Luanda - O anúncio de mais uma retirada de José Eduardo dos Santos, chegou, mas não mobilizou credibilidade, pelo contrário, a maioria dos próprios dirigentes e militantes do MPLA, receberam-no com cepticismo e mais uma prova de cinismo e a restante tribo indígena, como mais uma “sacanagem”, para gozar com a chipala dos autóctones.

Fonte: Folha8

Em surdina, verdadeiras ou falsas, emergem acusações sobre o cometimento, ao longo dos 37 anos de poder, de crimes passionais, económicos, constitucionais, políticos, etc, que calcorreiam, nos corredores do regime, cabendo agora, a José Eduardo dos Santos, inteligência bastante, para num fórum alargado, esboçar as linhas de uma retirada pensada e pragmática, visando amortecer os danos causados e inaugurar, através da realização de um congressso extraordinário ou conferência Nacional de Quadros do MPLA, uma nova era democrática, desde logo alterando os estatutos, que permitam a realização de primárias internas, para a eleição do presidente e demais órgãos partidários, ao invés de cair na tentação de indicar substitutos. As portas devem estar escancaradas, até mesmo, para militantes críticos e “afastados” como Marcolino Moco.

SACO DE GATOS

O MPLA, actualmente, deve afastar a ideia de ser um autêntico saco de gatos, apenas controlado por JES, nada garantindo que na sua ausência ou diminuição de poderes, não surjam grupos internos desejosos de controlar a máquina.


No actual contexto, o que mais ele tem, ainda, tem são “yes man mordomias”, pois no geral, existem poucos aliados internos, capazes de lhe garantir uma transição política pacífica, tal como aos filhos e respectivo património, interno e externo.


Quer se queira, quer não, este é e será o grande dilema de Dos Santos e entourage, na ausência de um “Plano de Transição” ou “Pacto de Regime”, pois, desde logo, os que se perfilam como sucessores, carregam incubados sentimentos de ressentimento, por humilhações públicas recentes, nomeadamente, João Lourenço, Bornito de Sousa, Fernando da Piedade Dias dos Santos “Nandó”, Paulo Kassoma, Roberto de Almeida, entre outros, chegados ao poder, terão, para consolidar o seu poder, de alterar leis, criadas sem carácter geral e abstrato.


EXEMPLOS DE FORA


Logo, sempre terão de visar, o antigo chefe, até por terem filhos e famílias, veja-se o que aconteceu com Frederick Chiluba, na Zâmbia e Alberto Fujimore no Peru.


Noutro plano, pessoas que verdadeiramente, se poderiam bater por ele, tendo o domínio da máquina e as manhas de Maquiável, como Fernando Garcia Miala (uma espécie de Putin á angolana), que foi seu fiel braço direito, mas devido a uma cabala palaciana, alegadamente, orquestrada pelos generais, Helder Vieira Dias “Kopelipa” e José Maria, provou o fel das fedorentas masmorras do regime, numa acusação nunca provada, podendo não estar disponível em manter a fidelidade “canina” anterior. Secundam-lhe Lopo do Nascimento, Fernando França Van-Dúnem, João Baptista Kussumua e Isaac dos Anjos.


Seguir-se-á uma ala militar com sentimentos de revolta incubada, com influência no seio das Forças Armadas, Polícia Nacional e do MPLA, como os generais, Alexandre Rodrigues “Kito”, João de Matos, Mateus Miguel Ângelo “Vietnam”, José Alfredo “Ekuikui” e mesmo alguns generais da UGP (Unidade da Guarda Presidencial) e USP (Unidade de Segurança Presidencial).


LARANJAS DO ENRIQUECIMENTO NA GUILHOTINA?


Depois surgem Manuel Vicente e Joaquim David, “padrinhos económicos” que ajudaram os filhos e familiares de José Eduardo dos Santos a tornarem-se milionários e bilionários, pela humilhação e ostracismo a que estão a ser votados, principalmente por Isabel dos Santos, jamais defenderão, numa mudança de quadro, Eduardo dos Santos.


Diante deste quadro dantesco, se percebe as razões do ruído do exército de bajuladores, para inviabilizar a saída, de JES, considerada precipitada, por não lhes conferir garantias de manutenção de património e riqueza ilícitas, acumuladas durante os anos de poder, logo, fazem recuar o chefe para ele dar o dito pelo não dito, ainda que isso prejudique a maioria dos autóctones angolanos.


Isso é mau para o país, mergulhado numa quase falência técnica, por comprovada má gestão da coisa pública. Se assim é, se o presidente da República é um problema, dificilmente, pode fazer parte da solução.


PACTO DE REGIME E CASO FIDEL


Mas do ponto de vista político, visando a pacificação social, José Eduardo dos Santos poderia, se quisesse emprestar algum reconhecimento futuro, tomar decisões ousadas, a exemplo das tomadas por Fidel de Castro, que não quis ter o mesmo fim, do destino das estátuas e símbolos de outros ditadores, no final dos consulados...


Desde logo, dando sinais claros de abandono do poder, seria a retirada da sua esfinge da moeda nacional e do Bilhete de Identidade (ilegal e inconstitucional) e, em segundo plano abdicar da UGP, enquanto exército privado, integrando-o nas Forças Armadas e esboçar a criação de uma Unidade de Protecção Presidencial, vinculada ao Ministério da Defesa Nacional e as FAA.


E, finalmente, reunir num “Forum Nacional de Reconciliação e Transição Política”, toda oposição política, intelectuais da sociedade civil, fora do seu espectro partidário, para discussão de temas como; o passivo do país; as injustiças sociais; a discriminação partidária; a isenção e neutralidade das instituições públicas (colocar fim a sua partidarização); o enriquecimento ilícito de algumas elites; a corrupção institucional; a independência real da Comissão Nacional Eleitoral; a reforma constitucional; a despartidarização da Justiça e do Sistema Judiciário; a despartidarização da Comunicação Social do Estado; a liberalização das telecomunicações e o fim do monopólios, entre outros grandes temas, para se alcançar, um Pacto de Regime, capaz de credibilizar uma transição, capaz de inviabilizar convulsões futuras.