Bruxelas - O activista angolano José Marcos Mavungo foi recebido nesta quarta-feira, 11, pela subcomissão dos Direitos Humanos do Parlamento Europeu, em Bruxelas, a convite da eurodeputada, Ana Gomes.

Fonte:  VOA

A conversa entre Mavungo e várias personalidades do Parlamento Europeu, entre as quais os deputados José Inácio Faria, de Portugal, e Cecília Kyenge, da Itália, girou em torno da governação e dos direitos humanos em Angola, em particular em Cabinda.

 

“Quando recebi este convite, decidi aceitá-lo em consciência porque achei que, enquanto activista dos direitos humanos e cidadão do mundo, faltaria ao meu dever ao não me pronunciar sobre assuntos que nos dizem respeito a todos, no quadro de uma assembleia tão importante como esta”, começou por dizer José Marcos Mavungo na sua intervenção.

 

Quanto a Angola, afirmou o activista, “confronta com um Estado autoritário, o país está exposto a ´propósitos de rapina´, sustentados por um autoritarismo e despotismo feudal”.

 

Ele explicou aos parlamentares europeus que a classe política dominante restruturou-se numa lógica de partido em que os militantes se converteram em "ghetto despótico económico": “criou-se um poderoso grupo fechado a que só têm acesso os magnatas do regime, que são os senhores absolutos do crédito, e por isso dispõem do sangue de que vive toda a economia nacional e de tal maneira a manejam, que ninguém pode respirar sem a sua licença”.

As instituições, segundo Mavungo, funcionam bastante mal e o país é conduzido por uma estranha lógica de governação, que ignora a dimensão humana do cidadão.

Desportismo em Cabinda

“A política económica caracteriza-se por um modelo de desenvolvimento que redistribui a riqueza para cima e para fora, sob o controlo da classe política dominante, acabando assim por ser instrumento de mais intensamente afligir os aflitos, os pobres.

 

Ao se referir a Cabinda, aquele activista considerou a província como “o mais célebre território, o pólo da ferocidade do despotismo reinante em Angola, com uma governação própria a Estados colonizados de tipo feudal, que não permite aos cabindas fazer qualquer reclamação ou organizar-se em associações de defesa dos direitos humanos, vigiados em todas as suas acções pelos agentes dos Serviços de Inteligência e Segurança do Estado (SINSE) e pela Contra Inteligência Militar (GOISM)”.

Despois de expôr o que ele considera casos preocupantes de violação do direitos humanos, José Marcos Mavungo disse que “o território de Cabinda não tirará pleno partido dos seus enormes recursos e alcançará a paz e altos níveis de desenvolvimento enquanto não extirpar esta doença própria a um Estado colonizado de tipo feudal”.

 

Mavungo lembrou que é na Europa que “os interesses dos lóbis do regime angolano têm vindo a estender os seus tentáculos”.

 

Para ele, “é aqui que eles levam a cabo uma ofensiva visando ofuscar a má governação e as atrocidades do regime “en place” e abafar as vozes dos activistas sociais que nestes últimos anos se levantam contra o actual profissionalismo político que legitima o crime em Angola”.

 

É chegado o tempo de agir e de optar, “sempre pela positiva”, sublinhou Mavungo.

“É chegada a hora de ajudar Angola a integrar o país na caminhada para desenvolver uma verdadeira democracia pluralista. Esta batalha não é só dos angolanos, nem é apenas das elites políticas do mundo. É batalha de todos os cidadãos do mundo”, reforçou José Marcos Mavungo, que concluiu a sua intervenção recomendando que “toda ajuda à Angola deveria permitir aos angolanos e ao mundo sentir a organização do Estado funcionar na sua interação e mudança contínuas, dando voz a todos os cidadãos, abordando sem tabus os actuais dilemas e conflitos, em especial o conflito ainda reinante em Cabinda.

Mavungo foi condenado a seis anos de prisão, mas libertado pelo Tribunal Supremo depois de cumprir 12 meses da pena.