Luanda  - A Rede Angolana das Sociedades de Serviços da Sida (Anaso) estima que apenas 3.000 crianças infetadas com HIV-Sida em Angola estão a fazer terapia antirretroviral, o equivalente a cerca de dez por cento do total.

Fonte: Lusa

A informação foi prestada hoje à Lusa pelo secretário-executivo daquela Organização Não-Governamental (ONG) angolana de combate à doença, assumindo a preocupação com o nível crescente de menores sem acesso a medicamentos ou tratamentos.

 

"Estamos a falar de um país com cerca de 26 milhões de habitantes, onde cerca de 30.000 crianças estão neste momento infetadas pelo HIV, e dessas apenas cerca de 3.000 estão a ser acompanhadas e fazem terapia, porque a taxa de cobertura do tratamento a nível das crianças ainda é muito baixa", reconheceu o responsável.

 

António Coelho precisou que o nível do corte de transmissão vertical também é muito baixo, esclarecendo que entre 100 crianças filhas de mães seropositivas em Angola, 24 nascem igualmente seropositivas.

 

"Portanto, o quadro também não é muito bem e neste particular temos de continuar a lutar para melhorar", lamentou.

 

Em Angola, segundo a Anaso, a epidemia do HIV-Sida afetou já cerca de meio milhão de pessoas, uma taxa de prevalência de 2,1% da população total, sendo que apenas 215.000 estão a ser acompanhadas, mas apenas 78.000 estão a beneficiar de terapia antirretroviral.

 

A Anaso revela igualmente que têm vindo a crescer em Angola os números da contaminação ou transmissão dolosa do HIV-Sida: "Continuamos a ter pessoas em Angola que, com alguma estabilidade financeira, vão passando de forma consciente o vírus para outras pessoas. Estamos preocupados porque em média recebemos entre cinco a 10 denúncias por dia, uma situação que tem estado a contribuir assustadoramente para o número de novas infeções".

 

Apesar da lei que pune estes casos, António Coelho disse que a contaminação dolosa requer novos métodos e estratégias, defendendo por isso maior a aposta na mudança de comportamento das pessoas, por considerar que "o processo é bastante lento e demorado".

 

Angola vive desde finais de 2014 uma profunda crise económica e financeira decorrente da quebra para metade nas receitas petrolíferas, o que tem vindo a obrigar à contenção nas despesas públicas, com reflexos na situação socioeconómica das famílias.

 

A Anaso lamenta a diminuição de verbas para o setor da Saúde e revela que em consequência da crise no país existem adolescentes a iniciarem a atividade sexual de forma precoce e relatos de crianças a iniciarem atividade de prostituição com apenas nove anos, devido às dificuldades.

 

"Estamos a receber relatos de pessoas que se estão a prostituir com nove, 10 e 11 anos, isso requer da nossa parte uma intervenção rápida no sentido de mudarmos o quadro, mas seguramente que isso tem outras fatores. É preciso, de facto, criar condições para combater a pobreza", explicou.

 

De entre as ações da Anaso para 2017 constam a realização de campanhas públicas de sensibilização e educação à população em relação aos perigos que a doença apresenta e ainda uma aposta na adesão da população ao teste.

 

"Menos de 20% da população angolana realizou o seu teste do HIV. Este é um número bastante baixo, aí também deverá recair a nossa aposta neste ano", concluiu António Coelho.