Luanda - Tal como a vida individual, a história tem-se apresentado aos actores e protagonistas como um espelho que teimosamente os confronta, como se de um juiz se tratasse. Sob este prisma, a história recente do nosso país não é excepção, pois está recheada de factos que se sucedem de forma dinâmica.

Fonte: Club-k.net

A história dos povos não se escreve a lápis, ela é tão importante que não se permite tal veleidade, aceitando apenas ser escrita com factos e muitas vezes com sangue de seus melhores filhos.

 

A parte da história que se nos propõe descrever neste pequeno artigo e com ela estabelecer alguns paralelismos felizmente, foi escrita com factos e não com sangue; o facto anterior teve como protagonistas 50 jovens angolanos, actores de marcantes episódios pró-independência, de que os sobreviventes se podem orgulhar bastante - o conhecido processo 50, que, em parte, está na origem da nossa independência a 11 de Novembro de 1975. Tratou-se de um grupo de jovens cansado das injustiças praticadas pelo regime colonial português, reivindicou corajosamente por via de actos diversos; manifestações culturais, literárias e alguma afronta, próprias da ousadia juvenil. Na altura tiveram como defensora uma advogada que quase contra natura tratou de, em várias instâncias enfrentar o regime colonial em defesa dos jovens heróicos combatentes da liberdade.

 

Por via do tempo, a história tratou de fazer novos protagonistas na busca de novas liberdades contra novos opressores, num contexto em que os jovens que em 2014, 2015 lutam por novos direitos apanágio da democracia - acontece porém que a memória do homem é curta, poucos são os homens capazes de acompanhar o desenvolvimento da história como Nelson Mandela... já que a velocidade dos fenómenos com as novas tecnologias se processam muito mais rapidamente, ou seja, os jovens do processo 50 protegidos pela Digníssima Dra. Medina.

 

Fértil em muitos acontecimentos, a história tem registado os seus heróis da era contemporânea pôs-independencia, na sua maioria, vítimas do simulacro democrático. Uns tiveram mesmo as vidas sacrificadas (Alves Kamulingue e Isaías Kassule). Outros, acabaram presos, maltratados, julgados e condenados. São os 15+2 . Nem os argumentos do causídico David Mendes, com as suas ”Mãos Livres”, demoveram o designado juiz Januário Domingos, de forjar a sentença que entrou para a história.

 

Curiosamente, os jovens heróicos de 1975, ocupam cargos de destaque na governação actual, como consequência directa da sua coragem de ontem e, paradoxalmente, são os carrascos dos jovens corajosos de hoje. Não querendo ser fatalista ou adivinhador, pode-se dar o caso de, os "revus" de hoje, serem os dirigentes de amanhã porque a história é teimosa. Ela repete-se e tem esse “defeito” de teimosamente nos aparecer como o nosso retrato no espalho, por mais que o tempo passe ...