Luanda - Evocando ideias que vêm do fundo da razão, qualquer mulher requer que seja tratada de forma respeitosa, digna e igual a todas as demais mulheres. Apesar de se tratar de uma questão lógica que domina o universo do século 21, o valor da mama Zungueira, ainda não é aqulele de outras demais mulheres têm, que muitos idealizam ao longo de milénios de civilização.

Fonte: Club-k.net


Todavia, não se destacam debates, em torno do resgate do valor feminino no âmbito público que defenda com unhas e dentes a liberdade e o valor da mama Zungueira. Se por um lado há o recrudescimento de preconceitos e perseguições à pessoa da mama zungueira, por outro lado, existem os oportunistas que araigam os ânimos com o objectivo de humilhar tragicamente a pessoa da zungeira, mas que na verdade, esse dia, deveria ser dedicado a reflexões sobre a vida da mulher ambulante.


É mais impactante que se enalteça neste dia internacional da mulher, a pessoa da mama Zungueira, uma mulher incomum, uma mulher de honra, de orgulho, uma mulher que seu nome deveria ser escrito com todos os adjectivos superlativos relativo de superioridade, neste caso: a mais batalhadora, a mais persistente, a mais incansavel entre as mulheres, a mais firme entre as mulheres, sejam quais forem as circusntâncias, a mama zungueira nunca desfalece em prol da vanguarda da sobrevivência de seus filhos.


É no girar em torno das cidades que se reflete a vida humilde de nossas mamas zungueiras, lutadoras incansáveis, guerreiras imbatíveis, o exemplo que passam para todos angolanos é um exemplo verdadeiro da vida no seu verdadeiro sentido prático, encontrando na arte ambulante o ofício fundamental para responder às suas necessidades vitais.


Mama zungueira, diante das mais amargas hecatombes envolventes à conjuntura circunstancial da vida, amarra seu humilde filho pelas costas, coloca uma bacia presa à sua cabeça a transbordar de objectos de grande ou pequeno porte, com os seus pés atraídos por uma marcha rítmica e imparável, ousando um marketing num som musical, ressoando pelas ruas, está aqui chinelo --- está aqui peixe, está aqui saco, numa música atraente que convida o ouvido do comprador sem demora, divulgando com as suas cordas vocais que não conhecem fadiga o preço de seus bens, colocando seus olhos voltados aos céus quando o desespero é um facto, mama zungueira reza, coloca seus joelhos pelo chão em busca de um poder sobrenatural que visa impingir o alcance de seus nobres objectivos, fazendo a venda de água fresca, pipoca, peixe, rebuçados, bolacha, saco, cebola, tomate, alho, verdura ou frutas, as vezes para um preço muito ignóbil.


O sol, o calor ou as calamidades emanadas pela natureza não lhe poupam esforço, e lhe roubam o ânimo, porém, os interesses dessa mesma pessoa lhe convidam a adesão à firmeza e a marcha imparável em prol da busca do pão para nutrir o estado físico de seus descendentes e até mesmo de seu marido.


O que se propõe é uma narrativa do país construída através das pequenas e grandes viagens de múltiplas pessoas e suas inusitadas e criativas relações entre tempo e espaço. Sobre a imagem de contorno nítido e fixo de um mapa nacional, ao invés de rios que organizam sua geografia física, um contingente humano considerável foi desenhando modos peculiares de sobrevivência, ao mesmo tempo em que abriu atalhos entre o subúrbio e o centro, a vila e a capital, o interior e o litoral. Com elas, os limites internos e externos entre espaços perdem nitidez e ganham pinceladas impressionistas.


A vida é uma escada de obstáculos, em que cada um de seus degraus implica extrema luta, viver implica não só sacrificar, mas, acima de tudo muitas das vezes viver nos impõe tentar o impossível, embora, as calamidades persistem, as dificuldades marcham em todos os lados em que lá estivermos, o ser humano somente amadurece quando vencer grandes obstáculos, dai quem triunfar sem riscos, vence sem glória, a glória de um guerreiro não está na sua vitória, mas sim na forma como vence.


Se o homem é o mundo, a mulher é o céu deste mundo, neste âmbito, queremos relevar o papel das mamas zungueiras que apesar de inúmeros impasses face a execução de sua profissão de vendedouras ambulantes, têm feito o tudo rompendo grandes barreiras, muitas das vezes o impossível para manter o sustentáculo de sua famílias, a quem diga que muitas das quais é que comandam a existência de seus lares, apesar das mesmas terem maridos, são elas encarregues na educação de seus filhos, o pouco que usufruem de uma vida muito sacrificada lhes é imperativo que investam não só nas necessidades domiciliares, como também nas necessidades de formação de seus filhos.


A vida de uma zungueira fica marcada na luta do dia-a-dia, na luta que lhe exige enfrentar a cada instantes enormes obstáculos que veiculam a continuidade da sua venda em rua, porém, a sua força parece superar o impossível, sejam quais forem as circunstancias, a coragem, a firmeza têm se revelado eminente na pessoa da mama zungueira, acordando de madrugada, as vezes com um ânimo moribundo que lhe invoca parar de lutar devido os prejuízos encontrados no local, pela ironia do destino, as necessidade falam mais alto que os impasses, é forçada a aumentar a dose de ânimo e continuar a lutar até o fim do dia.


Os profissionais ambulantes devem merecer extrema atenção no que tange a sua condição peculiar, a condição de peregrinos pelas ruas, sugere um sem lugar certo, uma condição que impõe dificuldades extremas, porém, é no seu rodar pela cidade, pelas estradas, num circuito complexo alojando – lhes as dores articulares e violentas fadigas que lhes fixa a imagem e define-lhes a vida, passando mesmo a ser vistas pelos angolanos mais atentos como verdadeiros exemplos de vida, pois que, a vida ambulante, nunca foi fácil em Angola, e pelo mundo fora.


Há mais: a diversidade de ambulantes exige cautela no emprego da categoria

de forma satisfatória, há muita descontinuidade nas diferentes trajectórias. Há ambulantes que são filhos do sofrimento, timbrados com as letras do sacrifício; outros, nascidos com a modernização do país; outros, ainda, fiéis a uma tradição familiar. Todos revelam a luta pela sobrevivência. E esses são o verdadeiro exemplo a seguir, exemplo de vida para o vagabundo que prefere desrespeitar o trabalho, e despertar as 2 horas da manhã para assaltar bancos, invadir vivendas alheias, para o delinquente que prefere levar o dia dormindo com seu charuto de liamba pendurado a boca, e pelo calar da noite furtar viaturas, assassinar o inocente, desencadear pânico pela cidade ou pelas sanzalas, para o infeliz ladrão que não conhece outra arte senão a preguiça vestida de roubos armados.


A transformação da capital Angolana em sede do país desde o ponto de vida económica, político, e de interesses além, trouxe consigo a imensidão migratória, excedentes de mão-de-obra provinda do campo chegam na cidade de Luanda, onde exercem trabalhos manuais não especializados e muitos tornam-se vendedores ambulantes, encontrando na zunga a sua única forma de vida, de então a mama zungueira merece ser visto como uma profissional que detenha seus direitos e deveres peculiares, neste âmbito as zungueiras, merecem um olhar atento, mais humano, mais solidário por parte de todos nós.


Essa mão-de-obra informal, se classifica muitas das vezes como actividade não produtiva, desconsiderada quanto ao levantamento do índice ou renda nacional.


Profissões que envolvem deslocamento permanente retira de quem as exerce uma identidade adequada a padrões valorizados pelas pessoas, ademais, a falta de higienização do espaço em que as mesmas executam seu acto de venda, o acúmulo imenso de lixo pelas ruas por onde vendem, retiram o seu autêntico valor e tornam cada dia que se passa mais difícil esta prática entre nós angolanos.