Luanda - Uma das maiores realizações de que se jacta, neste seu primeiro ano no governo do Banco Nacional de Angola, é a de haver enxugado o excesso de liquidez que existiria na economia angolana.

Fonte: Correio Angolense

Na entrevista que concedeu segunda-feira, 3 de Abril de 2017, à Televisão Pública de Angola, mais uma vez desperdiçada pelo entrevistador para colocar questões que realmente competem a um banco emissor e não deixar o governador do BNA deambular por assuntos que não são do fórum dele como, por exemplo, a prosperidade das famílias angolanas, Walter Filipe imputou ao excesso de dinheiro que circulava boa parte dos males da nossa economia, nomeadamente a galopante inflação.



Sucede que o BNA levou a sua obsessão com o excesso de liquidez a níveis extremos: hoje não são apenas as kínguilas que ficaram sem dinheiro. O kwanza falta, até, aos bancos comerciais. Todos ou quase despacham os seus clientes alegando falta de dinheiro. Em todos os multicaixas do país vêm-se filas e filas de pessoas desanimadas porque não encontram dinheiro para satisfazerem as suas mais prementes necessidades.


A tal prosperidade das famílias angolanas, com que Walter Filipe aparenta tanto se preocupar, está a revelar-se um bom embuste. Na verdade, como conceber a prosperidade das famílias sem dinheiro para as necessidades básicas? Se o trabalhador, que tem o seu salário bancarizado, vai a um multicaixa e não encontra dinheiro, como poderá sustentar a sua prole? Se a chefe de família não consegue mexer nas suas poupanças para comprar pão, arroz, carne e outros produtos indispensáveis, como conceber a sua prosperidade?


O governador do BNA não deve, também, perder de vista que as famílias têm energia pré-paga por comprar; água por comprar, venha ela em bidões ou em cisternas, já que água corrente nas torneiras só existe nas estatísticas que a EPAL envia à Cidade Alta e que, aparentemente, são aceites como verdades absolutas. Há, ainda, o monte de cebola e do tomate por comprar na pracinha ao lado de casa. Para tudo isso, caro Walter, é necessário dinheiro vivo. Na pequena ou grande praças, o cartão de crédito não tem a menor serventia.


Ao invés de se preocupar com discursos políticos, Walter Filipe tem de ater-se a questões económicas e perceber, imediatamente, que sem dinheiro nada feito: as empresas não funcionam, não há consumo, enfim, nada funciona.

Por esse andar, Walter Filipe acabará rapidamente afastado do posto e quando isso suceder, se suceder, vai apressar-se a atribuir a defenestração ao azar ou a algum feiticeiro na família.

Com mais este violento golpe desferido contra o estômago, o cidadão olha para os seus botões e pergunta: é para renovar a confiança em políticas como estas que dirigentes do MPLA já começaram a calcorrear o País à cata do voto?

GC