Luanda - Angola volta a ser notícia na imprensa internacional, pelas piores razões: a detenção no sábado do correspondente da Agência Francesa de Notícias (AFP) no Uíge. O «crime» do jornalista Nsimba Jorge foi por falta de autorização para falar com os sobreviventes/feridos da tragédia que, na fatídica sexta-feira, se abateu sobre um dos estádios de futebol naquela cidade tendo causado quase uma vintena de mortos e dezenas de feridos.

Fonte: Facebook

Desta vez, não foi a SIC-Notícias a «imiscuir-se» nos problemas internos de Angola nem o jornalista e investigador Rafael Marques a queixar-se nos areópagos internacionais sobre a falta de liberdade de imprensa e a repressão aos profissionais do ramo em Angola. São mesmo as autoridades locais que, num assomo de excesso de «zelo» policial e arrogância à mistura, estão a nos «incardir» lá fora… Por este e outros abusos é que o nosso país aparece regularmente na «listas negras» dos Estados que mais perseguem e violam os direitos dos jornalistas. Até quando um jornalista precisa de Autorização para falar com as suas fontes? Só mesmo em Angola!


O silêncio comprometedor da Polícia


Quarenta e oito horas depois de ter procedido à detenção ilegal, na cidade do Uíge, do jornalista Nsimba Jorge, correspondente da Agência Francesa de Notícias (AFP) naquela cidade, a Polícia Nacional (PN) continua, estranhamente, remetida a um comprometedor silêncio.


As notícias convergem no sentido de que a detenção do repórter ocorreu à saída do hospital depois de ter lá se deslocado para colher depoimentos dos sobreviventes da tragédia que, na véspera, assolara aquela cidade.


Esperava-se que, no mínimo, a corporação policial emitisse um comunicado a dar conta da abertura de um inquérito para o apuramento de responsabilidades sobre o triste episódio, que não só resultou num grave violação à liberdade de imprensa e exercício de profissão, como também contribuiu para «incardir» ainda mais a péssima imagem do nosso país fora de portas.


Se até à data, a chefia do órgão policial não tomou nenhuma posição sobre o assunto, pode-se inferir que a mesma aprovou, ainda que de forma tácita, a conduta dos seus efectivos. Ou, num outro ângulo de leitura, a PN estará a colher dividendos com esta detenção como um sinal de aviso aos demais profissionais que ousem pisar a «linha vermelha»? Não será esta uma forma indirecta de infundir o medo no seio da classe, de coarctar a liberdade de imprensa e silenciar os jornalistas?