ImageLuanda -  Tópicos principais de um memorando da recente visita a Washington do MRE de Angola, Assunção dos Anjos

 – iniciativa no seu todo considerada “positiva”, embora menos do que a sua exploração política pelo Governo angolano sugere:

- O “ponto alto” foi o encontro com Hillary Clinton; encontrou-se também com Michelle Gavin, da Casa Branca, e com responsáveis do Africa Desk do Departamento de Defesa (Pentágono).

- Na conversa com H Clinton o MRE referiu-se ostensivamente ao “gosto” com que o seu Governo veria a inclusão de Angola no roteiro de uma primeira visita de Barack Obama a África; H Clinton anunciou-lhe que ela própria tenciona ir a África no Verão, dando a entender que o périplo poderá alargar-se a Angola.

- No Pentágono ficou esboçada a hipótese de os EUA prestarem apoio às FAA no domínio da formação e treino de forças de manutenção de paz e de vigilância marítima (incluído na delegação, à última hora, o Gen Nelumba Sanjar, vice-M da Defesa, ex-CEMGFA, com créditos no meio militar norte-americano)

- Assuntos de carácter comercial e financeiro foram merecedores das principais atenções do MRE; vários encontros com altos funcionários dos departamentos do Tesouro e Comércio; assinado um acordo geral de comércio, mais importante no plano político, menos na prática.

- O MRE enfatizou nas suas abordagens o “papel estabilizador” que no seu entendimento Angola desempenha na África Central, vendo nisso uma “boa razão” para uma maior aproximação com os EUA; considera desprovidas de razão críticas internacionais baseadas em juízos de valor de que o regime é corrupto e a sua democracia exígua; criticou o último relatório norte-americano sobre violação dos direitos humanos.

- Esteve igualmente no CSIS; participou em posição de destaque protocolar nas cerimónias do Dia de África, em Washington.

2 . A Câmara do Comércio EUA/Angola continua a notar escasso interesse por Angola da parte do sector privado norte-americano não petrolífero (a crise financeira agravou a situação). A visão corrente é a de que Angola precisa de melhorar o quadro legal para os investimentos/comércio; imprimir maior celeridade no processo decisório; reduzir os níveis de corrupção que triplicam os custos em Angola.

É dada preferência a países como o Gana, África do Sul, Tanzânia, mesmo o Uganda, que diversificaram as suas economias e adoptaram medidas efectivas no sentido da redução/eliminação da corrupção. A linha anti-corrupção adoptada pelo novo PR sul-africano, Jacob Zuma, foram acolhidas com “especial agrado” na Casa Branca.
3 . A hipótese de uma visita próxima de B Obama a Angola é considerada “remota”, (AM 380), tendo em conta o princípio imposto à sua política para África, incluindo visitas presidenciais, que é o de procurar distinguir países com aceitáveis sistemas democráticos e com administrações com bons padrões de transparência.

Os EUA atribuem especial importância a Angola. Mas não consideram a democracia e a transparência no país como exemplares; considera-se que é necessário um “aprofundamento da democracia” e uma “melhor utilização dos recursos do país, de modo a garantir condições básicas a toda a população”.

Os responsáveis angolanos denotam estar determinados a persuadir B Obama a visitar Angola “o mais cedo possível”, aplicando nisso todas as suas influências. A lógica dos seus esforços é a de que o cenário de uma clara afirmação de Angola como potência regional seria facilitada por uma tal visita.

A aplicação de Angola é também reflexo de “ciúme” em relação à África do Sul, visitada pelos dois últimos presidentes, Bill Clinton e George Bush. Tal ciúme e a razão implícita – suplantar a África do Sul como potência regional – também prejudica uma eventual visita de B Obama a Angola, efectuada em condições que ponham em causa “direitos de primazia, morais e políticos” reconhecidos à África do Sul.

Fonte: África Monitor