Lisboa - Isabel dos Santos, filha do Presidente de Angola e uma das mulheres mais ricas do mundo, disse à BBC que por ser "privilegiada" também é alvo de muitos "preconceitos".

Fonte: Observador


Isabel dos Santos é uma das mulheres mais ricas do mundo e tem participações em várias empresas — e acha que esse “percurso inesperado” fomenta “muito preconceito”. Numa entrevista a Paul Bakibinga, da BBC, a filha do Presidente angolano José Eduardo dos Santos admitiu que o seu percurso não foi o comum de um cidadão angolano e que pertencer à família presidencial lhe trouxe vantagens, mas as duas realidades coexistem: “Sim, há privilégio mas há os dois, privilégio e preconceito”.

 

Isabel dos Santos começou a construir a sua fortuna há quase 20 anos, em 1998 quando foi aceite como engenheira na Urbana 2000, uma empresa do grupo Jemba, que tinha a concessão da recolha do lixo em Luanda. O seu ordenado, segundo o Expresso, era de um milhão de dólares por mês. Um ano depois, o nome de Isabel dos Santos chegava a Portugal, por um título do jornal Expresso: “Eduardo dos Santos tira diamantes a Portugal para dar à filha”. Na altura, Isabel dos Santos recebeu, por ajuste direto, a exploração da zona diamantífera do Camatué, onde Portugal tinha, mas deixou assim de ter, interesses. Hoje, Isabel dos Santos está à frente da maior empresa estatal do país (a Sonangol) e o seu irmão, José Filomeno, está à frente do Fundo Soberano, alimentado pelos lucros da Sonangol.

 

Depois de ter dito, também à BBC, em 2015, que a educação é a grande lacuna no país, Isabel dos Santos afirma agora que é uma privilegiada precisamente por ter tido acesso a uma educação exemplar.”Pude ver o mundo, sou uma pessoa muito exposta, posso interagir com pessoas de todos os espectros da vida. E penso que é só isso, penso que misturar isso com preconceito e a sensação [que algumas pessoas têm] que essas vantagens foram algo injustas ou obtidas através de favor, acho que isso é preconceito”, afirmou.

 

A filha mais velha do Presidente angolano está á frente da petrolífera estatal Sonangol. Como empresária, tem participações importantes em empresas como a NOS, os bancos BIC e BFA e a revista Forbes, cuja edição portuguesa também detém, e que a colocou como dona da 9.ª maior fortuna de África, avaliada em 3,1 mil milhões de dólares. É a única cidadã angolana com o nome na lista.

“Essa coisa de filha do Presidente é mito”

José Eduardo dos Santos tem sido acusado por diversas vezes de favorecer aqueles que lhe são próximos mas Isabel dos Santos argumenta que o seu trabalho no mundo dos negócios nada tem a ver com as suas ligações familiares. “Não há essa coisa da ‘filha do Presidente’. É um mito. Somos filhos dos nossos pais. Tenho uma mãe e um pai. A nossa relação com os nossos pais passa pelas emoções, pela família. O trabalho do nosso pai, seja um Presidente ou um CEO, é uma relação profissional da vida dele. E são dois aspetos muito diferentes”, disse a empresária.

 

Sobre a Sonangol, que, pela primeira vez em 2016, não pagou dividendos ao Estado, a atual líder da petrolífera diz que, quando tomou posse, “a Sonangol estava numa situação particularmente difícil, houve uma queda prolongada dos preços do petróleo ao longo de dois anos, isso refletiu-se na estabilidade financeira da empresa, que era crítica. O Governo tomou a decisão – que foi uma decisão muito corajosa – de enfrentar esses problemas e ver que género de reformas e reestruturação poderiam ser feitas na Sonangol para a tornar numa empresa mais forte tendo em conta que as receitas tinham caído 60% na empresa,” justifica.

 

O tema da relação com o pai está sempre presente nas suas conversas com jornalistas. Em 2013, num almoço com o jornal britânico Financial Times para a rubrica “Lunch with the FT”, Isabel dos Santos falou da relação com o pai e admitiu que a distinção entre os dois possa confundir o público. “Imagino que seja muito difícil distinguir o pai da filha. Penso que essa dificuldade advenha de estar a fazer as minhas coisas e o meu pai ser uma figura política africana muito forte há tantos anos”, disse na altura.

 

Isabel dos Santos falou ainda à BBC sobre os desafios que enfrenta no mundo dos negócios em Angola. “Ser mulher, ser jovem, ser negra, isso são todos desafios, não há dúvida”. Esta não é, contudo, uma questão angolana, mas sim um problema global, diz a Isabel dos Santos que se diz empenhada em colmatar as diferenças entre os dois géneros. “Eu encorajo as raparigas a lutarem, a terem uma educação, têm de ser ambiciosas e também ter confiança. É muito importante agirmos [contra a discriminação de género] e temos de desenvolver políticas dentro das nossas empresas segundo as quais tratamos as mulheres e os homens de forma igual, especialmente em termos de salários, isso é chave”, disse ainda.