Lisboa - Gloriosa é a escola de Lenine que arduamente formou o protótipo da divina comédia, não de Dante, mas de uma realidade insalubre camuflada pelos remansos ténues de um cidadão que engenhosamente conseguiu controlar um passado e esperava controlar também o futuro seguindo as pegadas rítmicas dos seus mestres. Mas, faltando-lhe certa proficiência portou-se que nem um macaco que perderá muito tempo a recolher frutos para si em vez de partilhar, que perderá muito tempo em observar a cauda dos seus homólogos em vez de cuidar da sua. Tornando-se incapaz de controlar o presente, chega altura de prestar contas com um passado que antes era longínquo e agora contíguo. A realidade desarvorou-se, o duplo pensar deixou de funcionar, restou-lhe apenas a insegurança, pois “o Príncipe que tem o povo como inimigo nunca estará em segurança, e quanto maior for a sua crueldade, mais fraco se tornará o seu regime” (Maquiavel).

Fonte: Club-k.net

Nestes tempos, tudo é inadmitido, até respirar como um pássaro que bate as asas e consome do bom ar e de tamanha satisfação põe-se a cantarolar as mais bonitas melodias, é proibido; tudo é motivo de pavor, “pensar é crime, não provoca a morte, é o caminho para a morte” (George Orwell). Escrever faz os homens tremer as mãos como se tivesse intoxicado com o álcool caseiro, produzido com o suor de uma mulher que carregou o seu filho pelas costas por muito tempo, até que se cansa de lutar com o sol pertinaz, que a abate todos os dias, quando se põe a pé para bongar a migalha que lhe será retirada ao entardecer ou muito antes; por pouca sorte, o seu pupilo não consegue chegar a casa, pelo menos libertou-se do inferno terreno, que em momento algum negou-lhe o sorriso enquanto vivera.

 

Assim se vive no Quimbo dos Quimbos, do Soba Grande, do mais Velho, do Chefe de Família, do Arquiteto da Paz. Esta é uma narrativa literária que vai falar do responsável pela morte de mais de 500 crianças por dia num furto de febre-amarela no município de Viana, Província de Luanda, o dono da liberdade dos homens, primeiro dos 15 jovens mais 2, e depois, dos mais de 24 milhões de habitantes de um país grande e belo, que faz parte do continente africano e pela sua extensão é um dos maiores países de África; trata- se do menino bonito de bolsos cheios, que abdicou-se em habitar numa bela colina onde todas as formas de subsistência era exequível, onde a agricultura, a pesca e até a caça em tempo certo era possível, para viver numa caverna monitorizada, típica dos séculos XX e XXI, que sobrevive de recursos finitos e ilusórios que num piscar de olhos, faz levitar os astronautas que nele apostam, uma caverna bem-parecida com a do grande irmão da década de 50, que deixava passar fome os seus irmãos enquanto divertia-se com o seu jogo preferido de cartas, cujo objetivo é conquistar todas as cartas que o seu adversário tinha para continuar a jogar.

 

Se o que somos hoje é fruto do passado, também o futuro dependerá do presente que escolhemos vive-lo hoje. Se existir alguma coisa que se possa fazer para reverter esta divina comédia que se vive hoje no Quimbo do soba grande que se faça e agora. Tenho pena das próximas gerações que hão-de habitar sob o domínio dos herdeiros do poder Nghana Soba. O Nghana Soba é a associação de muitos tolos que ousaram desafiar a paciência do poder absoluto, por ser um dos poucos com vida ganhou inúmeras nacionalidades, é chinês, é francês, é italiano, é alemão, é cubano, é chileno, é húngaro, é ugandês, árabe e russo, é o protótipo da perfeita tirania que de mãos dadas com a oligarquia percorre os caminhos do mato projetado por ele e para ele. É uma espécie de ser humano que não carecia existir pelo comportamento bárbaro que ostenta, e que sem qualquer ressentimento, diverte-se com o sofrimento dos outros e constrói o seu futuro com mágoas agonizantes no povo que por ele é dirigido.

 

Portanto, este é um Quimbo que nem gostaria de habitar nele, porque o pai é ousado, sabe de tudo e de todos, prevê a necessidade de sofrimento dos seus filhos, julga quando os seus filhos devem partir e sempre soube quem o poderia substituir, caso tivesse vontade de abster-se da culpa que o condena todos os dias da sua vida.