Benguela  - O dicionário político angolano é uma “enciclopédia vernácula” em evolução. Acabou nascendo mais um novo vocábulo “vergonha”. Pois, deambula na nossa vida impunemente. Depois de termos vívidos bons momentos quer na movimentação de pessoas e bens quer nos benefícios dos “novos edifícios” com a reabilitação das vias de circulação, infra-instruturas e afins. Porém, hoje sentimos vergonha por causa dos “erros de fabrico”. E que inexistem responsabilidades política e judicial aos que ardilosamente construíram impérios com esses defeitos.

Fonte: Club-k.net

Vergonha é não termos tido até agora um padrão de reconciliação nacional efectivo, aceitação na diferença e na convivência pacífica. Porquanto eternizamos a intolerância sobretudo nas massas.

 

Vergonha é apelidarmos de “revús e bajus” um dos outros, quando devíamos ser todos cidadãos. Não obstante, termos posicionamentos contraditórios. Mas devíamos ser equilibrados mais patriotas até porque ninguém é detentor da “verdade absoluta”.

 

Vergonha é que muitos dos discursos políticos são imaturos e da “pré- cabunga”. Não há cordialidade de “ideias ” e os cérebros estão formatados ao retrocesso. Portanto, caminham em sentido proibido.

 

Vergonha é que as máquinas dos partidos políticos, essencialmente os tradicionais são dominadas por um clube de amigos. Pois inexiste um verdadeiro ensaio de democracia interna.

 

Vergonha é perder eleições consecutivas e não se demitir da liderança. É em períodos pré e pós eleitorais trazer a caduca tese da fraude, talvez para dar boleia aos distraídos. Quando há nitidamente incapacidade de ler os sinais do tempo.

 

Vergonha é assistirmos segundo a segundo a imprensa dócil e jornalistas esfomeados a fazerem um autêntico activismo propagandista. Exibindo prazerosamente as cores do coração, preenchendo os espaços mediáticos: uma voz, uma posição, um sentido. E outros que só é matéria noticiosa o maldizer. Logo é uma “ grande vergonha”.

 

Vergonha é a Constituição permitir manifestações sem autorização, e nós reprimirmos com cães e polícias. Principalmente, aquelas que desagradam o regime. Apesar de que nem todos “manifestantes são manifestantes” porquanto com olhos vedados observamos que não é cidadania é pura “propaganda pessoal”.

 

Vergonha é que quando nas reuniões e manifestações pró-regime, há aplausos e cobertura total com coros religiosos e entrevistas demoníacas.

 

Vergonha é confundirmos o país com o cidadão. É defendermos alguém que foi às compras no estrangeiro e voltar arguido. Quando devíamos ser prudentes e apelarmos “ justiça sem pressão”.

 

Vergonha é oferecer bens de primeira necessidade em plena actividade partidária. Afinal, fazemos propositadamente o povo mendigo. Que vergonha!

 

Vergonha é vermos o demérito e o cartão como padrão da ascensão politica e governativa.

 

Vergonha é o facto de apesar dos investimentos avultados na electrificação do país, o problema continua graúdo. E que as oscilações da energia eléctrica sejam ainda motivo de júbilo dos miúdos da sanzala. Vergonha é que sem esse “bem precioso”, não há uma verdadeira industrialização do país.

 

Vergonha é fugirmos dos serviços nacionais de saúde e partimos no primeiro avião à Barcelona. Quando devíamos transmitir aos cidadãos confiança nas nossas instituições.

 

Vergonha não é termos poucas vagas para ministros ou deputados. Mas sim falta de rotatividade e critérios objectivos para selecção dos melhores quadros.

Vergonha não é só comermos carne importada, é deveras, muito mais do que isso.

 

Domingos Chipilica Eduardo