Luanda - Presidente de Angola desde 1979, José Eduardo dos Santos anunciou esta semana que não será candidato a mais um mandato. Deixa o país com 40 por cento da população na miséria e com uma fortuna avaliada em 18,5 mil milhões de euros.

 

Fonte: Sunday World & Sabado

Ao fim de 38 anos como Presidente de Angola, José Eduardo dos Santos anunciou no final da semana que não irá candidatar-se a novo mandato nas eleições gerais que se realizam este ano, em Agosto.


Apesar de Angola ser um país rico em petróleo – com 9,5 mil milhões de barris em reservas, segundo a OPEC – e em diamantes – é o segundo maior exportador no mundo, segundo o Banco Mundial - o líder do MPLA deixa o país numa grave crise económica.


Segundo, analistas internacionais, Angola é o país africano com mais probabilidades de entrar em default, ou seja, incapaz de pagar as dívidas que contraiu, como está a acontecer com Moçambique.


O legado do segundo mais antigo Chefe de Estado em África, a seguir ao presidente da Guiné Equatorial Teodoro Obiang Nguema, deixa marcas no país. Quinze anos depois do fim da guerra civil, travada entre o MPLA e a UNITA durante 27 anos, Angola é um país com graves problemas socioeconómicos.


Apesar do rápido crescimento económico nos últimos anos, suportado pelo preço do petróleo, mais de 40 por cento dos angolanos vive abaixo da linha de pobreza, com menos de 1,7 euros por dia, segundo o The World Factbook da CIA, um almanaque sobre todos os países do mundo da agência de serviços secretos norte-americana.


A mortalidade infantil é das mais elevadas no mundo – um em cada cinco crianças angolanas não chega a completar os cinco anos de idade, segundo a UNICEF. A principal causa é a pobre dieta alimentar e a falta de condições de higiene que causam variadas doenças: 60 por cento da população não tem acesso a saneamento básico e 40 por cento não tem água potável.


A esperança de vida dos angolanos salienta bem as dificuldades vividas no país: 56 anos, em comparação, em Portugal a esperança de vida é de 80 anos.


José Eduardo dos Santos, com 74 anos de idade, não passou por estas dificuldades. Filho de um pedreiro imigrante de São Tomé e Príncipe, estudou no Liceu Salvador Correia, a escola das elites de Luanda, onde ingressou no MPLA, movimento que contestava o poder colonial português.


Exilou-se no país vizinho, Congo-Brassaville, em 1961, de onde parte para a União Soviética (aliado do MPLA) para estudar engenharia petrolífera. Regressou a Angola em 1970 e lutou na guerrilha como especialista em comunicações.


Em 1975 foi nomeado coordenador do departamento de Negócios Estrangeiros do MPLA e, depois da independência, em Novembro desse ano, foi nomeado ministro dos Negócios estrangeiros, do governo liderado por Agostinho Neto, o primeiro Presidente de Angola. Quando este morreu, vítima de cancro, em 1979, José Eduardo dos Santos foi escolhido pelo MPLA para liderar o país, então em plena guerra civil.


O engenheiro, então com 37 anos, prometeu reconstruir o país, mas a guerra com a UNITA, partido apoiado pelos Estados Unidos, continuou até 2002, altura em que se alcançou a paz, após o assassínio de Jonas Savimbi, líder do MPLA.


Apesar de ter anunciado que deixaria o cargo em 2001, manteve-se na liderança do país até este ano. Entretanto abandonou a ideologia marxista que defendia e implementou uma economia de mercado no país, que se tornou no segundo maior produtor de petróleo de África e um dos mais corruptos, segundo a agência de notícias Afrol News.

Ao mesmo tempo, perseguiu os opositores. Em 2015 prendeu e acusou de rebelião 14 activistas pró-democracia, incluindo o rapper Luaty Beirão, que iniciou uma greve de fome de 36 dias. Foi libertado em Junho de 2016.


Segundo a revista Forbes, o presidente tomou controlo das principais empresas e indústrias do país. E quando isso foi tornado ilegal pelo parlamento angolano, José Eduardo dos Santos passou o controlo a um dos cinco filhos, Isabel dos Santos, a mulher mais rica de África, com uma fortuna avaliada em quase 3.000 milhões de euros.


O próprio terá acumulado um património de 18,5 mil milhões de euros, segundo o site sul-africano Sunday World.