Luanda - O mais frustrante, dizem os queixosos, é a atitude dos fiscais da associação que agem com brutalidade no acto da cobrança das quotas. Segundo Paulino Zeferino, moto-taxista da zona da Vidrul, em Cacuaco, os fiscais, munidos de facturas e outros meios, chegam cedo às paragens para exigirem os valores do dia. “São rápidos a cobrar. Mas na hora de nos ajudar, quando precisamos, fazem-se de surdos. Eu próprio já passei por várias situações e nunca vi nenhum apoio

Fonte: OP
O valor, que totaliza 600 kwanzas semanais, referente a 100 kwanzas/dias, não estará a ser revertido a favor dos motoqueiros que acusam os responsáveis da associação de uso individo em benefício próprio. Conforme apurou o OPAÍS junto dos associados, a maior reclamação vem dos operadores que actuam nos municípios de Cacuaco, Belas e Viana, por serem, a nível de Luanda, os maiores pontos de concentração de moto-taxistas devido às dificuldades de táxis ainda reinantes no interior dessas zonas.

Os motoqueiros, que se dizem agastados com a situação, afirmaram que todos os dias são interpelados por fiscais da AMOTRANG que os obrigam a fazer o pagamento das quotas, sob pena de verem a sua actividade restringida, ou o meio apreendido. Conforme disseram, os valores são cobrados sob pretexto de serem revertidos em favor da caixa social da associação para, posteriormente, serem gastos em casos de doença, morte, danificação do meios e outras necessidades.

No entanto, alguns mototaxistas, conhecidos também como Kupapatas, dizem que, mesmo tendo as quotas pagas, a associação não presta nenhum tipo de apoio quando a necessidade “aperta”. Porém, tendo em conta a situação, os operadores consideram que a direcção da AMOTRANG tem agido de má-fé, pelo que exigem maior transparência e respeito pela actividade que em todo o país conta, até ao momento, com cerca de 300 mil operadores.

Só não é ajudado o individuo que se furta a pagar as quotas. É uma questão de justiça Mototaxistas numa paragem em Luandada AMOTRANG, apesar de pagar diariamente a minha quota. Fico triste com isso, porque vejo que não estou a fazer nada, não adianta continuar a pagar”, desabafou. Também inconformado com a situação, Lucas Domingos, operador da zona do 11 de Novembro, município de Belas, disse já ter desistido de pagar a quota por algum tempo. Mas teve de retornar ao pagamento devido à pressão dos fiscais que lhe apreenderam a motorizada enquanto exercia a actividade.

“O problema é que eles (os ficais) não deixam a pessoa trabalhar à vontade. Ou pagas ou então és impedido de trabalhar. Mas na hora de precisares de ajuda, eles não prestam nenhum apoio. Afinal onde é que põem os valores?” Já Jacinto Belém, moto-taxista da zona da Estalagem, município de Viana, frisou que, recentemente, perdeu um filho e não teve ajuda da associação, apesar de ter pago as quotas diárias. “Assim que o miúdo faleceu falei com os fiscais da nossa área, mas eles só me fizeram promessas. Não ajudaram em nada. Todas as despesas foram custeadas pela minha família porque nessa vida de kupapata não se ganha nada. A gente paga por algo que não tem retorno”.

Ajuda só mediante pagamento regular das quotas

Contactada por OPAIS, a AMOTRANG, por via do seu delegado, Edson Leitão, fez saber que as ajudas são prestadas apenas aos motoqueiros associados e que têm as quotas devidamente pagas. Segundo o líder associativo, os valores pagos diariamente pelos moto-taxistas, que não têm caracter obrigatório, são canalizados para a caixa social da organização e só saem de lá quando o associado tem algum problema de saúde, morte ou outras situação que o impeça de exercer a actividade.

De acordo com Edson Leitão, não é verdade que a AMOTRANG não preste ajuda a quem é de facto associado. “Todos os moto-taxistas cumpridores das normas são ajudados. Quem disser que não, está a mentir. Só não é ajudado o indivíduo que se furta a pagar as quotas. É uma questão de justiça”.

O delegado da AMOTRANG atestou ainda que muitos moto-taxistas passam o tempo todo a fugir da associação e só se lembram dela quando estão em momentos de apuros. Estes, conforme acusou, é que saem à rua a “denegrir” o trabalho feito pela “sua associação”. “Temos conhecimentos que algumas pessoas, que nem são nossos associados, são influenciados por certos indivíduos para denegrir a nossa actividade. Mas o nosso trabalho é claro.

Os dinheiros recolhidos diariamente são bem aplicados a favor dos nossos associados”, atestou. Edson Leitão fez saber que, além da cobrança, a sua agremiação está ainda preocupada com o bem-estar dos moto-taxistas. Por este motivo é que desde 2014 está em curso, em todas as províncias, um processo de formação sobre o Código da Estrada, formação ministrada por técnicos da AMOTRANG em parceria com as direcções provinciais de Viação e Transito. A ideia, segundo avançou, é dotar os seus associados de conhecimentos práticos sobre os regulamentos do Código da Estrada para que os mesmos exerçam a actividade de forma responsável.