Luanda - Um reputado jornalista qualificou-o como um político que se movimentou todos estes anos, à vontade, por entre os pingos da chuva sem se molhar. A imagem salvaguarda João Lourenço – o futuro Presidente da República de Angola se o seu partido, MPLA, vencer as eleições gerais deste ano -, do lamaçal de suspeitas, desconfianças e acusações que atingiram muitos dos seus colegas de política, sobretudo nos círculos judiciais portugueses, em torno de alegados casos de corrupção, branqueamentos de capital e outros actos ilícitos em regra despoletados pela sedução do poder. 

Fonte: Opais
De uma mão cheia de virtudes associadas à figura e personalidade de João Lourenço, o facto de o político não se encontrar sob acosso da Europa «justiceira», muito em particular dos ruídos constantes que ululam a partir de Lisboa, é um facto que contribui enormemente para a notável empatia que emergiu, sem esforço, um pouco por toda Angola, tanto em sectores do universo partidário, como no resto da sociedade.

Fora de portas, segundo todas as indicações sopesadas, foi também essa a maneira como o nome do putativo Presidente de Angola se acolheu. Intramuros, o que dá densidade à comummente considerada «escolha certa» do novo candidato é, com certeza, a transversalidade e abrangência do poder que emana do percurso feito desde que se incorporou, bastante jovem, nas lides políticas.

O ter podido cumprir missões em numerosos e diferentes palcos treinou-o para valências que, no tempo futuro que lhe está reservado, serão de uma utilidade e exigência enormes.

De facto, a experiência de vida parece ser a aliada mais sublime do «cabeça de lista» do MPLA se vier a precisar de usa-la – como parece que há-de acontecer, no entendimento de que serão os «camaradas» os vitoriosos do voto novamente neste pleito -, porque atravessa da caserna ao gabinete ministerial, da tribuna legislativa à mobilização política. Sendo General (na reserva), João Lourenço domina os códigos do diálogo com os militares, um sector sempre tão nevrálgico na aritmética dos equilíbrios que se necessitam em sociedades como a nossa, perpassadas pelo peso de quem fez a guerra, arriscou a vida, sobreviveu a situações limites.

Ter os do uniforme como iguais será, claramente, uma vantagem de que se queixaria muito um candidato sem passagem pela caserna. Os anos como Vice-Presidente da Assembleia Nacional adestraram- no nos labirínticos caminhos da negociação política, onde ganhar e perder são, vezes sem conta, factores da equação colocados de um mesmo lado. Conhecer a manha dos políticos, perceber os seus silêncios expressivos, as histerias e os «sim» disfarçados de «não» no apogeu do debate escaldante, da negociação intrincada, é arte que se aprende com o tempo, no laboratório da política activa, como sucedeu com João Lourenço no velho edifício da rua 1º Congresso do MPLA.

Ser ministro dá ferramentas para se dominar a administração pública, os meandros do funcionalismo público, com as grandezas e pequenezes de um trabalho que implica paciência e conhecimento da idiossincrasia do angolano trabalhador: lidar com salários, segurança social, as expectativas dos chefes de família e até questões tão mundanas e prosaicas como as dispensas para óbitos e funerais, tudo isso dá endurance, tudo isso permite que um (futuro) Chefe de Estado tenha familiaridade com o que acontece para lá do protocolo e do mais alto da gestão governativa.

Ter sido governador de província, pertencer ao topo da hierarquia do seu partido, saber das angústias, engajamentos e ansiedades de uma campanha eleitoral (teve papel activo em todos os pleitos já realizados no país), facilita o diálogo com as massas. Os comícios aproximam os políticos do Povo e não foram poucos os testes por que João Lourenço passou já, na capital e fora dela.

A celebração dos 60 anos do MPLA tiveram nele o orador central, como nos recordaremos certamente todos. Estão lançados os dados, a corrida tem meta à vista. Agora é fazer acontecer: «A minha única prioridade neste momento é trabalhar para vencer as eleições e depois veremos », em síntese, a missão, nas palavras do próprio.