Luanda  - Na abordagem de Conceitos Científicos, a Geografia Politica, na essência, é o Estudo da influência de factores económicos, geográficos e demográficos sobre a política global de um País, sobretudo no que concerne a política externa, a diplomacia e as relações internacionais, tanto a nível bilateral, quanto a nível multilateral. Ou seja, a potencialidade económica, tecnológica e infra-estruturas de um país ou de uma região geográfica, são factores essenciais na formulação de uma estratégia global de um Estado em relação aos outros Estados, com interesses variáveis relacionados com o mesmo espaço geográfico. Nesta ordem de ideia, toma-se em consideração um conjunto de dados demográficos, o nível de desenvolvimento, os costumes, as crenças, o sistema político, etc.

Fonte: Club-k.net

Pois, as características geográficas, vistos por vários ângulos, determinam a Geoestratégia (terreno, meteorologia, clima, demografia, economia, cultura, religião, etc.) de um País, quer na formulação da política global, quer na definição da estratégia militar. Os Países mais avançados, com grande potencial tecnológico e financeiro, possuem uma visão global mais acentuada da Geoestratégia mundial. Sendo, neste respeito, os seus interesses estratégicos não se limitar apenas a realização de riquezas, mas sobretudo, a afirmação da sua hegemonia politica e do seu monopólio financeiro, em busca de recursos naturais, sobretudo os minerais estratégicos.

 

Acima disso, as potências mundiais, com taxa elevada de sobrepovoamento e de explosão demográfica, como a China, a visão Geoestratégica desses países assenta-se igualmente na «expansão demográfica». Fomentando novos povoamentos noutros países, de cariz agro-industrial e pecuária, nas áreas vitais, onde existir interesses económicos e militares. Neste caso específico, Africa representa um dos exemplos mais concretos, onde se encontra colonatos chineses espalhados por toda parte. Esta matéria será tratada oportunamente na profundidade, com dados fiáveis e substanciais.

 

Dizendo que, o que me leva a fazer esta reflexão extensa é para poder elucidar, na profundidade, os factores que envolvem a conjuntura internacional, nesta época contemporânea de viragem, sobretudo a nível das três potências mundiais, nomeadamente: os Estados Unidos da América, a Rússia e a China. Alias, este texto, de cunho científico, destina-se ao mundo dos académicos, dos estudiosos, dos analistas, dos pesquisadores, dos políticos e dos militares, que lidam com matérias complexas do mundo contemporâneo. Afirmando que, a estratégia das grandes potências mundiais, desta época conturbada, tem maior incidência sobre a Europa Ocidental, o Médio Oriente e o Continente Africano. Visto que, o surgimento do Donald Trump, como Presidente dos Estados Unidos da América, fizera surgir um novo cenário na conjuntura internacional, bastante opaco.

 

Este novo contexto de relação bilateral entre as potências ocidentais e as potências asiáticas tivera início durante o consulado do Presidente Vladimir Putin, sem que tenha sido bem percebido pela Administração Obama. O novo quadro da Geoestratégia do Médio Oriente desenvolvia-se gradualmente sem que Presidente Barack Obama tivesse a noção exacta da estratégia russa.

 

Pois, a anexação da Crimeia e a invasão do Leste da Ucrânia estavam bem enquadradas numa vasta estratégia, que visava criar uma zona tampão na Europa do Leste. Mas, pela complexidade da situação, não teria sido sensato avançar frontalmente naquele flanco, sem encontrar uma resistência tenaz por parte da NATO. A estratégia de fazer barulho no Sul, para atacar no Norte era a via mais realista e menos arriscada.

 

Portanto, a visão do Presidente Vladimir Putin, neste contexto, foi a mais razoável. Pois, esta estratégia consistia em implantar-se na Síria; fomentar unidades radicais compactas islamitas; desestabilizar esta região; e agravar a instabilidade político-militar na Turquia, de tal sorte que esta desvinculasse da NATO e afastasse da União Europeia. Tendo-se implantado militarmente na Síria, no Líbano, no Irão e na Turquia, dar-lhe-ia o pleno acesso ao Mar Mediterrâneo, com capacidade de ameaçar directamente o Flanco Sul da Europa. Ou melhor, desde Guerra Fria a Rússia tem estado a esperar por uma oportunidade a fim de conquistar um espaço privilegiado ao longo do Mar Mediterrâneo, dentro do alcance das fronteiras terrestres e marítimas da Europa Ocidental.

 

Importa dizer que, a instabilidade do Médio Oriente resultaria no êxodo migratório, em grande escala, com destino aos países ricos da Europa Ocidental, com o seguinte impacto: a) expansão demográfica árabe; b) alteração sociocultural da Europa; c) fonte de mão-de-obra e de expertise; d) expansão do islamismo.

 

Sem dúvida, a Rússia ficou com a visão exacta da importância estratégica do Egipto nesta região. Basta olhar para o Canal de Suez, o Mar Vermelho, o Golfo de Áden e o Mar Arábico, que se situa no Oceano Indico, como ponto de entrada e de saída ao Mar Mediterrâneo. O Mar Vermelho, em si só, alberga, nas suas margens, num lado: Arabia Saudita e Iémen; noutro lado: Egipto, Sudão do Norte, Eritreia, Djibouti, Etópia e Somália. A partir do Egipto torna-se viável o acesso à Líbia, um espaço estratégico de relevo no Mar Mediterrâneo, que permite desguarnecer a Europa Ocidental; controlar o Norte da Africa; e bloquear o Estreito de Gibraltar, que liga Espanha e Marrocos.

 

Note-se que, o Médio Oriente é o maior produtor do Petróleo a nível mundial. Este «Oil Commodity», de importância estratégica mundial, é comercializado e escoado para diferentes partes do Mundo através das vias marítimas dos Oceanos Índico e Atlântico. Africa, neste contexto, situa-se no Coração do Planeta Terra, como «Eixo-Giratório» das Vias Marítimas, em todas direcções, a todos Continentes. Portanto, o Canal do Suez, o Golfo de Áden, o Estreito de Gibraltar e o Cabo de Boa Esperança (da Africa do Sul) são espaços marítimos de extrema importância, no contexto da Geoestratégia Mundial. Quem poder controlar essas quatro Vias Marítimas, em torno de Africa, écapaz de pôr em causa a livre circulação de pessoas e bens, o comércio mundial e a segurança da Europa.

 

Feita esta leitura, do Médio Oriente, torna-se difícil perceber a Visão do Presidente Donald Trump que visa isolar o Mundo Árabe, isto é, o Médio Oriente e o Norte de Africa, sob pretexto de impedir a penetração do terrorismo islâmico nos Estados Unidos da América. Pois, esta política, isolacionista, não só radicaliza o sentimento árabe contra os EUA, mas sobretudo, afasta os EUA dos seus Aliados Árabes; afasta-se do maior mercado petrolífero; perde o controlo das Vias Marítimas; e deixa o Médio Oriente e o Norte da Africa sob alçada da Rússia.

 

Alias, é óbvio o facto de que, a estratégia do Presidente Donald Trump implica, sem dúvida nenhuma, o desdobramento do teatro militar da Europa do Leste e do Médio Oriente para dentro do território americano. Em vez de conter o inimigo dentro do seu território, mantê-lo lá restrito, é-lhe dado o espaço vazio para progredir livremente até a Costa Pacifica dos Estados Unidos da América. Nestas circunstâncias, Moscovo sentirá aliviado com esta política de «proximidade», ou seja, de «encolhimento geoestratégico», que tem sido defendida pelo Presidente Donald Trump. O «isolacionismo», na doutrina politica, preconiza o isolamento de um País do cenário internacional, mediante a recusa em formar ou manter alianças; e/ou, assinar acordos bilaterais ou multilaterais com outros Estados soberanos ou Organizações multilaterais.

 

Nesta perspectiva, a NATO ficará menos eficaz no seu Flanco Sul do Mar Mediterrâneo, e será obrigada a desdobrar as suas Forças da Europa do Leste para a Frente Sul, ao longo do Mar Mediterrâneo. O que, de certo modo, irá aliviar a concentração de contingentes da NATO ao longo da Fronteira Oeste da Rússia, com o alcance fácil ao Moscovo. Esta evolução, de desdobramento militar, terá repercussões drásticas sobre a segurança dos Países da Europa do Leste (Estónia, Latia, Lituana, Belarus, Geórgia, Polonia, Ucrânia, Bulgária, Romania, Hungria, Rep. Czech, Eslovénia, Bósnia e Albânia), que livraram-se da influência Soviética durante o desmoronamento do Império Soviético.

 

A redução significativa da presença americana na Europa, a nível da NATO, irá obrigar os Países da Europa Ocidental e da Europa do Leste tomar iniciativas de rapprochement ao Moscovo, criando uma nova constelação e um novo clima de relação e de cooperação bilateral entre as partes. O que, desde já, indicia o colapso da União Europeia e o divórcio anunciado entre os EUA e a Europa Ocidental.

 

O fenómeno Brexit, isto é, a saída do Reino Unido da União Europeia, que está estimulado pelo Nacionalismo Europeu, tem potencialidade enorme de desagregar totalmente a União Europeia. Alias, esta perspectiva, da desintegração da União Europeia, e da retirada dos EUA da NATO, fazia parte da estratégia do Vladimir Putin. Uns dos motivos que fez com que a Rússia interferisse nos mecanismos eleitorais americanos, à favor do Donald Trump. Há quem diga que o Referendo Britânico tivesse tido uma interferência informática russa, tendo resultado na Vitória dos Pro-Brexit, que viabiliza o divorcio entre o Reino Unido e a União Europeia.

 

O Desmembramento da União Europeia, como instituição politica e económica, vai enfraquecer a capacidade militar da NATO em fazer face ao Poderio Militar Russa na Europa do Leste, na Região Mediterrâneo e na Região Báltica, dos Países Escandinavos. Além disso, a restruturação da NATO, sem a União Europeia, será o grande desafio. Pois, não existe a confiança mútua entre os Europeus, e não tem um «país-líder», capaz de congregar os Estados-Membros da NATO, no sentido de encontrar consensos na restruturação da Organização.

 

Em termos do potencial económico, financeiro, tecnológico e know-how, a Alemanha estaria em condições de liderar a Europa. Alias, já tem estado a liderar a Europa através da poderosa Chanceler, Senhora Ângela Merkel. Só que, o passado histórico da Alemanha, dos seus passivos durante as duas Guerras Mundiais, faz com que haja reticências por parte de Berlim assumir a responsabilidade de liderar a Europa. Alias, o peso politico, tecnológico e económico-financeiro da Alemanha, dentro da União Europeia e no Mundo, tem sido o bicho-de-sete-cabeças ao Reino Unido, que constitui um dos motivos do BREXIT.

 

O Reino Unido, neste caso específico, repugna categoricamente a liderança da Alemanha. Por outro lado, nas condições actuais do Presidente Donald Trump, de contestações generalizadas, dentro e fora do país, bem como da sua Politica Externa, é difícil que tenha autoridade suficiente sobre as Potencias Europeias e sobre a NATO. A não ser que venha alterar significativamente a sua postura e as suas politicas.

 

Todavia, o futuro da União Europeia tornar-se-á explicita depois das eleições gerais da França e da Alemanha, no decurso deste ano de 2017. Além disso, o início das Negociações do BREXIT, no final do mês de Março de 2017, irá ditar a postura dos restantes 27 Estado-Membros da União Europeia. Pois, sente-se que, o Reino Unido tem a estratégia que se baseia no princípio de dividir para melhor reinar. Esta política consistirá em oferecer pacotes de propostas diferenciados aos Estados-Membros da União Europeia, de acordo com interesses específicos de cada país ou de cada grupo de países. Isso permitirá não só alcançar acordos favoráveis para o Reino Unido, mas sobretudo, meter uma cunha no seu seio, de modo a dividi-los.

 

O ponto assente, nesta viragem, é a estratégia subtil e oculta da China, que terá reflexos profundos sobre a nova Ordem Mundial. Enquanto os EUA da América e a Rússia estão metidos em disputas militares no Médio Oriente e na Europa do Leste, a China está avançar silenciosamente em Africa, na América Latina e na Asia. Expandindo-se economicamente; dando créditos bancários; buscando acesso aos minerais estratégicos; construindo infra-estruturas; promovendo regimes corruptos e autocráticos; criando uma elite burguesa; fomentando colonatos nos países menos avançados; e projectando o seu «modelo politico»; que é de cariz totalitário e do capitalismo dirigido.

Ao passo que, internamente faz abertura aos investimentos das potências ocidentais; cria condições favoráveis de out-sourcing de capitais estrangeiros; busca novas tecnologias mais avançadas dos países industrializados; moderniza a economia; constrói infra- estruturas mais modernas; capitaliza na produção massiva; no investimento de grande massa de bens; no comércio externo em grande escala; na exploração intensiva da mão- de-obra barata; na maximização de lucros; e no combate acérrimo à corrupção. Tornando-se robusto o Exercito Vermelho, com capacidade tecnológica de ponta, com presença efectiva no Espaço, como potência nuclear.

Interessa realçar o facto de que, contrariamente a Rússia, a China goza de relações de cooperação privilegiadas com os Países Ocidentais, em vários domínios da economia, tais como: No comércio, na indústria pesada, nos investimentos, na transferência de tecnologias, nas instituições financeiras, na pesquisa e na resolução de conflitos. Parece um paradoxo, mas na verdade, o Tesouro Federal dos EUA é assegurado, em parte, por capital financeiro chinês. Embora, de facto, existir zonas cinzentas de conflitos com os EUA, nomeadamente: Na questão de Taiwan, na guerra comercial e nas vias marítimas do Mar Sul da China. De qualquer modo, essas divergências, acima mencionadas, não ainda atingiram o nível de ruptura, como acontece com a Rússia, que se encontra sob Sanções Económicas dos Países Ocidentais, devido a anexação da Crimeia e a invasão do Leste da Ucrânia.

 

Esta abordagem analítica leva-nos a perceber que, esta problemática mundial tem o potencial de afectar fortemente a estabilidade e o equilíbrio a nível das Nações Unidas. À medida que vai-se agravando as rivalidades entre as três Super Potencias Mundiais, mais difícil tornará o diálogo e o consenso no seio do Conselho da Segurança das Nações Unidas, ficando sem poder decisório, que é determinante para a resolução dos conflitos mundiais. Repare que, as Nações Unidas funcionam na base das organizações continentais e regionais, que criam Anéis entrosados e interligados, com interesses específicos de cada organização multilateral, que convergem nas Nações Unidas, criando lobies entre si, em busca de consensos sobre matérias de interesse comum.

 

Portanto, o colapso da União Europeia, como organização continental, dando o seu peso a nível mundial, poderá desfazer os consensos no seio do Bloco Ocidental, sob a liderança dos Estados Unidos da América. Isso, em si só, terá reflexos negativos sobre a viabilidade do Conselho de Segurança das Nações Unidos. Por outro lado, a China e a Rússia têm pontos-de-vistas aproximados no Conselho de Segurança das Nações Unidas, como membros permanentes deste Órgão, com simpatia de muitos Países Africanos e da América Latina. Esta aproximação estratégica entre a China e a Rússia não significa que haja harmonia e consenso absoluto entre si, como potencias asiáticas.

Repare que, a China tem uma visão diferente sobre a Geoestratégia Mundial, com políticas opostas. A China aposta-se numa estratégia pacífica, assente na expansão económica, como instrumento politico. Ao contrário da Rússia, que usa a força militar como instrumento politico. Acima disso, as duas potências asiáticas disputam a liderança do Continente Asiático. No ponto de vista histórico, sociológico e antropológico nenhuma das duas potências, em referência, estaria disposta a ceder e a submeter-se à supremacia de outra. Em termos tecnológico, como suporte da capacidade militar, as ambas potências aproximam-se, num equilíbrio relativo e variável. No ponto de vista económico, a China supera a Rússia, e este último depende do primeiro.

 

A implantação da China no Mundo é mais significativa, credível, estável, crescente e sustentável do que a Rússia, que se encontra ainda na fase de recuperação do desmoronamento do Império Soviético, que resultou da Guerra Fria. Alias, a China é a segunda economia do mundo a seguir os Estados Unidos da América, com a taxa de crescimento mais elevada. A disputa pelo Mundo situou-se a nível da China e dos EUA. Porém, os acontecimentos actuais no Médio Oriente e na Europa do Leste colocaram novamente a Rússia no centro da contenda entre o Leste e o Oeste, como major players.

 

Contudo, a experiencia da Guerra Fria revela que, enquanto a Rússia e os EUA digladiar-se, numa guerra de desgaste, a China vai continuar consolidar a sua economia e expandir-se gradualmente ao Mundo. A não ser que os seus interesses estratégicos venham a ser ameaçados sobremaneira, de tal forma que, seja forçada a entrar no conflito. Nessas circunstâncias, será difícil que ela se alie às potências ocidentais.

 

Em suma, o Mundo está a encaminhar para o desmantelamento da Ordem Mundial Contemporânea que se baseia nas instituições multilaterais, controladas pelas grandes potências capitalistas, sob controlo dos detentores de grandes capitais – os donos do Mundo. Na verdade, o multilateralismo, veiculado pelas Nações Unidas, tem os seus defeitos que são inerentes dos factores da globalização, bem conhecidos. Todavia, a sua vantagem consiste na protecção dos países fracos pelo Direito Internacional, que funciona a nível das organizações multilaterais, que vincula todos os Estados-Membros das Nações Unidas, em pé de igualdade.

 

Logo, o colapso destas instituições multilaterais, a ser substituídas pelo sistema bilateral, deixará países pequenos, fracos e menos avançados à merce das grandes potências. Será difícil, nessas circunstâncias, combater a ditadura, a corrupção e o terrorismo internacional. Um conjunto de princípios e valores democráticos e do Estado de Direito ficarão fortemente abalados e adiados, sem mecanismos institucionais eficazes para sua efectivação.

 

Queira, nesta lógica, referir-se aos valores e princípios fundamentais, como a liberdade; a igualdade; a justiça; a multirracialidade; a distribuição justa da riqueza; a solidariedade; o sufrágio universal; o multipartidarismo; a liberdade de imprensa; a liberdade de consciência; a boa governação; a prestação de contas; a fiscalização dos actos do governo; a separação de poderes; a convivência pacífica; a coexistência pacífica entre as Nações; a tolerância; a transparência; a reciprocidade; o dialogo; o consenso; e a autodeterminação.

Luanda, 15 de Fevereiro de 2017