Luanda - A UNITA, maior partido da oposição angolana, considerou esta quarta-feira que o Presidente da República, José Eduardo dos Santos, “decidiu sair sem sair” ao anunciar o nome de João Lourenço como candidato às eleições gerais deste ano. O secretário-geral da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), Franco Marcolino Nhany, falava em conferência de imprensa, em Luanda, para fazer uma análise do momento político atual de Angola.

Fonte: Club-k.net

CONFERÊNCIA DE IMPRENSA
15 DE FEVEREIRO DE 2017

Análise do Momento Político do País
Minhas senhoras e meus senhores!
Caros jornalistas!


Permitam-me que manifeste o meu apreço pela pronta disponibilidade dos órgãos de comunicação social aqui presentes, em terem aceite o nosso convite, mesmo a tangente.


Antes de mais, devo referir que em nome da direcção do Partido, inclinamo-nos diante das vítimas da tragédia do UÍge, por ocasião do jogo inaural do Girabola esperando, contudo, que sejam apuradas o mais rápidamente possível as devidas reponsabilidades e sejam tornadas públicas, porquanto, os relatos indicam que a polícia terá contribuido, de alguma forma, para o pânico, ao utilizar gás lacrimogéneo para dispersar a multidão impaciente junto dos portões do estádio. Também testemunhas falam da prisão de jornalistas que tentavam cobrir com isenção a tragédia do Uíge, no fim-de-semana. Sabe-se que um dos jornalistas que testemunhou o evento foi detido, o que atenta contra a liberdade de imprensa.

Minhas senhoras e meus senhores!
Caros jornalistas!

Convido-vos a reflectirmos em conjunto sobre o momento político do país que é dominado pelo processo eleitoral que, diga-se, em abono da verdade, tem sido caracterizado por acções de pré-campanha eleitoral, algumas delas já vão evidenciando a violação de requisitos essenciais das regras e princípios, como seja a igualdade de tratamento, tal como consagrado no Art. 7º da Lei nº22/10 de 3 de Dezembro – Lei dos Partidos Politicos.


Por tudo quanto vemos, ouvimos e constatamos, o país continua refém de uma oligarquia de comerciantes, que se apresenta como políticos. Esta oligarquia utiliza o poder público, para agredir as liberdades fundamentais, incluindo a liberdade de imprensa. O próprio serviço público de rádio e de televisão, foi transformado pela oligarquia em máquina de propaganda do Partido-Estado.


O Partido-Estado é mesmo o patrono da corrupção em Angola. É ele que promove a prática da corrupção como politica oficial do país. Corrupção na gestão das finanças públicas; corrupção nos acessos à universidade pública; corrupção na polícia; corrupção nos serviços de identificação civil; corrupção nos serviços de água e luz; corrupção na gestão da Caixa de Segurança Social; corrupção eleitoral. Sim, vejamos, a democracia é também um jogo, como tal, obedece a regras e princípios que devem ser cumpridos com rigor pelas partes envolvidas.


O árbitro, como juíz do jogo, tem de ser equidistante e imparcial, portanto, isento de qualquer conotação com qualquer das partes do jogo.


Acontece, porém, que no jogo democrático para a disputa eleitoral, em agosto de 2017, o MAT, cujo Ministro é o Dr. Bornito de Sousa é, assumidamente, o responsável pela organização do registo eleitoral, concomitantemente, o Dr. Bornito de Sousa é candidato a deputado a assembleia nacional, ocupando a segunda posição na lista do seu Partido MPLA, o que lhe habilita a ocupar a pasta de vice-presidente da república, na eventualidade de vitória do MPLA nas urnas.


Os angolanos não se devem distrair com a música que a oligarquia está a tocar nos últimos dias sobre uma eventual mudança trazida por ela mesma. O facto de o líder da oligarquia afirmar que não se candidata à eleição não vai, por si só, mudar nada. O que vai mudar Angola é o voto do povo para tirar a oligarquia toda, não apenas uma pessoa. Quem faz parte da oligarquia que se apoderou dos recursos de Angola para empobrecer os angolanos; uma pessoa que alinha na corrupção, não vai combater a corrupção, e por isso não pode ser o Presidente que os Angolanos precisam para fazer a mudança.


Nos últimos tempos temos sido, frequentemente, questionados sobre a pseudo-sucessão de José eduardo dos Santos por João Lourenço. Quanto a nós a posição é clara:


O Senhor Presidente do MPLA, decidiu sair sem sair. Continua a dirigir o MPLA na sua lógica de que é o Partido que inspira a acção do governo e, tanto é assim que, por aberração, os Governadores ou Administradores são, antes demais, primeiros Secretários do MPLA; o Senhor Presidente do MPLA continua a impor,a todo custo, a sua vontade ao MPLA, mas quem executa a sua vontade passa a ser uma outra pessoa, que não foi eleita por sufrágio directo e secreto, como mandam os seus estatutos e os princípios democráticos universalmente aceites. Esta pessoa que foi imposta ao MPLA chama-se João Lourenço.


Não haja ilusões! Esta pseudo-sucessão enquadra-se apenas na lista de candidatos a deputados do MPLA, e não na presidência do MPLA, e muito menos na presidência da República porque, nas Repúblicas, não há sucessões, há eleições e as eleições em Angola serão em Agosto de 2017. E ali sim, haver vamos, porque o agravamento da miséria, do desemprego galopante, da má qualidade dos serviços de saúde e educação, além de outros males que vão enfermando a sociedade, provocados por este governo caduco e mentiroso que, permanente e sistematicamente, viola os direitos do povo, são a realidade do país que temos. E o MPLA já não pode melhorar o que ele mesmo estragou. Portanto, a herança que o Presidente da República, ainda em funções, vai deixar ao país, depois de 38 tenebrosos anos de corrupção e má gestão, é um país com bancos falidos, na bancarrota, instituições corrompidas, estradas esburacadas, um país governado por comerciantes que obrigam o povo a pagar cada vez mais caros os produtos da cesta básica, só para aumentarem os lucros das suas empresas. A herança que o MPLA deixa para os angolanos, é um país rico com mais de 20 milhões de pobres.


Os Angolanos vivem a expectativa das eleições para, enfim, conseguirem a alternância que a UNITA se propõe realizar, devolvendo a dignidade do povo angolano, bem como o resgate dos valores mais elementares, na criação de emprego e promoção da solidariedade nas familias e nas instituições, de forma a garantir igualdade de oportunidades e justiça social.


Convirá igualmente ressaltar que, cada vez mais que nos aproximamos da data das eleições, que esperamos sejam convocadas nos termos da Constituição, vamos, e com muita apreensão, constatando actos de intolerância política no seio das populações, contra todas as expectativas de paz e estabilidade nacional, para propiciar um ambiente de tranquilidade, transparência e segurança do processo eleitoral, com vista a evitar o sindroma do medo, hesitação e a consequente abstenção, o que seria danoso para o processo.

Vejamos alguns casos mais recentes:

Na aldeia de Kondamba, comuna de Chipeio, Municipio de Ekunha, Provincia do Huambo, a 11 de Fevereiro de 2017, militantes do MPLA, numa operação combinada com a Defesa Civil, aproximaram-se do local da concentração de pessoas durante o acto político da UNITA, programa devidamente informado às autoridades, aproximaram-se dizia, com pedras, paus, catanas e azagaias atiraram-se contra os militantes indefesos da UNITA, e causaram ferimentos graves a 10 pessoas e danos materiais avultados.


Outro facto aconteceu no Municipio de Kamanongue, Provincia do Moxico, em que no dia 13 de Fevereiro de 2017, o 1º Secretário Municipal do MPLA e Administrador de Kamanongue, Senhor Zaqueu Isaac, reuniu todos os Partidos da oposição e sobas, tendo ordenado de forma determinante a retirada de todos os símbolos dos Partidos Politicos em referência. A Policia Nacional e os Sobas foram chamados a envolverem-se na operação, sob pena de ficarem sem os seus subsídios. Apenas para citar alguns factos e acontecimentos recentes.

Minhas senhoras e meus senhores!
Caros jornalistas!

De entre várias estratégias que o regime do MPLA vem engendrando, a mando do seu Presidente, destaca-se a campanha de aliciamento e instrumentalização de ex-militares, quadros e dirigentes da UNITA com a finalidade de os levar a abandonarem o seu Partido e integrarem as fileiras do MPLA. O estratagema consiste no simulacro de oferta de emprego para concentrar ex-militares que, surpreendentemente, viram chegar jornalistas da TPA e da RNA para o registo audiovisual de pretensos membros da UNITA que se passavam para o MPLA. Noutros casos, a farsa contou, além de emprego, com promessas vãs de grandes somas de dinheiro, casas e viaturas, em troca de declarações gratuitas na Televisão e na Rádio públicas, contra o seu Partido e os seus dirigentes.


Muitos dos compatriotas enganados e utilizados nesta companha hedionda, acabam por regressar à causa em que sempre acreditaram, com relatos repugnantes da sua triste experiência. É o caso vertente dos companheiros Nicodemo Domingos Miguel e Fonseca Manuel Sabalo que decidiram de livre vontade reingressar nas fileiras da UNITA.

Como os factos falam por si, coloco a vossa disposição os referidos companheiros para, na 1ª pessoa, pronunciarem-se sobre o que viram, viveram e têm para contar.

Muito obrigado pela atenção.