta na pronúncia.

 

Depois de vários encontros, em Setembro do mesmo ano, Raimundo Chiquete juntou em sua casa os co-réus Adolfo Jaime, Xavier Fernando, David Rufino, Madaleno Calandula, Celestino Leonardo e os comparsas prófugos Jacob Cassoma, Silvestre Staloni, entre outros, para distribuir as funções que cada um deveria assumir até tomarem o poder de assalto.

 

Esquema de trabalho

 

Raimundo Chiquete (Procurador-Geral da República), Paulo Camambala (Procurador-Geral Adjunto), Celestino Leonardo (chefe de Estado Maior), Xavier Fernando (chefe Político e de Reconhecimento), Silvestre Staloni (chefe de Pessoal e Quadros), Paulino Manuel (chefe das Tropas), Vicente Lopes (chefe das Operações) e David Esanjo (chefe de Saúde Militar). No encontro a seguir, criaram as coordenções provinciais do grupo Linha Estrela Brilhante, sendo Carlos Simba para o (Bié), Armando Segunda (Benguela), Paulo Camambala (Huambo), Celestino Leonardo e David Rufino Esanjo (Luanda). Segundo o juiz, o grupo gizou um atentado contra o PR que seria materializado no dia 15 de Outubro de 2015, quando fosse à Assembleia Nacional proferir o discurso sobre o Estado da Nação, por ocasião da abertura do ano legislativo, só não o efectivaram porque ainda não tinham adquirido as armas.

 

Neste ano, o Chefe de Estado também não compareceu por causa de um mal estar e coube ao vice-presidente a responsabilidade de ler o discurso. O dia 31 de Janeiro de 2016 foi agendado como data em que seria realizado o segundo atentado, após terem participado num ritual de feitiçaria que chamaram de “blindagem”, dirigido pelos quimbandeiros António Baptista (prófugo) e Augusto Manuel Saím (já falecido).

 

Na altura, acreditavam que tal ritual os tornaria imunes às balas, em caso de troca de tiros com as forças de segurança. Na noite do “assalto”, o grupo esteve repartido em três subgrupos: o primeiro, com 40 cidadãos (chefiado por Celestino Leonardo), ficou nas imediações do Hospital Josina Machel para assaltar o Palácio Presidencial; o segundo, com 15 (comandado por David Rufino e Armando Segunda), estava concentrado no Largo da Independência para servir de reforço aos demais grupos e o terceiro, com cinco (liderado por Xavier Fernando e Mário Pinto), estava concentrado no Largo das heroínas para assumir o comando da RNA e da TPA para anunciarem que haviam tomado o poder.

 

De acordo com o magistrado, eles tinham sete AKM e 12 carregadores, uma pistola, 26 catanas, uma espada e vários uniformes das FAA. As armas de fogo e diversas catanas estavam a ser transportadas numa viatura Toyota Hiace, de cor azul e branca, para serem distribuídas aos alegados invasores antes da meia-noite, mas tal não sucedeu porque um dos pneus estoirou.

Advogados nega tentativa de golpe de Estado

O advogado de defesa, Sebastião Assureira, ao apresentar a contestação, desmentiu que o seu constituinte Raimundo Chiquete “Tchofeca” se reuniu com alguns dos co-réus na casa dele para organizarem um golpe de Estado. Explicou que compraram as sete AKM, a pistola e os 12 carregadores porque pretendiam montar uma empresa de segurança. “É de salientar que não existe qualquer estrutura organizada e militarizada”, frisou.

 

Disse que a única mobilização que os réus fizeram foi para planificarem a realização de uma manifestação pacífica, a fim de reclamarem por não estarem inseridos na Caixa de Segurança Social das Forças Armadas Angolanas (CSSFAA). “Os reivindicadores não eram só ex-militares das extintas FALA, também havia elementos das ex-FAPLA. Entretanto, o grosso do grupo não tinha intenção de realizar acto violentos para reclamar os seus direitos”, assegurou.

Perfil dos acusados

OPAÍS apresenta, em seguida, o perfil de algum dos alegados antigos militares das Forças Armadas de Libertação de Angola (FALA) que estão a ser julgados:

Celestino Ferreira Leonardo “Tino”, 51, enfermeiro, coronel.
Armando Segunda, 48 anos, major.
Madaleno Calandula, 43 anos, capitão.
Xavier Fernando, 38 anos, tenente.
Daniel Ngunbo, 54 anos, major.
Domingos Fernando “Chia-Chia, 48 anos,
tenente.
Inocêncio Kusekela, 41 anos, soldado.
Carlos Simba, 40 anos, aspirante.
Bijares Segunda, 41 anos, aspirante a oficial.
Francisco Feca ou Zeca Alberto, 50 anos,
capitão.
Pedro Miguel, 57 anos, sub-tenente.
Gervásio Antunes, 49 anos, capitão.
Raimundo Vitorino, 50 anos, sub-tenente.
Feliciano Horácio “Chicoco”, 46 anos, aspirante.
Pedro Tchimbundo “Comidar”, 41 anos,
aspirante.
Alexandre Mbole, 43 anos, tenente.
Fernando Cambolo, 55 anos, tenente.
António Lucamba “Lucas”, 38 anos, sargento.
Mateus Sabino Kivembe, 34 anos, sargento.
António Jamba Domingos “Tio Toy”, 53 anos, sargento.
Raimundo Chiquete “Tchofeca”, 49 anos,
capitão.
Paulo André Tomas Camambala, 55 anos,
tenente coronel.
Isaac Arão, 33 anos, tenente.
Das FAA
Paciente Kimbamba Bulica “Paciente”, 40 anos, soldado.

Civis
David Rufino Esanjo “Lombundi”, 40 anos.
Adolfo Jaime “Paxaxa”, 42 anos.
José Adão Tchawaco, 43 anos.
Portasio Sapaço, 60 anos.
Sem informações militares disponíveis
Mário Pinto, 41 anos.
Rafael Xiama, 48 anos.
Luciano Samuel, 27 anos.
Cristiano Lucipa, 36 anos.
Armando Manuel, 47 anos.
Luciano Romeu, 31 anos.
Daniel Manuel, 57 anos.
Laurindo Sandala, 33 anos.
Félix Chivonde, 49 anos.