Luanda  - O conceito de risco pode ser entendido de diversas maneiras, pois depende do contexto no qual está sendo avaliado. Neste texto pretendo, de forma arrojada, importar este termo que usualmente ouço, e utilizo na minha actividade profissional, e ficcioná-lo no âmbito da política.

Fonte: Club-k.net

A nível da actividade financeira, existem duas variáveis importantes que devem ser consideradas quando decidimos investir no mercado: retorno e risco.

 

A nível da política, julgo que existem variáveis que não devem ser ignoradas ou tratadas de forma desleixada e esta, na minha opinião, tem que ver com o risco reputacional em que os partidos políticos incorrem quando não cuidam da sua imagem e dos efeitos das suas acções.

 

O risco pode ser entendido como a volatilidade de resultados futuros ou, pelo nível de incerteza, associado a um acontecimento. E em política, quase sempre, aquilo que parece é.

 

Todo o investimento é susceptível de incertezas quanto ao retorno do capital investido e, neste campo, a política não é excepção, pois as pessoas que militam nos partidos investem bens materiais, financeiros e intelectuais e anseiam por retorno. O retorno não é, muitas vezes, a realização pessoal, mas pode ser visto como a concretização, ou materialização, dos valores e princípios que a pessoa defende.

 

Com efeito, a actividade política é uma actividade de risco. Aliás, a vida é um risco.

 

Assim, é preciso que os partidos políticos percebam que o risco reputacional é mortífero e, particularmente, danoso para qualquer partido que queira atingir e manter o poder uma vez que a natureza das suas acções requer a confiança e a manutenção do seu eleitorado.

 

No dia 9 de Janeiro deste ano pude ler no Rede Angola uma crónica da jornalista Luísa Rogério, cujo título era: “Deserções Massivas?”. Luísa Rogério dispensa apresentações no métier do jornalismo angolano. Particularmente, tenho dedicado às suas crónicas uma devotada atenção, pela forma elegante com que ela vai alertando a nossa sociedade para diversos assuntos. Retomo esta crónica porque a UNITA, em menos de duas semanas, sofreu profundos abalos na sua estrutura, com as deserções do kota Fernando Heitor e do jovem Américo Kissongo e, pelo que me consta, ainda poderá haver mais.

 

Entretanto, a história do maior partido da oposição tem sido manchada, se me permitem o termo, por inúmeras deserções. À partida, a ULA, como também é chamada, já deve estar habituada, e preparada, com estas fugas massivas para o seu principal adversário.

 

Ainda assim, julgo que estas evasões devem provocar à direcção deste partido, e em particular ao seu presidente, pois é a ele que será imputada toda a responsabilidade em relação aos sucessos ou insucessos do partido que dirige, uma profunda reflexão, ou diagnóstico, sobre as reais motivações destas constantes deserções no seio da sua agremiação partidária.

 

Estes abandonos mancham, e de que maneira, o tecido político deste partido. O risco reputacional ameaça a credibilidade e a confiança de qualquer instituição e os partidos políticos, infelizmente, não escapam a este infortúnio.

 

Apesar de reconhecer que em democracia entrar ou sair deste ou daquele partido é perfeitamente normal e, por isso, não se devia mediatizar tanto como tem sido feito, de forma arrogante, por quem tira proveito disso.

 

De qualquer forma, estas renúncias não devem ser encaradas como normais no seio de qualquer partido, sobretudo em anos eleitorais.

 

O Professor Amândio Vaz Velho define liderança como “o processo de mobilização colectiva para um propósito mútuo”. Assim sendo, penso que o presidente Samakuva deve olhar com zelo e serenidade para a sua liderança. Não será capaz nunca de agradar a gregos e troianos, mas deve envidar esforços no sentido de dialogar mais com as vozes discordantes e, se necessário for, empenhar-se em construir consensos.

 

Esta percepção, real ou falsa (e não pretendo entrar no mérito desta questão) de que a UNITA é um partido tribal, um espectro que há muito a assombra, e de que o poder nunca pode sair do Bié, a ausência de transparência na gestão do património e a pouca valorização dos seus recursos humanos, diminuem a capacidade deste em alcançar um novo eleitorado e expõem- na a elevadas “perdas humanas - vulgo, deserções” podendo mesmo colocar em “declínio a sua base de sustentação.”

 

Portanto, é verdade que os riscos não se eliminam, mitigam-se. E para mitigá-los basta que a liderança mude o seu foco, dialogue mais, construa consensos, como dissemos, e fomente uma liderança participativa e transparente.

 

*advogado estagiário, activista cívico