Benguela -  “Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, muda-se o ser, muda-se a confiança”. Este principio, extraído de um dos poemas mais emblemáticos de Luís de Camões, serve fielmente para ilustrar o comportamento que tem sido assumido, nos últimos tempos, pela generalidade dos membros executivos do Comité Provincial do Movimento Popular de Libertação de Angola nas “terras de Omabaka”. Falamos relativamente a eventual desistência de José Eduardo dos Santos em voltar a ser o cabeça lista na disputa às eleições gerais, previstas para agosto próximo.


Fonte: Pérola das Acácias

José Eduardo dos Santos começa a ser visto já pelo “retrovisor”. Nos últimos dias, o trabalho está virado para internamente convencer a base sobre a indicação de João Lourenço e Bornito de Sousa, como os escolhidos pelo “chefe” para disputarem a presidência da Republica, em observância a uma orientação saída do último encontro do Comité Central. Um trabalho que está praticamente concluído. A semente de ensaio para “idolatria” de um novo chefe está praticamente lançada. Quem tenta convencer a classe dirigente dos “camaradas” ao contrario já não é bem-vindo a Benguela. Que o diga o presidente do Movimento de Apoio Solidário de Angola (Movangola), António Alcino Sawanga, que realizou há uma semana nas cidades do Lobito e Benguela “a jornada nacional de exaltação a visão do líder da Nação e do plano estratégico de actuação do movimento na campanha das eleições a favor do MPLA”. Na cantada à procissão ao “chefe fica só”, a MOVANGOLA praticamente atuou a solo. Ninguém dos “grandes responsáveis” quis abraçar a causa, tal como dissemos acima.


De Isaac dos Anjos, 1º Secretario do Comité Provincial e governador de Benguela, nem a sombra foi vista nos locais dos eventos, nomeadamente sexta-feira na administração de Benguela e domingo na Casa do Pessoal do Porto do Lobito. O gesto contraria em absoluto a agenda distribuída à imprensa, em que Dos Anjos aparecia como a figura de cartaz. Nos três dias em que decorreu a jornada, os delegados ao evento, vindo das demais províncias do país, não sentiram o amparo que tem sido de costume em actividades de “louvor ao Presidente da República, José Eduardo dos Santos”.


O líder dos camaradas em Benguela refugiou-se em actividades políticas, vistas por muito como de menor expressão. Para lá preferiu “despachar”, Julião de Almeida, primeiro-secretário do MPLA no município do Lobito.
Veríssimo Sapalo, 2º Secretario do Comité Provincial, um dos grandes executores da política do “EMÊ” na província, fintou e desviou-se de todos os caminhos que pudessem levar a cruzar com a actividade da MOVANGOLA. Todos esses “ingredientes” concorrem para que a actividade saísse com sabor amargo. Como se diz na geria: a actividade da MOVANGOLA “bateu na rocha”, a vontade de apelar ao “chefe fica só” foi pouco ouvida e os tempos parecem caminhar para um nova era no partido dos camaradas.

 

Veremos se estes são sinais de que alguma coisa está a mudar no reino da direcção dos “camaradas”, porque os sinais que esta recebe da base não são animadores, especialmente contra o líder. Daí não ser de estranhar que José Eduardo dos Santos já seja abertamente criticado em reuniões internas e em conversas privadas. Outros longe dos receios de retaliação vão desfilando às criticas a gestão de JES em hasta pública. A fraca adesão de populares nos eventos promovidos pelo “EMÊ” na província não ajuda, sobressaindo cada vez mais a fraquíssima popularidade de JES. Como se tudo isto não bastasse, a preguiça parece ter tomado conta dos cabos eleitorais, entregando deste modo de bandeja a província à oposição.