Luanda - Chama-se "Zwela", que significa "fala" em kimbundo, e serve para observar as eleições gerais de 2017 em Angola, mas também para denunciar casos de corrupção e violação de direitos humanos. A aplicação já está disponível.

Fonte: DW

A questão da transparência nas eleições gerais em Angola, previstas para agosto deste ano, tem sido posta em causa pela oposição e pela sociedade civil. Precisamente para monitorizar o processo, a Friends of Angola, uma organização não-governamental sedeada nos Estados Unidos da América (EUA), lançou esta sexta-feira (10.02), em Luanda, uma aplicação inédita no país.


A plataforma chama-se "Zwela", que significa "fala" na língua nacional kimbundo. E é para isso mesmo que serve: para falar sobre eleições e política, mas também para denunciar episódios de corrupção, violência e violação dos direitos humanos.


Para tal, os cidadãos terão de dispor de smartphones, telefones android ou ipads. O primeiro passo é instalar no telemóvel a aplicação, que já está disponível na internet - tal como fazem, por exemplo, com o skype no computador, explica o ativista e professor universitário Domingos da Cruz, que integra este projeto de cidadania.


O segundo passo é a criação de uma conta que vai permitir ao cidadão enviar vídeos, sons e fotografias para a nova plataforma contra a corrupção. Depois, basta seguir os passos indicados. "É bastante simples", garante Domingos da Cruz.


Eleições são prioridade


Tendo em conta o momento que o país vive, será dada prioridade às informações relacionadas com as eleições gerais previstas para agosto de 2017.


O Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), partido que governa Angola desde 1975, já apresentou a lista dos seus candidatos à Assembleia Nacional, encabeçada pelo atual vice-presidente do partido e ministro da Defesa, João Lourenço.


Durante o lançamento da plataforma levantaram-se dúvidas sobre a credibilidade das informações que serão enviadas pelos cidadãos. Domingos da Cruz reconhece que há riscos, mas diz que a plataforma está preparada para filtrar determinados dados - como imagens pornográficas, por exemplo.


Por enquanto, os cidadãos não poderão ver as informações enviadas, que posteriormente serão compiladas num relatório.


Alcino Kuvalela, secretário nacional para mobilização urbana do principal partido da oposição angolana, a União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), o único partido presente no lançamento, mostrou-se preocupado com esta questão. O ativista Domingos da Cruz prometeu ter em consideração a preocupação.


A aplicação "Zwela" também foi apresentada esta quarta-feira (08.02) na Universidade George Mason, na Virgínia, EUA.


Outros exemplos


A iniciativa é inédita em Angola, mas não noutros países. No Quénia, depois da onda de violência gerada pelas suspeitas de corrupção e fraude eleitoral nas eleições presidenciais em 2007, foi criado o Ushahidi (que significa "testemunho" em suaíli), um software que permite aos eleitores denunciar ocorrências e marcá-las num mapa.


Esta tecnologia já foi usada com vários objetivos. Em 2016, por exemplo, ajudou a monitorizar as eleições nos EUA. Foi criado um site para que os eleitores norte-americanos registarem irregularidades.


Em Moçambique, o movimento cívico Olho do Cidadão também monitorizou as eleições gerais de 15 de outubro de 2014 através do projecto "Txeka-lá", uma plataforma online para os cidadãos poderem partilhar informações sobre a ida às urnas.