Cunene - Na ebulição dos últimos ventos que sopram sobre o Kunene, corporizados em muitos artigos e entrevistas vertidas nos jornais e rádios, depois de muito refletir, lancei um olhar rápido e flutuante sobre alguns factos históricos no Kunene, desde a independência, exatamente com entrada em cena do Comissário Kundy Paihama, nos longínquos anos de 1976, sendo recebido como um filho e um irmão pelos kunenenses. Este povo simples do Kunene, valente, destemido, de porte forte e hirto, inquebrantável, honrado dos valores dos seus antepassados, que não se vende e não compra barato, trabalhou e combateu, nos tempos difíceis, com general Kundy e com os kunenenses, ele também, ganhou a fama de ser um dos generais mais temidos com as suas “Onças da montanha”, que até o comandante Savimbi estremecia só de ouvir pronunciar aquele nome.

Fonte: Club-k.net

Feliz ou infelizmente, 40 anos depois, Kundy Paihama regressa ao Cunene como governador provincial. A segunda vinda do general Kundy, ao Kunene, foi uma surpresa e, com isso, muitas cogitações surgiram na mente dos kunenenses e interrogavam-se: será que o general Kundy regressou, onde começou, para refazer e reabilitar a sua imagem dos anos 70, ou será que ventos piores se abatam contra o Kunene? Será que o general Kundy, já ancião sábio pela bigorna do tempo e pelo forno da história, trará nova lufada de ar fresco, de paz e reconciliação ao Kunene? Será que o general Kundy se reconciliou com o peso da sua consciência histórica dos factos que semeou no Kunene nos longínquos anos 70? E ainda nos recordamos, como se fosse ontem, desses factos, na verdade augurávamos um Kundy convertido ao bem e à Cristo, e que só procura o Reino de Deus, como ele próprio afirmou, publicamente em 2016, na missa da festa da Missão Católica do Tchiúlo.

 

Contudo, enganamo-nos os que assim pensávamos. Por isso, depois de terminar de ler o livro “Kundy Paihama - Uma história de batalhas e conquistas” do escritor António Ngula Chivinga, quis acrescentar alguns factos históricos que o nosso autor não refere, não sei por que motivos, e de grande importância para compreendermos a pergunta que coloquei como título do meu artigo: Será que Ovawambo odeiam o general Kundy ou, ao contrário, é o general Kundy que odeia Ovawambo?

Em 2016, depois da sua nomeação e apresentação como governador do Kunene, o general Kundy adotou uma postura e uma linguagem (logo no primeiro discurso da apresentação no pavilhão multiuso no Kunene) belicista, de ódio e de confronto aos kwanhamas dizendo que não veio ao Kunene para agradar os kwanhamas mas veio para trabalhar, repetindo, quase igual, o primeiro discurso quando chegou no Kunene em 1976. Nos seus vários pronunciamentos, públicos e privados e nas suas reuniões governativas, afirmou que Ovawambo não gostam dele, que o odeiam. Ele esquivou-se de ir à comemoração dos 100 anos da morte de Mandume, tirando férias nessa altura, com a razão de que não presta homenagem ao rei dos Kwanhamas, porque esses kwanhamas no tempo dos reis foram buscar gado ao quipungu. Afirma constantemente que as pessoas no Kunene tem diabo, e até em algumas reuniões leva o seu pastor para fazer a oração antes da reunião e pede intimidatoriamente aos presentes que retirem os PAUS que trazem nos bolsos e nas carteiras. Com isso, ele começou (juntamente com o seu braço direito, o vingativo e rancoroso assessor Charles) a caça ao homem e sobretudo a gente ligada ao anterior governo do Didalelwa. Usa uma linguagem intimidatória, humilhante, bélica e ameaça constantemente exonerar os diretores provinciais, os administradores municipais, o segundo secretário do comité do MPLA no Kunene e até os vice- governadores, sobretudo o nosso querido e pacato sábio ancião Candeeiro, não por eles serem incompetentes, mas porque alguém lhe pede a ele que exonere esta ou aquela pessoa. Recusa pagar as dívidas das empresas que prestaram serviço no governo do Didalelwa, sobretudo do grande empresário, homem humilde e do povo, o Senhor Zé Brigadeiro.

Numa reunião com empresários, humilhou Ovawambo dizendo que eles não são grandes empresários e que os maiores empresários no Kunene não são naturais da província. Nisso, é bom que se lembre de como é que os tais grandes empresários, não do Kunene, tiveram acesso ao capital na governação do Mutinde, enquanto muitos bons empresários Ovawambo não viam nada e que pergunte ao seu assessor Charles onde estão os carros, os camiões cisternas e os autocarros que recebeu do governo para rentabilizar. Meteu algum dinheiro no cofre do Estado?

 

Como disse, o general Kundy foi recebi no Kunene, em 1976, como filho e irmão e do Kunene formou as suas “Onças da Montanha”, maioritariamente compostos por Ovawambo, onde se destacam os militares “Não Tem Medo” e o “Brigadeiro Mandinho”. Muitos se lembram bem. A maioria dos efetivos da Unidade da Guarda Presidencial não é do Kunene, frutos da engenharia do general Kundy? A maioria dos seguranças pessoais dos chefes, dos generais, dos ministros, dos secretários, dos Edifícios mais importantes em Luanda são do Kunene, e os seus familiares não estão no Kunene serem humilhados e maltratados?

 

Com isso, deixem-me citar alguns factos conhecidos e fazer reavivar a memória histórica do general Kundy na sua primeira passagem pelo Kunene. Assim, podemos ver exatamente quem sempre odiou e maltratou quem. Lembra-te dos saques e queimadas de aldeias nos municípios do kwanhama, de namakunde, de ombadja e do kuvelai nos anos 76-79 (etc.)? Lembra-te de pais assassinados nas aldeias de Oshiende, de Oshitumba e de Ohenda (etc.) dos quais muitos órfãos e órfãs são membros funcionários integrantes nas direções do atual governo da província do Kunene? Lembra-te dos Boximanes (camusekeles) que deportaste e que os obrigaste a dormir na antiga Igreja da Sé de Ondjiva e que os fizeste voltar às suas aldeias depois de uma epidemia que os dizimou quase a todos? Lembra-te de ter feito quartel militar a Igreja da Missão de Omupanda, onde numa bela noite as armas se dispararam misteriosamente e depois disso, mandaste retirar os militares da igreja para as trincheiras à volta da Missão? Lembra-te dos deportados das aldeias que enchiam, em colonias, a volta da Missão de Omupanda e que muitos morreram ai com pestes e fome? Lembra-te dos comícios na cidade de Ondjiva durante os quais mandavas os inocentes Ovawambo (caluniados) subirem em paus e postes e eram mortos a tiro como se fossem pássaros? Lembra-te dos intelectuais do Kunene mortos em 1977, na altura do suposto golpe de Nito Alves? Lembra-te do Pe. Leonardo Sikufinde preso da Missão de Omupanda e metido nas cadeias de Ondjiva, juntamente com muitos homens e mulheres que, na carrada da noite, iam chamando os seus nomes e levados para serem assassinados e atirados nos buracos do alheio? Etc, etc, etc, só para citar algumas cenas.

 

Apesar dessas cenas tristíssimas feita por ti, os Ovawambo sempre te receberam bem durante as muitas vezes no Kunene. E mesmo com isso, nunca Ovawambo, a sério, quiseram dividir a província em Kunene sul e Kunene norte. Ovawambo perdoaram-te e sempre conviveram bem contigo. Nunca te humilharam, nunca te insultaram nem em privado nem em público e não te odeiam. Por isso, o ódio de que nos falas constantemente é da tua parte. Pelos factos históricos que sobejamente são conhecidos por todos no Kunene, e não só, mostram quem odeia quem e quem fez mal a quem. Procura pacificar a tua consciência histórica. Envelheceste no pecado e no marxismo.

Ficam as perguntas finais: O que é que o general Kundy nos dá como obra feita por si para a história e para o povo de Angola e que seja sinal e fruto das tuas boas e geniais ideias e projetos nalgum ministério ou governo provincial de muitos sítios onde ele passou? O que fez de revelo e de bom como Comissário no Kunene e depois como coordenador nas provinciais do Huambo e do Bié nos anos 70? O que fez como ministro do interior; ministro de segurança de estado; ministro da inserção e controlo estatal? Que obra como marco histórico deixou na província de Luanda, da Huila e de Benguela quando lá esteve como governador? O que deixou de palpável no ministério da defesa? O que deixou de assinalável no ministério dos antigos combatentes e veteranos da pátria? Que obra deixou como governador do Huambo? Até aqui, o que fez no Kunene para além de criar mau ambiente entre as pessoas? Infelizmente, vais sair do Kunene sem deixar nem uma árvore planta que fique para história como sinal da tua segunda passagem por Kunene. A única recordação que fica na história de Angola do general Kundy, para além da participação na guerra, é de teres o teu banco e a tua estátua lá, teus casinos, teus helicópteros, tuas grandes empresas, tuas casas e fazendas de luxo no Lubango, Luanda e Kunene e os teus melhores carros que não são do governo.

 

Alguém se lembra nos tempos das rusgas quando os militares iam caçar jovens para o cumprimento do serviço militar nas Fapla? No Kunene eram implacáveis. Diga-se a verdade, os Ovawambo eram verdadeiros combatentes destemidos e fieis. O MPLA e o regime corrupto serviu-se e aproveitou-se da fidelidade inocente deste povo, para cenas de todo tipo. Hoje este humilde povo esta a provar do veneno do MPLA e do seu regime corrupto que protege. É muito triste, e espero que este humilde povo desperte do sono profundo para ser dono do seu destino.