Luanda - O analista John Ashbourne, da consultora Capital Economics, considera que Angola é o país em África que mais probabilidades tem de enfrentar uma crise financeira como a de Moçambique, que hoje entrou oficialmente em 'default'.

 

Fonte: Lusa


"Dado o opaco e muitas vezes sigiloso Governo, é o país mais provável de lançar uma surpresa ao estilo de Moçambique, anunciando que as coisas estão muito piores do que os números oficiais sugerem", disse o analista da consultora britânica, responsável pelo departamento africano.


Em declarações à Bloomberg no seguimento do incumprimento financeiro de Moçambique, Ashbourne argumentou que Angola, a terceira maior economia africana depois da Nigéria e da África do Sul, "tem uma economia em dificuldades, uma moeda sobrevalorizada e volumes excessivos de dívida pública e privada".

 

A possibilidade de o incumprimento financeiro de Moçambique, hoje materializado, poder estender-se a mais países africanos, é um dos temas que os analistas dizem estar a preocupar os investidores, com o modelo de risco de crédito soberano da agência financeira Bloomberg a apontar o Senegal, Tunísia, Gana e Zâmbia como os mais problemáticos.

 

O modelo da Bloomberg usa dados que incluem o défice orçamental, as reservas externas, o crédito malparado nos bancos e a instabilidade política para calcular as probabilidades de incumprimento financeiro por parte dos Estados.

 

"O 'default' de Moçambique levantou o receio de uma série de crises da dívida em África", acrescentou o economista e analista da Capital Economics.

 

"Apesar de o risco de contágio numa região com economias díspares e poucas ligações económicas entre si ser baixo, alguns países podem enfrentar dificuldades no pagamento ou na reestruturação de títulos de dívida pública vendidos durante os anos de grande crescimento", concluiu o responsável.

 

Além dos quatro países identificados como problemáticos pelo modelo da Bloomberg, este economista identificou também, para além de Angola, o Quénia e a Costa do Marfim como os que têm mais probabilidade de entrar em incumprimento financeiro, seja por razões económicas, seja por instabilidade política.

 

Moçambique entrou hoje oficialmente em incumprimento financeiro, depois de terminar na quinta-feira o período de tolerância para o pagamento de 60 milhões de dólares referentes à prestação de janeiro da emissão de dívida pública feita em abril.

 

Torna-se, assim, o primeiro país do continente a falhar um pagamento de dívida desde que a Costa do Marfim não foi capaz de honrar os compromissos financeiros, em 2011.