Luanda - Quase dois milhões de crianças menores de cinco anos em Angola sofrem de mal nutrição crónica moderada e mais de 700 mil sofrem de mal nutrição grave. Ou seja, são 38 crianças em cada 100. Os dados constam do Inquérito de Indicadores Múltiplos e de Saúde (IIMS). No ano passado, só no Bié mais de 150 pessoas morreram. A mal nutrição é responsável pela metade de mortes de crianças no mundo.

Fonte: NG
Compilando dados relativos ao ano passado, no Bié, Moxico, Cunene, Huíla e Luanda podem ser contabilizadas mais de 300 mortes por mal nutrição em mais de quatro mil casos registados. Só no Bié foram registadas 151 mortes em 2020 casos detectados.

Dados do Inquérito de Indicadores Múltiplos e de Saúde (IIMS) mostram que cerca de 38 por cento das crianças sofrem de malnutrição crónica moderada e 15 por cento de malnutrição grave. De acordo com o censo populacional de 2014, existem, em Angola, quase cinco milhões de crianças menores de cinco anos, sendo que quase dois milhões sofrem de malnutrição crónica moderada e que mais de 749 mil sofrem de mal nutrição grave.

Ainda de acordo com o relatório, a prevalência de malnutrição crónica moderada é de 32 por cento entre as crianças residentes nas zonas urbanas e de 46 por cento nas rurais. Bié tem o índice mais alto, com 51 por cento. E por sua vez, Cabinda, com 22 por cento, é a província com o índice mais baixo. Quanto à malnutrição aguda, o Cunene regista o mais alto nível com 11 por cento contra os três por cento de Zaire e Kwanza-Sul.

O inquérito, elaborado no ano passado, mostra ainda que existe uma relação inversa entre o nível de escolaridade da mãe e os três indicadores da malnutrição, ou seja, quanto menor é o nível, maior é a prevalência da malnutrição nas crianças (crónica, aguda e baixo peso).

Um relatório do Fundo das Nações Unidas para a Alimentação (FAO) divulgado em 2014, mostrava que o país registava uma redução acentuada no número de pessoas que padeciam de malnutrição para a metade, durante os últimos 25 anos. “Até 1992, a taxa de pessoas subnutridas era de 63,3 por cento do total da população, enquanto em 2014 fixou-se em 18 por cento colocando Angola, desta forma, na lista de países que alcançaram progressos face ao Objectivo de Desenvolvimento do Milénio traçado para 2015”, refere o relatório.

Além do relatório da FAO, no mesmo ano, um outro estudo, mas da autoria da organização não-governamental Oxfam, denominado ‘Good Enough to Eat’ (‘Suficientemente bom para comer’), colocava Angola entre os três países com maior índice de sub-nutrição do mundo, devido ao custo dos alimentos e à volatilidade dos preços.

O estudo avaliou a situação alimentar de 125 países, em todo o mundo, tendo em conta quatro questões: se as pessoas comem o suficiente, se conseguem pagar os alimentos, se os alimentos são de qualidade e quais os malefícios na saúde provocados pela alimentação (obesidade, diabetes).

A ameaça silenciosa mundial

O Relatório sobre a Nutrição Mundial é o único estudo anual independente e abrangente sobre a situação da nutrição global. O relatório alerta que a mal nutrição é um problema endémico no mundo, resultando tanto da fome quando da obesidade e que 44 por cento dos países enfrenta “níveis muito severos” de subnutrição e obesidade. Isso significa que uma em cada três pessoas, em todo o mundo, sofre de algum tipo de desnutrição, conclui o estudo, realizado em 129 países. Os responsáveis pelo estudo avisam a comunidade internacional que se não “actuar energeticamente” vai ser impossível acabar com a malnutrição até 2030. O estudo assinala que, pelo menos, 57 dos 129 países analisados apresentam altos níveis tanto de desnutrição, principalmente no atraso do crescimento e anemia, como de obesidade e excesso de peso nos adultos.

Segundo a pesquisa, quase metade das mortes dos menores de cinco anos se deve à mal nutrição, que, junto com regimes alimentares inadaptados, constitui o primeiro risco para a saúde pública. Entretanto, o número de menores de cinco anos com excesso de peso aproxima-se do número que apresenta um peso muito abaixo do desejado.

Em termos orçamentais, são necessários mais de 70 mil milhões de dólares para se alcançar os objectivos de redução no atraso de crescimento, da mal nutrição severa, de lactância e de redução da anemia. A UNICEF, no seu relatório do ano passado, estima que 7,5 milhões de crianças no mundo estão em risco de mal nutrição aguda. E classifica a doença como uma “ameaça silenciosa” para as crianças. Acabar com a malnutrição no globo é um dos pilares da agenda sustentável da ONU, que estabeleceu diversos objectivos globais para melhorar a qualidade de vida das populações até 2030.

Barriga inchada, cabelo castanho, pele seca…

A malnutrição pode ser o resultado de uma diminuição da ingestão (desnutrição) ou de consumo excessivo (hipernutrição). Ambas as condições são resultado de um desequilíbrio entre as necessidades corporais e o consumo de nutrientes essenciais.
Alguns sintomas em crianças incluem:

Falha de crescimento: isto pode manifestar-se como falha a crescer a um ritmo normal e esperado em termos de peso, altura ou ambos;
Irritabilidade, lentidão e choro excessivo, juntamente com mudanças de comportamento como ansiedade e défice de atenção;
A pele torna-se seca e escamosa e o cabelo pode ficar seco, sem brilho, parecendo palha. Além disso, pode haver também perda de cabelo.
Falta de força nos músculos;
Inchaço do abdômen e pernas. O abdômen é inchado por causa de falta de força dos músculos do abdômen. Isso faz com que o conteúdo do abdômen a protuberância para fora. As pernas estão inchadas devido ao edema. Isso é causado pela falta de nutrientes vitais. Estes dois sintomas são observados em crianças com desnutrição grave.

Malnutrição grave

Surge em tempo de guerra, seca ou desastres, quando a oferta de alimentos é interrompida. Também pode acontecer com pessoas que se alimentam mal a maior parte do tempo, diminuindo a quantidade de comida ou aumentando a quantidade de energia que necessitam.