Lisboa - Os independentistas de Cabinda da FLEC-FAC apelaram hoje às populações daquele enclave para "não participarem" nas eleições gerais angolanas de agosto próximo e para "denunciarem a compra de votos e o registo ilegal de estrangeiros" no território.

Fonte: Lusa


A posição surge expressa num comunicado da Frente de Libertação do Estado de Cabinda - Forças Armadas Cabindesas (FLEC-FAC), que recorda o dia 01 de fevereiro de 1885, data da assinatura do Tratado de Simulambuco, que tornou aquele enclave num "protetorado português" e que está na base da luta pela independência do território.


"Chamamos a atenção a todos os cabindas para não cederem ao eleitoralismo dos partidos angolanos e para denunciarem a compra de votos e o registo ilegal de estrangeiros para votarem no território. Nada temos a ver com eles e não os queremos na nossa terra. Apesar de nos terem invadido, há já 42 anos [independência de Angola de Portugal], não conseguiram quebrar a nossa moral nem a nossa razão", lê-se no comunicado da FLEC-FAC.


Nas eleições gerais de 2012 votaram em Cabinda, segundo dados da Comissão Nacional Eleitoral, 121.108 eleitores, tendo o MPLA, partido no poder em Angola desde 1975, garantindo, pelo círculo eleitoral da província, quatro deputados (59,4%) e a UNITA um (24,5%).


No texto assinado pelo porta-voz da organização, Jean Claude Nzita (na foto), a FLEC-FAC garante que a guerrilha no enclave "continua e continuará".


Só no final de janeiro, aquela organização reivindicou a morte de dois militares das Forças Armadas Angolanas (FAA), em confrontos com os guerrilheiros, sobre os quais chegou a apresentar documentos de identificação, afirmando ainda ter apreendido armas e munições.


Durante o ano de 2016, vários ataques do género provocaram, nas contas da FLEC-FAC, desmentidas pelo Governo angolano, mais de meia centena de mortes entre as operacionais das FAA, em Cabinda.

O ministro do Interior de Angola afirmou em outubro que a situação em Cabinda é estável, negando as informações das FAC, que só entre agosto e setembro tinham reivindicado a morte de mais de 50 militares angolanos em ataques naquele enclave.

"Em Cabinda, o clima de segurança é estável, é uma província normal, apesar de algumas especulações e notícias infundadas sobre pseudo-ações militares que se têm realizado", disse o ministro Ângelo da Veiga Tavares.

O chefe de Estado-Maior General das Forças Armadas Angolanas também desmentiu em agosto, em Luanda, a ocorrência dos sucessivos ataques reivindicados pela FLEC-FAC, com dezenas de mortos entre os soldados angolanos na província de Cabinda.

Geraldo Sachipengo Nunda disse então que a situação em Cabinda é de completa tranquilidade, negando qualquer ação da FLEC-FAC, afirmando que aqueles guerrilheiros "estão a sonhar".

No comunicado de hoje, a FLEC-FAC reitera ainda o seu apelo à intervenção de Lisboa: "Enquanto o Estado português não atuar como fez em Timor-Leste, convocando as Nações Unidas (ONU) para a internacionalização do conflito [em Cabinda], vamos apelar à resistência popular generalizada. A nossa independência não é negociável".

"A FLEC-FAC relembra a comunidade internacional que só exigimos independência total e incondicional de Cabinda porque os líderes tradicionais que assinaram o Tratado Simulambuco eram livres em 1885, quando concluíram o acordo que dá a Cabinda estatuto de Protetorado Português. (...) O Presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa, deve reconhecer os erros cometidos em Cabinda para que Portugal possa ser reconhecido como um nobre país europeu cumpridor dos valores humanos da União Europeia", acrescenta o comunicado da FLEC-FAC, criada em 1963, assinalando o 132.º aniversário da assinatura do acordo com Portugal.