Luanda - O preço para comprar uma nota de dólar norte-americano nas ruas de Luanda aumentou na última semana, pela primeira vez em cerca de dois meses, chegando hoje a custar 370 kwanzas (dois euros).

Fonte: Lusa

Esta subida acontece depois de fortes quebras na cotação (informal) nas últimas semanas e foi constatada pela Lusa hoje, na habitual ronda semanal pelas ruas de Luanda, após mínimos do ano na semana anterior, quando comprar um dólar chegou a custar 340 kwanzas (1,90 euros).

 

Este valor contrasta com o pico de 500 kwanzas (2,85 euros) por cada dólar dos primeiros dias de janeiro, no mercado de rua, mas apesar das descidas desde então, mantêm-se as limitações no acesso a divisas nos bancos, inclusive nas contas em moeda estrangeira, tornando a venda paralela, para muitos nacionais e estrangeiros, a única forma de aceder a dólares ou euros em Angola.

 

A taxa de câmbio oficial cifra-se atualmente em cerca de 166 kwanzas (95 cêntimos de euro) por cada dólar, quando antes do início da crise das receitas do petróleo, ainda em 2014, era de 100 kwanzas.

 

As 'kinguilas' de Luanda, como são conhecidas as mulheres que se dedicam à compra e venda de divisas, atividade ilegal, explicaram a anterior e consecutiva quebra da cotação do mercado informal com a falta de kwanzas suficientes para realizar as trocas, valorizando dessa forma a moeda nacional.

 

A venda de cada dólar está hoje fixa nos 350 kwanzas no bairro do São Paulo (340 na semana anterior), semelhante ao preço cobrado no bairro dos Mártires de Kifangondo (inalterado face à semana anterior). Na Mutamba, a nota de dólar norte-americano é transacionada a 365 kwanzas (340 kwanzas na semana anterior), enquanto as 'kinguilas' do Maculusso cobram 370 (contra 340 kwanzas).

 

Devido à falta de moeda estrangeira, os empresários que necessitam de importar matéria-prima estão agora obrigados a dirigir uma carta ao Ministério da Indústria para solicitarem divisas nos bancos, enquanto os não residentes cambiais já não podem levantar dólares ou euros nas próprias contas, por determinação do banco central.

 

As taxas de rua já estiveram próximas dos 600 kwanzas por cada dólar em agosto e julho, depois de máximos de 630 kwanzas em junho, face à falta de dólares nos bancos.

 

Angola tinha em circulação, em fevereiro, notas e moedas no valor de 435.659 milhões de kwanzas (2.420 milhões de euros), uma nova quebra mensal, de quase 3% e que se soma aos 10% retirados em janeiro, medida definida pelo Banco Nacional de Angola (BNA) e que tem vindo a permitir a valorização da moeda nacional no mercado paralelo.

 

Em Luanda desde a semana passada, para contactos prévios com as autoridades angolanas no âmbito das consultas anuais, o chefe da missão do Fundo Monetário Internacional (FMI) para Angola, Ricardo Velloso, admitiu que a retirada de circulação de moeda nacional é uma medida positiva, pelas repercussões no corte nas taxas de câmbio no mercado paralelo, que permanecem em mais do dobro do valor oficial.

 

"É uma medida muito importante, que ajuda no controlo da inflação e ajuda a reduzir o diferencial entre a taxa de câmbio do mercado de rua e a taxa oficial", destacou o chefe da missão do FMI, questionado pela Lusa.

 

Angola vive desde finais de 2014 uma profunda crise financeira e económica decorrente da quebra para metade nas receitas com a exportação de petróleo, tendo desvalorizado o kwanza, face ao dólar, em 23,4% em 2015 e mais 18,4% ainda no primeiro semestre de 2016.