Luanda - Os grandes homens que lideraram a luta para a independência do nosso país, tinham um sonho em comum: construir um país unido onde a vida do cidadão fosse melhor do que a que se tinha durante a dominação colonial. Infelizmente, eles não foram capazes de ter esse sonho como o principal fator motivacional para a construção da nação. Apesar do primeiro Presidente da República, Dr. Agostinho Neto, ter lançado o slogan “um só povo, uma só nação”, o país andou dividido desde então.

Fonte: Club-k.net

Para todos nós nascidos a partir dos meados da década de 70 até aos meados da década de 2000, teremos pela primeira vez a oportunidade de ver Angola com um Presidente diferente de José Eduardo dos Santos. Como se pode esperar, a substituição de um líder que tenha conduzido um país por quase quatro décadas gera muitas expectativas. Por um lado, existem aqueles que se indagam se alguém poderá fazer algo melhor do que ele e, por outro, estão aqueles que querem ver mudanças naquelas áreas que acham terem sido relegadas para planos inferiores. Qualquer que seja o lado para o qual estejamos inclinados, devemos admitir que a alternância/mudança de liderança é necessária.

 

Do próximo presidente da República eu espero que tenha muita coragem para endereçar algumas das questões mais prementes que poderão ajudar a construir a “nação que os pais da nossa independência sonharam”. As nações que mais se desenvolveram são aquelas que, apesar da pluralidade ideológica, sempre tiveram algumas questões nacionais em que todas as forças vivas se reviam. Uma agenda sobre as questões macros em que todos os stakeholders políticos se revêm.

 

Apesar da agenda nacional naqueles países ser flexível e adaptável, todos os partidos que assumem o governo não se distanciam muito dela. No nosso caso, a nossa divisão vem já desde os primórdios da nossa independência, quando não se conseguiu desenhar um plano de nação onde todos se pudessem rever. Infelizmente, até aos dias de hoje continuamos na mesma. Os mesmos princípios de exclusão e exclusividade que nortearam aquele período continuam nos dias de hoje. O Angolano é avaliado de acordo à sua afiliação partidária e não pela sua capacidade ou habilidade de contribuir de forma efetiva para a construção de um país melhor para todos. Angolanos com grandes capacidades e habilidades/bem preparados não são tidos em conta por não serem “dos nossos”. Não se consegue desassociar o discurso de “nós e eles”. Existem sectores em que está mais do que evidente que a sua fraca produtividade ou inércia se deve à fraca liderança aí existente e, mesmo assim, nada é feito porque as pessoas que lá se encontram são “dos nossos”.

 

Devemos ser um país que sabe aprender e usar o aprendizado para melhorar o nosso desempenho. As nossas práticas mostram que aprendemos muito pouco com os nossos erros. Alguns dos erros que nos dividiram e que levaram o país à longa e destrutiva guerra continuam a ser cometidos até aos dias de hoje. A menos que aprendamos com os nossos erros, corremos sérios riscos de voltarmos a cometê-los. É uma ilusão, por exemplo, pensar-se que a guerra já não é suscetível de acontecer entre nós! Precisamos de aprender! Precisamos de ouvir o grito de todas as forças da sociedade.

 

O próximo Presidente precisa eliminar os vícios e más práticas que têm atrasado o desenvolvimento do país. Deve colocar o país a frente do partido que o colocou como cabeça de lista. Em alguns momentos deverá ser implacável e usar a disciplina, se necessário for. Não deverão haver favorecimentos, quando os interesses do país estiverem em causa.

 

Somos poucos demais para o país e os desafios que temos. Por isso, o próximo Presidente deverá ter a coragem de congregar e restituir o sonho de muitos angolanos.

 

Deverá igualmente ter a coragem de atrair os angolanos na diáspora que têm vontade de regressar para construírem a terra que os viu nascer e resguardar-se dos yes men e dos bajuladores.

 

Não será possível resgatar-se o amor à nação enquanto os nossos valores culturais forem promovidos de forma tímida. Tenhamos coragem em salvar as nossas línguas nacionais, introduzindo-se a instrução na língua materna de cada região. Esta é a prática na maioria dos países africanos e nem por isso estão cientificamente mais atrasados do que muitos de nós que só sabemos falar e escrever as línguas de origem europeia, muito pelo contrário. Devemos perder esse mau hábito de associar o nível intelectual com o requinte com o qual nos pronunciamos na língua portuguesa. Os tão propalados valores éticos que se dizem querer resgatar, têm uma ligação direta com as nossas línguas nacionais. Construamos uma verdadeira agenda nacional de consenso que ajude todos os angolanos a usufruírem os ganhos da independência.