Luanda - A imprensa pública e alguma privada parece ter mudado a sua estratégia de actuação, depois das sistemáticas denúncias sobre o papel vergonhoso e subserviente que tem estado a desempenhar no tratamento desigual dos concorrentes às próximas eleições presidenciais deste ano.

Fonte: Facebook

Além do exagerado tempo de cobertura que os órgãos de comunicação social do Estado e alguns privados dispensaram ao cabeça de lista do MPLA nas visitas que ele efectuou às províncias de Huíla e Lunda Norte, eles não tiveram também o cuidado de «filtrar» os actos de natureza partidária aos de índole estatal. Por exemplo, aquando da visita à Huíla, eles noticiaram que JLo, havia inaugurado, na pele de candidato do MPLA, um hospital público local. Ora, tratando-se de um empreendimento social construído às expensas do Estado não é politicamente correcto que seja um dirigente de um partido, ainda que poder, a inaugurá-lo, mas sim membro do Executivo.


Presumo que terá sido por rebate de consciência que o jornal o País, ao anunciar na sexta-feira a visita de JLo ao Bié, evitou fazer qualquer ligação aos actos de massa que estavam agendados à inauguração de algumas infra-estruturas sociais no município de NHarêa.


Numa tentativa quase desesperada de dividir as águas, o matutino limitou-se a dizer que o «Governo vai inaugurar um sistema de electrificação e ruas asfaltadas» naquela localidade, sem contudo mencionar quem as iria inaugurar.

 

Se esta informação continha uma peça solta, ela acabaria, porém, por ser enquadrada pelo Jornal de Angola que, na sua edição de sábado, não se coibiu de afirmar que JLO inaugurou no referido município as «principiais ruas da vila completamente reabilitadas, num percurso de 12 Km».

 

Embora tivesse sido notória a intenção do articulista em separar as águas, ele acabaria, porém, por tropeçar ao firmar que o cabeça de lista do MPLA inaugurou tais infra-estruturas na qualidade de ministro da Defesa, o que não deixa de pôr em causa a promiscuidade entre os actos do partido e os do Estado.



A falta de uma fronteira nítida entre os actos do candidato do Partido e as suas funções de membro do Governo leva-me a concluir que JLo tem estado a dividir-se em dois: no período da manhã, ele apresenta-se como candidato do MPLA e, à tarde, traja a «farda» de ministro da Defesa e dá o rosto como membro do Governo. Ou vice-versa.


O oportunismo em colher dividendos políticos com esta dualidade de papéis e de tal sorte que já não se sabe onde começa o papel de candidato partidário às eleições presidenciais de 2017 e acabam as suas funções de membro do Executivo, para não falar da usurpação de competências institucionais, já que a inauguração de infra-estruturas da saúde, obras públicas e energia, deveriam ser feitas pelos titulares dos respectivos pelouros.


Pelo andar da carruagem, não me surpreenderia se um dia observasse JLo a inaugurar, no período da manhã, uma girafa de água, na pele de candidato do MPLA, e, no período da tarde, assistisse a inaugurar chafarizes, na qualidade de ministro da Defesa…


De forma a garantir transparência e lisura ao processo não seria ideal que JLo fosse libertado das funções de ministro da Defesa e se dedicasse única e exclusivamente às tarefas de candidato do seu partido às eleições presidenciais?