Luanda  - Vovó Kapaça, uma então anciã de uma idade incalculável, cuja referencia eram as grandes efemérides que o tempo as levou fora da memória. Mais conhecida por Kapaça Kawenga nos círculos familiares dos anciãos da época. A vovó participou nas caravanas de mercadores da região Kitundo, Ebo para o Sumbe (compras) e nas actividades de rendas (ku lenda) actividade destinada a abertura de picadas e estradas do Amboim a Cela, onde obrigatoriamente todos os adolescentes eram escolhidos para prestar serviço obrigatório repetidamente por um período de tempo. Também viu o Comboio do Amboim a apitar pela primeira vez.

Fonte: Club-k.net

Vivia com o Kariamba, Ngana Palanca dos Caxongonos, antigo guerreiro tradicional, cujas Histórias sobre a sua cerimónia de iniciação metiam medo.

A vovó, morria mesmo de saúdes da infância que o tempo jamais traria. Repetia as canções da sua mocidade e soltava as lágrimas que significavam saudades.


De entre todas as histórias e estória, vai-se contar a primeira que bem analisada cruza com a luta anticolonial e é bíblica(Gênesis: 2.21.23)A mulher em todos os momentos esteve sempre ao lado do homem a sofrer heroicamente as privações, em todas revoluções.

Tambem ra esposo de Kariamba vivia amistosamente com a rival e nunca deram a entender a ninguém que eram rivais.

UMA DAS ESTORINHAS DE VOVÓ KAPASSA

A heroína das caravanas de mercadores

Atribui-se um título a história que se segue, lembrando desde já as caravanas de mercadores. Eram mulheres e homens que se deslouvavam ao Sumbe, local onde se faziam trocas comerciais entre os indígenas e os portugueses. As viagens eram longas e precisam de acampar para chegar até ao destino. Os acampamentos eram feitos de chingue(1).

Era dado um alarme de aviso para comunicar a Saída para que a caravana parta.

Certa vez, um casal atrasou-se e a caravana partiu. No intuito de acompanhar os companheiros, seguiram-nos a passo faísca para que isso fosse possível. Não valeu a iniciativa.

Era no cair do dia, assim que encontraram o primeiro acampamento decidiram passar a noite. Era hábito quem se deslocasse levar uma catana e uma zagaia talvez para simbolizar a masculinidade. Por volta das 18 horas ovem o rugir de leões, eram também um casal. O machão que era muito activo nas suas intervenções, mesmo na aldeia, quando ouviu e pensou na vida que ia já findar depois dos leões os devorar, desmaiou. A Companheira por mais que chamou por ele, o homem não acordava. Reflectiu que o temor não era a solução, puxou pela catana do marido e meteu-a no fogo. O leão, faminto preferiu passar a frente da leoa e meteu logo o focinho na porta da cabana rugindo. A mulherzinha não esperou, nem um segundo para salvar a vida dela e do marido. Aproveitou quando o bicho abriu a boca e com todas energias enfiou a esquentada catana na boca do bicho e de seguida puxou-a. O animal volteou o acampamento e foi cair morto desse. O mesmo se deu com a leoa.

Quando o homem despertou resolveram regressar, combinando que seria feio, segundo o marido se essa acção fosse divulgada como da mulher.

Logo que chegaram a aldeia transmitiram ao sobado e aos demais que o valentão derrotou o casal de leões e salvou a vida a companheira.

Em homenagem realizou-se uma festa depois do regresso da caravana.

Num dia desses, a senhora confidenciou a uma amiga sobre o que se tinha passado na realidade. Não parou por aí, a transmissão de boca em boca fez chegar ao sobado que resolveu convocar outra reunião e nesta assembleia decidiu-se atribuir o título a senhora e aconselhar que deve-se atribuir a acção a quem a tenha praticado.

Movida pela agitação das amigas aceitou o título, porque afinal foi ela a dona da proeza proeminente e merecida honra.

(1) Uma cabana de forma cónica feita de troncos de árvores e coberta de capim.


Dai em diante , segundo os membros do sobado e sensibilizou-se todos participantes de que não interessa o sexo de quem pratica a acção, mas todos merecem a honra dos dignos filhos de Caxongono.

Sumbe, 8 de Março de 2017.

UMA DAS ESTORINHAS DE VOVÓ KATAMBI

Kambandu

Certa vez, um casal (marido e mulher) saia da lavra para casa e deparam-se com 10 cipaios que perguntaram “para onde vai o casal de malditos?”
-respondeu a senhora” Para casa. Há problemas?”
Cala-te. Seu a vaca. Deixa-te que o homem fale, intrometida.- Interveu um segundo cipaio.
- Os outros cipaios puseram-se a rir de zobaria.
A mulherzinha irritou-se e disse: vocês pensam que sou tapete das vossas casas?

Isso irritou os cipaios, o que levou o interveniente a desferir uma potente bofetada.
A mulherzinha calma e sorridente olhou para eles e disse; que ninguém ouse repetir o sucedido.
Os cipaios puseram-se a rir e um deles disse: és simplesmente uma mulher, por isso deves fechar boca antes que irrites o pessoal em serviço da Nação portuguesa.
Um outro desferiu uma potente chapada que foi prontamente respondida pela assenhora com um soco e uma cabeçada. O homenzinho conheceu morte temporária.
Os outros ao querer intervir foram feitos da mesma maneira.
Ela pegou no braço do marido e disse: vamos embora que já não fazem mal a ninguém.
Depois de saírem do desmaio resolveram voltar ao posto administrativo para reforçar o efectivo e ir atrás do casal por causa da senhora que faltou ao respeito a Pátria.
O chefe do posto que fazia parte da classe dos crioulos. Sem revelar, o que era disse apenas: não vou enviar mais homens alegando que os dez foram derrotados por uma mulher, de preferência ficar assim.
O chefe de posto um puro crioulo preferiu abafar a questão pois não estava ao serviço fiel de tuga (português).
E tudo ficou como se nada tivesse acontecido.


(1) Uma cabana de forma cónica feita de troncos de árvores e coberta de capim.

Aldeamento no 8, Cela, 8 de Março de 2017.

Um abração a todas as mulheres do Mundo em especial de África e em particular de Angola. Felicidades.