Luanda  - “Apelámos à direcção da JMPLA que identifique, que saiba quem dentro da JMPLA está a causar (…) distúrbios, que discipline, que puna, quem de facto está a tentar criar desunião. Apelo à direcção do MPLA que se empenhe (…). Há que pôr ordem na casa. Em vésperas de eleições tem que se pôr os pingos nos is e pôr os camaradas no lugar”. Assim, termina uma recente fala de Tchizé dos Santos dentro da JMPLA.

* Pedro Malembe & Paulo Alves
Fonte: Club-k.net

Que os filhos do Presidente-ditador José Eduardo dos Santos ocupam estatutos destacados em Angola é um lugar comum. Que provavelmente se não fossem filhos do Presidente-ditador não ocupariam esses lugares é uma certeza.


Contudo, a forma como exercem as suas funções denotam algumas diferenças.


Tchizé dos Santos, outra filha de José Eduardo dos Santos, famosa pelas cerimónias dignas de uma rainha aquando o seu casamento, é a única filha presidencial que desempenha funções políticas no MPLA e na Assembleia Nacional, representando um ala jovem e dinâmica do partido.


De momento, Tchizé que, ao contrário de outros familiares, é frontal e não sinuosa, tem preocupações socias e não de jet-set, está empenhada em preparar a JMPLA para as eleições vindouras, purgando-a, afastando os elementos indesejáveis.


Isso tem levado a várias “intrigas”, a última das quais constituiu num texto publicado por um tal Mabanga em que acusava Tchizé de dar guarida a traidores e agentes infiltrados no MPLA como Célio Mauro ou Luciano Martins, entre outros. Nesse texto, o Mabanga escrevia que Tchizé era vista como “pouco inteligente, teimosa e negligente” e por isso alvo fácil dos agentes infiltrados que iriam destabilizar o MPLA manipulando Tchizé.


A este escrito Tchizé reagiu com veemência na referida reunião do MPLA, dizendo que os vários denominados como “agentes infiltrados” são dos que mais defendem o Presidente José Eduardo dos Santos, são daqueles que mais intervêm nas redes sociais, e se fossem mesmo “agentes infiltrados” não o fariam. Acrescentando que se estava perante uma “brincadeira de mau-gosto” e que havia que aprofundar a fonte da agitação. O fundamental, na óptica de Tchizé, é haver disciplina e arrancar o “mal pela raiz”.

 

Na mesma reunião, Tchizé fez eco crítico das suas preocupações sobre o estado da JMPLA, entendendo que a maturidade dos actuais jovens não se compara com a dos anteriores. Os jovens estão a perceber mal as rápidas promoções de Luvualu de Carvalho ou João Pinto e julgam que a progressão no partido rumo ao topo se faz por intriga, ou “leva- e-trás”. E Tchizé avisa que esse espírito está errado e tem que acabar. Tchizé dá o seu exemplo dizendo que é “individualista”, não gostando de grupos e gangues, verberando a atitude de membros da JMPLA que estão a criar problemas internos e intrigas graves. Afirmando reiteradamente que as pessoas da JMPLA que estão a causar problemas e distúrbios têm que ser disciplinadas e punidas.


Em resumo, Tchizé manda “arrumar” a JMPLA, colocando os “camaradas” indisciplinados no lugar.


A fala de Tchizé a que tivemos acesso, mostra uma líder preocupada com a anarquia vigente na juventude do MPLA, que claramente se tornou um mecanismo de carreirismo e um antro de intriga. É esse espírito de carreirismo e intriga que Tchizé condena, apelando a uma purga do JMPLA. Antes das eleições, a filha do Presidente depara-se com uma juventude mais empenhada em ocupar lugares de topo e em desacreditar os seus camaradas, do que em combater pelo MPLA. Assim sendo, na boa técnica estalinista apela à disciplina desses membros, à sua purga. Afastar os indesejados, os críticos, os perturbadores, aqueles que não contribuem para a afirmação do MPLA.


“Algumas palavras a respeito de intriguistas, diversionistas, espiões, etc. Agora parece claro para todos, penso, que os ladrões e diversionistas atuais, independentemente da bandeira que usam para se cobrir, (…) se transformaram num bando de desordeiros profissionais, diversionistas, espiões e assassinos.


Naturalmente, estes senhores terão de ser destruídos sem piedade como traidores ao nosso país. Isso é claro e não requer mais explicações.”


Assim falou Estaline em 1937. Para este tipo de discurso caminha Tchizé?