Luanda - Os membros do Comité Central da Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA), um dos três movimentos que lutaram pela independência do país nas décadas de 60 e 70, suspenderam, neste sábado, o presidente dessa formação partidária, Lucas Benghy Ngonda, por alegados "desvios graves da linha política do partido".  

Fonte: Angop

Comité Central suspende presidente do partido

Preocupados com a situação do partido e visando evitar que a sua existência fique comprometida, tomaram a decisão durante uma reunião realizada em Luanda, sob iniciativa de 50 porcento (+1) dos membros do Comité Central.

No seu comunicado final, os membros do Comité Central fundamentam que é obrigação do presidente a manutenção do espírito e da prática sistemática de diálogo, unidade, tolerância, imparcialidade e reconciliação entre todos os membros da FNLA.

Consideram que Lucas Ngonda tornou-se "num factor de divisão e de instabilidade no partido".

Denunciam que o presidente da FNLA se recusou a fazer uma concertação pedida por militantes, quadros e dirigentes, mandatados em assembleia do partido, no dia 30 de Julho de 2016.

Explicam que foi proposta a resolução dos mal-entendidos existentes no partido, através do diálogo directo e franco, no quadro das estruturas partidárias.

Fundamentam ainda a sua decisão com alegadas "violações constantes e permanentes" dos estatutos, por parte do presidente do partido, que afirmam não cumprir "com as resoluções, princípios, e abusar das suas funções".

Afirmam que Lucas Ngonda "toma medidas de carácter pessoal, sem cumprir com as normas estabelecidas no Regulamento de Organização e Funcionamento das estruturas do partido e no regulamento de disciplina do militante da FNLA".

Neste contexto, os membros do Comité Central da FNLA indicaram Fernando Pedro Gomes para exercer as funções de presidente interino do partido, Nsansi Ya Ndele Manuel, como vice-presidente e Ndonda Nzinga como secretário geral interino.

Recomendam o alargamento do actual Comité Central, através de emendas estatutárias, a serem propostas pelo Bureau Político, e a criação de uma comissão preparatória do congresso extraordinário inclusivo, convocado para os dias 28 a 30 de Abril do ano em curso.

Para este congresso extraordinário inclusivo, são convocadas todas as alas da FNLA, tendo por objectivo fundamental a unidade do partido e a adopção da estratégia eleitoral para as eleições gerais deste ano.

Ao intervir no acto, Fernando Pedro Gomes disse que vai procurar buscar a unidade do partido, mantendo o dialogo com todas as partes em conflito e traçando uma estratégia visando ressurgir esta força política, formada em 1961.

Lucas Ngonda reage

Reagindo ao anúncio, o porta-voz da FNLA, Jovete de Sousa, disse que o encontro em referência foi realizado à margem dos estatutos do partido, porque as reuniões dos órgãos centrais são convocadas pelo presidente do partido, ouvido o Bureau Político.

De acordo com Jovete de Sousa, alguns dos promotores da reunião já tinham sido sancionados pelo Bureau Político e pelo Comité Central, por indisciplina, e que a sua recente aparição tem como objectivo criar a confusão para desacreditar os esforços da direcção da FNLA e inviabilizar qualquer sucesso do partido nas próximas eleições. O porta-voz da FNLA disse ainda que a direcção está preparada para lutar contra todas as tentativas que visam a sua desestabilização. “A FNLA vive uma crise que dura há vários anos, com duas direcções, e começou antes mesmo da morte do líder fundador, Holden Roberto”, explicou o porta-voz, para acrescentar que, em 2012, após um congresso, Lucas Ngonda foi confirmado presidente da FNLA pelo Tribunal Constitucional.

Num comunicado distribuído ontem à imprensa, a direcção da FNLA apela aos militantes no sentido de redobrarem os esforços contra os intrusos que procuram destruir uma obra que custou a vida a muitos compatriotas.

“É nossa obrigação lutar para salvaguardar os interesses superiores do partido”, lê-se no comunicado da direcção da FNLA, que acrescenta: “estejam vigilantes como sempre estiveram contra os comerciantes que procuram a vida política para escaparem ao desemprego e satisfazerem interesses pessoais”.

A direcção garante que acabará por derrotar todos os aventureiros que não se conformam com a legalidade institucional, procurando impor-se pela força ou pela manipulação das consciências menos avisadas. Nas eleições de 2012, a FNLA elegeu apenas dois deputados para a Assembleia Nacional.

Lista dos deputados

Ainda no decorrer deste mês, a FNLA apresenta a lista de candidatos a deputados para a quarta legislatura da Assembleia Nacional, adiantou ao Jornal de Angola o secretário nacional adjunto para a Informação, Mobilização e Propaganda do partido.

Tendo em conta os estatutos do partido, Joaquim Manuel disse que o presidente do partido, Lucas Ngonda, deve ser o primeiro da lista de candidatos a deputados, mas o porta-voz adjunto afirmou que a decisão definitiva é tomada na reunião do Comité Central. Joaquim Manuel desmentiu que haja conversações com Ngola Kabangu, líder de outra ala que já estará a preparar um congresso do “partido” que deve ser realizado ainda este mês. “Ele (Kabangu) é um militante do partido e, pelo que eu saiba, não existe qualquer plano de conversações nem negociações”, disse Joaquim Manuel, para quem “a FNLA está unida”.

O primeiro-secretário provincial da FNLA no Zaire, Miguel Ginga, revelou recentemente ao Jornal de Angola que o antigo líder do partido, Ngola Kabangu, pretende realizar um congresso ainda no decorrer deste mês, na cidade de Caxito. Miguel Ginga considerou que um congresso a ser convocado por Ngola Kabangu não teria respaldo legal, por, segundo ele, violar os estatutos do partido. “A direcção do partido legalmente reconhecida é a de Lucas Ngonda, razão pela qual um congresso convocado por Ngola Kabangu é ilegal.”

Apelou, por outro lado, aos cidadãos ainda indecisos para fazerem o registo e a actualização dos seus cartões eleitorais, com vista a participarem nas próximas eleições.

A FNLA obteve no sufrágio de 2012 um total de 1,13 porcento dos votos, assegurando dois deputados na Assembleia Nacional. Lucas Ngonda foi confirmado presidente da FNLA em 2012, pelo Tribunal Constitucional, depois de divergências com Ngola Kabango, na senda da morte do fundador do partido Holden Roberto.