Luanda - Terminada a guerra de libertação de Angola, em 25 de Abril de 1974, dois meses depois, os três movimentos que participaram neste guerra, confrontavam-se em Luanda, para conquistar o poder. O MPLA consegue, com ajuda das populações de Luanda e alguns militares portugueses da confiança do então presidente da Junta Governativa de Angola, Rosa Coutinho, expulsar a FNLA e a UNITA fora de Luanda.

*Sebastião Kupessa
Fonte: wifi-kongo.com

Em Fevereiro de 1975, a violência em Luanda tomou proporções alarmantes, o MPLA ataca as representações da FNLA situadas na Avenida do Brasil e na Liga Africana, conseguindo apoderar-se das mesmas. Em todo lado houve confrontos, diàriamente nas ruas da cidade de Luanda assinalava-se combates violentos entre irmãos nacionalistas angolanos. O paiol do Grafanil foi bombardeado com artilharia pesada e os deposítos da Petrangol explodiram com efeito de granadas. A FNLA perde as suas representações em Luanda, menos a fortaleza do São Pedro de Barra, ocupada pelo ELNA, o braço armado da FNLA que resistia aos assaltos. Com efeito, de São Pedro de Barra, os guerrilheiros sitiados, pretendiam bombardear Luanda, começando pela rafinaria, na mira da sua artilharia, o que recusara o Holden Roberto.


Para pôr o termo à violência urbana em Luanda, é convocada uma cimeira em Nankuru, Kenya, entre os presidentes dos três movimentos de libertação de Angola. Durante 5 dias, entre 16 e 21 de Junho de 1975 A. Neto, H. Roberto e J. Savimbi, reuniram-se pela última vêz, depois do Mambasa e Alvor, na presença do presidente Kenyano, Jomo Kenyata, na tentiva de renunciar ao uso da força na resolução de problemas da independência de Angola. A delegação da FNLA contava com a presença de um dos comandantes do ELNA, ÂNGELO JOSÉ FORMOSO de CARVALHO “Comandante DIMPINDA KAMAOTE”, o chefe militar que resistia ainda na Fortaleza de São Pedro de Barra. Como se esperava, as resoluções de Nankuru, não foram respeitadas no terreno, ao contrário, a violência intensificou-se, em detrimento da FNLA e da UNITA.

 

Pràticamente, em meados de Junho de 1975, a FNLA já estava fora de LUANDA, mas o contingente do ELNA assediado em S. Pedro de Barra, resistia ainda aos assaltos do MPLA. O Comandante DIMPINDA monta um sistema reabatecimento a custa de estratagemas que ultrapassava as mentes mais imaginosas, graças às quais, os seus subordinados puderam defender-se na fortaleza assediada, por muito tempo. Segundos fonte consultadas, foi também ele, quem foi o artisão de um sistema da defesa do Porto de Luanda, o que não permitiu na altura, o desembarque do arsenal militar do MPLA, transportado em navios provinientes do estrangeiro.

 

Uma ambulância entra na Fortaleza para evecuar os feridos, na sua saída, é atingida e destruída pelos maquisards urbanos do MPLA, embuscados perto da Fortaleza, todos os ocupantes morreram calcinados. Finalmente, para o desespero da FNLA, um dos seus ministros no governo da transição que ocupava a pasta da Agricultura, Mateus Neto, assina a rendição dos sitiados e dias depois deixa Angola, refugiando-se na Suiça.

 

Os sitiados abandonaram a fortaleza de cabeça erguida, sem ser molestados pelo MPLA, dirigiram-se ao norte, mas sem o seu comandante, morto dias antes, com armas nas mãos.

 

O comandante DIMPINDA do ELNA, faleceu na ambulância que saía da fortaleza com feridos? Talvêz !

 

Quem foi o Comandante Ângelo José Formoso de Carvalho “Dimpinda Kamaote”

 

Ângelo José Formoso de Carvalho “Dimpinda Kamaote” nasceu na Regedoria Kimanzala (Missão Ndemba), na sede do antigo Concelho de Aministração da Damba, aos 13 de Setembro de 1948. Filho de António José de Carvalho Kamaote e de Formosa Nkindu Kambangui

Depois de ter termidado o ensino primário com 10 anos de idade, em Makela do Zombo, com o falecimento do seu pai, frequenta o cíclo preparatório em Luanda, graças ao auxílio de um padre da ordem dos capuchinhos de nome Prozidóssimo. Em 1960, é admitido, no Seminário Seráficos de Luanda.

 

Com a eclosão da guerra colonial em Angola em 1961, a família Carvalho Kamaote ficou totalmente desintegrada. Irmãos, tios, sobrinhos e primos refugiaram no então Congo-Leopoldivlle, alguns tantos, retidos na Damba e Maquela do Zombo, como é de Costa Kiala e José Edurdo de oliveira Xavier, enquanto o futuro comandande Ângelo Dimpinda, continuava os estudos no Seminário, em Luanda!

 

Em 1967, concluiu os estudos filosóficos e teológicos em Luanda e no Seminário de S. Jose de Cluny em Malanje.

 

Tempos depois, as circunstâncias alheias à sua vontade, obrigam-no a abandonar o Seminário, tendo trabalhado nos CTT e mais tarde, em 1969, sido incorporado no serviço militar obrigatório colonial na Escola de Oficiais em Nova Lisboa (Huambo) e no Regimento 20, nos arredores de Luanda ( Catete, Calomboloca, Zenza do Itombe, Muxima, Kifangondo e Casa de Reclusão ). Tendo cumprido o serviço militar colonial com a graduação de alferes miliciano.

 

No exército português frenquentou homens que foram colegas, alferes como ele, alguns de patentes inferior, recorda-se: Antônio José Maria, Cunha Neto, Isalino Mendes, Pegado Sobrinho, Jorge Ferraz, Lucas Muindi, Americo de Carvalho, Antônio Peixoto Magalhães, Antônio Paulo Kassoma, Miguel Sebastiao, Alipio Rómulo, Antônio Rosa, Santos, Ricardo Romulo e tantos outros.

 

Salienta-se também a sua relação com o actual General José Maria, o Cabo Baptista e sem esquecer o capitão Nhala, um negro que no seu tempo impunha respeito e fazia estremecer os colonialistas! Até os próprios colonos não acreditavam! Também morreu cedo e nunca se falou dele, nem como morreu, isto na passagem da época do 25 de Abril, muito antes da eclosão da guerra entre os irmãos angolanos. Os três citados, no ano de 1965 a 1968, mais ou menos, foram os primeiros militares negros que apareceram no Batalhão de Caçadores destacado na Damba. Eram os três “Mosquiteiros”, que imprimiram respeito aos militares portugueses que se atrevessem a cometerem abusos à nossa população, trouxeram outro orgulho para a juventude da Damba, na altura.

 

Em 1972, concluindo a tropa portuguesa, casa-se com a senhora Dona Maria de Fátima Laurentino da Silva e Carvalho, em cerimônia celebrada pelo cónego Próspero Pwaty, de quem foi aluno, no Seminário e primeiro Bispo da Diocese do Luso-Moxico

 

Teve um casal de filhos, a Clélia Mira Nkindu da Silva Carvalho, funcionária do Instituto de Petróleos do Sumbe e Makiesse Miguel Silva Carvalho, engenheiro de petróleos da Sonangol.

 

Logo após a conclusão da tropa colonial trabalhou no Banco de Angola, hoje BNA, e ainda integrou a delegação do alto nível pela FNLA nos acordos de Nakuru (Quênia) em 1975, altura que morre em confrontações, como comandante militar do ELNA no forte de São Pedro da Barra, aos 18 de Julho de 1975.

 

O Comandante Dimpinda Kamaote faleceu com 28 anos de idade. Foi irmão do antigo ministro das Pescas, Emílio Guerra de Carvalho, hoje Embaixador de Angola na RDC e também do antigo Comandante da Marinha da Guerra de Angola, hoje, como embaixador de Angola na Algéria, José Condesse de Carvalho “Toka”.