Luanda – Conhecemos que Angola foi parida tendo como base ideológica o Marxismo- leninismo, assente num Socialismo de fachada adoptado fruto da rejeição do apoio dos EUA na altura ao MPLA; ao transitarmos para uma democracia, teremos o desafio de democratizar também os sectores estratégicos do Estado. A Educação Libertadora é um pilar chave para o desenvolvimento da Nação, pelo que ela aborta o perigo de uma nova Ditadura.

Fonte: Club-k.net

A universidade é também uma maternidade. Ela, difere das demais, pelo facto de parir homens com os espíritos cultivados, exercitados e instruídos; capacitados a identificar problemas; munidos com as ferramentas de solução teórico- práticas a que estes correspondem. Dizem que é nela, onde se produzem boa parte das teorias e do conhecimento científico, e também onde se produzem boa parte das lideranças nos vários sectores da sociedade...

 

É lamentável como em pleno século XXI ainda assistimos sobretudo em África, um enorme desvio de propósitos no Sistema de Ensino Superior – assistimos uma invasão dos propósitos partidários neste sector particularmente sensível - instalando o caos que vem corroendo como gangrena os valores éticos-morais; a decência; a capacidade de produção de resposta da dita classe intelectualizada aos problemas diversos da vida cultural, socioeconómica e tecnológica... retardando o desenvolvimento de grande parte das sociedades africanas; instaurando a instabilidade, mantendo o atraso civilizacional.

 

No caso de Angola, que já teve a fama de ser das maiores potências em crescimento económico de Africa (uma pena que tal não tenha servido nem contribuído para o seu desenvolvimento nas áreas que deviam ser as mais estratégicas do Estado - Pelo contrário do que se esperava com as volumosas quantidades de dinheiros arrecadados em tempo de “Paz” na venda maioritariamente do petróleo e dos diamantes) vem albergando em si um dos mais condenados e míseros sistemas de ensino da Região.

 

E, isto deve-se em parte, ao factor “corrupção endémica” perpetuado pela má distribuição e desvio das receitas dedicadas a este sector; falta de vontade e malicia da corja de ladrões que para permanecerem agarrados ao Poder, não se importam em manter o seu próprio povo na obscuridade, negando-lhes o que eles mesmos e seus filhos têm de melhor – uma formação de qualidade – que os permite galgar para cima e fugir da desgraça que eles mesmo criaram para a maioria do povo, que vive ainda num estado de miséria intelectual, dado ao doentio sistema de Ensino que têm acesso...


A corrupção que se verifica a nível do Ensino Superior angolano, pode ser considerada como uma febre institucional, se tivermos em conta que ela começa logo de cima; em forma de negócio privado, familiar ou de gangue; mas o que nos preocupa é a continuidade dela dentro das nossas universidades, faculdades, institutos e escolas superiores; já não se sabe ao certo o que estamos produzindo em nossas salas de aulas; já não vemos os nossos estudantes como sujeitos dos quais precisamos motivar a utilização de todo o seu potencial intelectual; aliás, parece haver um convénio entre professores e alunos, no que tange a práticas menos boas... Vemos fugir a dignidade dos nossos docentes; o brio e a responsabilidade e seriedade do ofício que sustentam...

 

Hoje o que o nosso aluno mais anseia é o diploma em detrimento da aquisição de competências; é esta mensagem que no passa em salas de aulas. E boa parte dos nossos docentes universitários estão mais preocupados em aumentar as suas horas extras para engordarem as suas contas bancárias que propriamente pautar pelo rigor no Ensino e na Avaliação dos seus discentes; e como se não bastasse, hoje criticamos muito a qualidade dos nossos estudantes universitários... todavia, já parámos a nos questionar além dos seus Diplomas como vai a saúde dos nossos docentes a nível do Ensino Superior?

 

“...Nem toda a gente que tem Diploma deve ter a possibilidade de ser docente universitário” afirmou o escritor e docente universitário, Sebastião Dissengomoka, numa entrevista cedida a VOA, e corroboro perfeitamente com sua apologia. Assim como temos péssimos estudantes em nossas universidades, estes mesmos, poderão ser os futuros docentes... e quem sabe que não são estes que nos ensinarão amanhã?

 

O Estado angolano sabe e conhece perfeitamente a algazarra que permeia os solos do Ensino Superior, adentrando as nossas instituições, Públicas/Privadas. O PR angolano, orgulhoso com tal situação, sorridente, confirmou esta triste realidade na entrevista que cedeu alguns anos à SIC portuguesa “Em Angola não temos quadros capacitados” quadros que o seu próprio governo vem formando há 37 anos sob sua liderança. Levando-nos a crer que a crise que se vive em Angola com relação ao Ensino Superior, não é uma crise, é um projecto de Estado, a fim de manter o povo distante do verdadeiro propósito dos livros... pois não se admite, que fábricas de cerveja são inauguradas quase que aleatoriamente mas a qualidade do Ensino sobretudo o Superior permanece de tangas. Se é que algum dia o fizemos, mas, há quantos anos deixamos de produzir intelectuais com alguma dignidade em nossas usinas académicas?

 

Como afirmou o futuro candidato à Presidência da República, João Lourenço, que seu alvo será o “combate a corrupção generalizada” sugerimos que comece com uma reforma de verdade no Sistema de Ensino Superior, que passa pela despartidarização do mesmo; a academia não tem cor, nem jura fidelidade aos símbolos partidários. Caso contrário, Angola e os angolanos continuarão perdendo tempo, com as pseudoformações, colocando qua (dra) dos no lugar de quadros. Que haja reforma na contratação de Docentes e na Admissão de estudantes a nível do ensino Superior. Haja!

Luanda, 23 fevereiro, 2017.