Benguela - Já era de esperar! Na verdade, todas as vezes que o MPLA organiza algum evento de massas surgem informações de funcionários públicos coagidos. E pior: tem sido recorrente. Neste sábado, não fugirá à regra. Todos devem ir à marcha provincial de apoio ao cabeça de lista do MPLA às eleições gerais de Agosto próximo.

Fonte: Pérola das Acácias

Por exemplo, em algumas escolas do 1º e 2º ciclos do ensino geral público das cidades do Lobito, Catumbela e Benguela existem circulares, supostamente assinadas pelos directores, a mando do Comité Provincial do MPLA, com informações sobre a obrigatoriedade dos professores, funcionários administrativos, alunos, além de outros funcionários públicos a se fazerem presentes no largo 1º de Maio, local de concentração de uma marcha que deverá culminar no largo de África.

 

“Este comportamento, digamos demente, só encontra fundamento na partidarização do aparelho do Estado e da sociedade. Ou seja, o partido MPLA faz do Estado a sua vaca leiteira e os funcionários públicos, erradamente, têm sido levados nessa corrente herdada do Estado de Partido único”, desabafou um professor de uma das escolas da cidade de Benguela que denunciou ao Pérola das Acácias.

 

O docente, que falou sob anonimato, acrescentou: “A partidarização de instituições de Estado e de algumas organizações por parte do partido no poder já começa a roçar o ridículo. O funcionamento das escolas em relação às actividades promovidas pelo MPLA é o exemplo de como aquela formação política se intromete e comanda tudo”. Um outro professor lembra que “as escolas são públicas e sustentadas pelo erário público, desta forma seria suposto os seus responsáveis absterem-se, a qualquer título, de fazer política, coisa que os ‘cérebros’ das escolas, numa desesperada tentativa de salvarem os ‘tachos’, não fazem e tornaram-se autênticos servidores das ordens partidárias”.

 

Entre as instituições escolares que dão rosto à campanha, saltam à vista a Luís Gomes Sambo, Magistério Primário, isto em Benguela. No Lobito estão na linha da frente da “coação” o Instituto Médio de Formação de Professores e o PUNIV. No extremo do conluio onde foi parida esta ‘ideia de obrigarem todos os funcionários públicos’ para a marcha do dia 4 de Março é o cúmulo do abuso de respeito, uma violação a liberdade de escolha partidária que vai ganhando espaço na sociedade, ao galgar perante o silêncio cúmplice de quase todos, numa altura em que o país se prepara para realizar as quartas eleições gerais desde que se tornou independente em 1975.

 

Com uma “máquina” de mobilização com mais de 40 anos de experiência, o MPLA deveria abster-se de acções, em muitos casos são realizadas com chancelaria de alguns gestores públicos e dirigentes partidários, que na ânsia de mostrar trabalho pontapeiam todas as regras éticas e legais consagradas na constituição da república, mesmo que para isso arrastem para a lama o “maioritário”.

 

Para actividade de sábado, não havia necessidade de obrigar ninguém, seria um barómetro de como a população, em especial os militantes do MPLA, encara João Lourenço. Mas como em política vale tudo, nem sempre o sensato é aconselhável, os dirigentes do partido no poder optaram pelo caminho mais fácil e seguro. Não querem correr o risco de verem o largo de África às moscas, o que nessa fase seria um sério aviso à navegação para uma Benguela que é somente a terceira maior praça eleitoral do país.

 

Mas, por outro lado, é mais uma que o MPLA vai coleccionar num castelo de mentiras sobre a sua real capacidade de aceitação junto do eleitorado. Mais do que ninguém, os dirigentes do MPLA sabem que em democracia o voto deve ser livre, acima tudo no momento de ir à cabine de voto ao eleitor lhe é salvaguardo o direito à privacidade, ou seja, no nenhum responsável de escola estará presente no local para fiscalizar o voto. Cuidado comas falsas enchentes, uma vez que não determinam a victória.

 

Contactado pelo Pérola das Acácias, o 2º Secretario do Comité Provincial em Exercício, Zacarias Davoca, mesmo sem gravar entrevista, refutou a existência de qualquer pressão sobre as direções das escolas. Segundo Davoca, informações do género são histórias recorrentes. “Não haja dúvida que os nossos adversários usam sempre os mesmos argumentos para colocar em causa a capacidade e mobilização e aceitação do MPLA”, disse o político.

 

O também secretário para os assuntos eleitorais adianta que todo o trabalho de mobilização foi feito. Por isso, garante que vão levar para o largo de África um número considerável de militantes, como sinal de vitalidade do partido governante em Angola.