Luanda - A imprensa pública nacional, nos últimos meses, tem sido vítima de uma campanha maquiavelicamente organizada, que visa a sua desacreditação junto da opinião pública, numa estratégia concertada e que tem como objectivo fundamental a tentativa de conquistar alguns dividendos políticos.

Fonte: JA

Esta campanha, que começa já a repercutir a nível internacional por servir os interesses daqueles que não perdem uma oportunidade para conspurcar o nome de Angola, tem desta vez o ingrediente essencial que resulta do facto significativo de se estar a menos de seis meses de uma nova ida às urnas.


Talvez por isso, essa campanha tenha agora como principais impulsionadores forças da sociedade civil que servem de “bocas de aluguer” de uma certa classe política, numa união de “esforços” perversa mas que tem o condão de relevar a importância cada vez maior do papel que a imprensa desempenha no processo de preparação das eleições e, consequentemente, de consolidação da democracia.

 

Raramente, como agora, se viu o afã atrapalhado de alguns partidos políticos em atacar a imprensa pública, através do desenvolvimento cada vez mais frequente de descaradas tentativas de ingerência na sua gestão editorial usando para isso, à falta de melhor, argumentos musculados e caluniadores impróprios de um sistema de democracia consolidada, como é o nosso.

 

Na verdade, aquilo que alguns partidos políticos estão a fazer mais não é do que atacar a honra dos jornalistas, por lhes atribuírem responsabilidades e epítetos apenas possíveis da parte de quem tem uma visão deformada daquilo que é o papel que estes profissionais desempenham na sua relação íntima com a opinião pública, única razão da sua existência.

 

Mas, afinal de contas quais foram os “crimes” que a imprensa pública terá cometido para ser de repente um ponto de convergência crítica de alguns partidos políticos e de outras forças da sociedade civil?


No essencial, o denominador comum usado para dar corpo a essa campanha de intimidação contra a imprensa pública tem a ver com o modo como vem gerindo a sua agenda editorial, sobretudo na escolha que livremente faz sobre o que deve destacar.

No que respeita ao Jornal de Angola o único critério usado na gestão da linha editorial tem a ver com aquilo que é o interesse público, independentemente do agente que protagoniza a notícia.


Para nós este não é um momento de pré-campanha eleitoral, mas tão somente a altura de proporcionar aos nossos leitores a melhor informação possível sobre os candidatos que se perfilam, para assumir a liderança de cada uma das múltiplas listas concorrentes às eleições, dando-lhes dados que os ajudem na escolha em quem votar.


Se dedicamos mais espaço ao candidato João Lourenço do que às questões internas, que impediram até agora os outros partidos de apresentar as suas listas é, precisamente, para informar os nossos leitores sobre quem é, o que pensa e o que propõe para o país o líder da única lista que até agora teve a responsabilidade de se assumir perante o país, não havendo qualquer intenção de beliscar a honra ou a postura de quem se lhe opõe. Não falamos de outros candidatos, simplesmente, porque eles ainda não existem.


Não podem ser atribuídas à imprensa pública quaisquer responsabilidades pelo facto dos outros partidos estarem atrasados em relação ao MPLA, como também não nos podem culpar por usarmos um critério exclusivamente jornalístico para fornecer a melhor informação aos nossos leitores.

 

Só para distrair os incautos, criando factos políticos onde apenas existem critérios jornalísticos, é que se pode acusar o Jornal de Angola de parcialidade na forma como aborda o actual momento político do país, uma vez que, até agora, apenas existe um candidato assumido na disputa pela Presidência da República.


Não nos podem atribuir responsabilidades, pelo facto de alguns partidos políticos estarem claramente atrasados em relação ao MPLA e muito menos exigir que censuremos as actividades do candidato deste partido pelo simples facto dos outros ainda não estarem no terreno.


Esses partidos e essas forças da sociedade civil apenas poderão aferir sobre uma eventual imparcialidade nossa quando apresentarem os seus respectivos candidatos, passando a partir dessa altura – e só aí – a terem um termo de comparação válido. Neste momento, o que se passa é que apenas uma equipa está no campo, embora ainda a treinar para o grande jogo que é as eleições, sendo noticiosamente relevante que se fale de como está essa preparação a decorrer. Um dos fiscais desse “grande jogo” que será as eleições, o Sindicato dos Jornalistas, da parte de quem se esperava uma total imparcialidade, infelizmente, começou mal o seu próprio “treino” mostrando um “cartão amarelo” indevido a quem nem sequer é ainda parte activa na contenda.


O comunicado que esta entidade da sociedade civil emitiu acerca da condenável agressão de que foram vítimas os profissionais da TPA, que exerciam a sua actividade profissional no comício que a UNITA realizou no fim de semana passado, revela uma total “falta de forma”, pois confunde o agressor com o agredido, atribuindo a este último (através dos seus gestores) responsabilidades que estes não tiveram.


É que pedir aos gestores e responsáveis da imprensa pública e privada para “salvaguardarem a credibilidade da profissão, respeitando escrupulosamente os princípios da imparcialidade”, como forma de “protegerem a integridade física dos profissionais numa altura de ânimos exaltados, por conta do processo eleitoral”, é uma brincadeira de muito mau gosto e que, ao fim e ao cabo, legitima a campanha em curso contra a imprensa pública, uma vez que esta é injustamente acusada de parcialidade.


E isto porque, em primeiro lugar, neste momento do processo eleitoral apenas estão com os “ânimos exaltados” aqueles que ainda não foram capazes de se definir e escolher a melhor equipa para entrar em campo.
Os outros, a esmagadora maioria dos angolanos, estão perfeitamente tranquilos, continuando a trabalhar arduamente, para vencer as dificuldades do seu dia a dia para poderem ter um amanhã melhor.


Nós, no Jornal de Angola, estamos também perfeitamente tranquilos e prontos a resistir a todas as tentativas de ingerência na nossa estratégia eleitoral, cumprindo o nosso papel de servir cada vez melhor os nossos leitores, uma vez que são eles a única e exclusiva razão do nosso empenho profissional. A disputa política, essa fica para os partidos a quem o povo julgará quando for chamado a exercer livremente o seu direito de voto.


Da parte do Sindicato dos Jornalistas espera-se e deseja-se uma posição mais atenta sobre o que se passa, de modo que possa reagir de forma mais adequada para garantir a liberdade de expressão e a segurança dos seus filiados.

 

*DG adjunto do Jornal de Angola