Luanda - A mulher de um dos réus do julgamento de atentado contra o presidente apresentou uma queixa-crime junto do Ministério Público, em Luanda, contra dois efectivos dos serviços criminais, por alegadamente terem cobrado dinheiro para soltarem o homem.

Fonte: Lusa

De acordo com a queixa-crime apresentada pelo advogado de Alzira Anabela, à qual a Lusa teve ontem acesso, os visados são dois elementos do Serviço de Investigação Criminal (SIC) de Luanda, que segundo a mulher extorquiram dinheiro pela libertação de Raimundo Chiquete, um dos 37 acusados por rebelião, associação de malfeitores, atentado contra o Presidente da República, na forma frustrada e posse de armas de fogo.


“Eles falavam que o ‘teu marido é inocente, nós queremos ajudar’. Então eles um dia me falaram para preparar o dinheiro, entreguei Kz 65.000 e até agora não me dizem nada. Não sei porque é que até agora não lhe deram soltura”, contou ontem à Lusa a queixosa Alzira Anabela.


Segundo a mulher, o pagamento aconteceu antes de Raimundo Chiquete ter sido transferido para Cadeia Comarca de Viana.


“Nos meses de Maio e finais de Junho [de 2016] os ora queixados solicitaram por via telefónica valores à queixosa com intuito de soltarem o réu do processo, segundo eles (queixados) não ter praticado os crimes que vem acusado”, lê-se no documento enviado ao Ministério Público, da autoria dos advogados Salvador Freire e Sebastião Assurreira.


O documento acrescenta que a queixosa entregou os Kz 65.000 àqueles elementos, o “último valor que a mesma possuía à data dos factos”, mas que volvidos meses a promessa de soltura não se concretizou, pelo que a mulher tentou pedir explicações.


“A queixosa ainda procurou falar com o procurador junto ao SIC, mas foi-lhe colocado entraves, frustrada entendeu denunciar os mesmos à Procuradoria-Geral da República”, lê-se na queixa, em que se manifesta ainda o propósito de pedir uma indemnização civil.


O julgamento dos 37 cidadãos teve início a 2 de Dezembro, na sala dos crimes comuns do Tribunal Provincial de Luanda, com a acusação promovida pelo Ministério Público a sustentar que o grupo de acusados “era bastante organizado militarmente e que recrutavam os ex-militares” da UNITA “com o objectivo de atentarem contra o Presidente da República, José Eduardo dos Santos, e tomarem o poder a força com recurso a armas de fogo, catanas e ainda de métodos feiticistas”.


São na sua maioria militares desmobilizados das Forças Armadas de Libertação de Angola (FALA), braço militar da UNITA durante a guerra civil, que terminou em 2002.


Foram detidos a 30 de Janeiro de 2016 quando, segundo a acusação, se preparavam para promover o atentado contra o Presidente da República na madrugada seguinte.


Acusações que são refutadas pela defesa, que refere que a única mobilização que os acusados fizeram foi para uma manifestação pacífica para reclamar a não-inserção na Caixa Social das FAA.


A polícia apreendeu na posse dos acusados armas de fogo e catanas.