Luanda - Sob o lema “coesos fortaleçamos o partido que queremos”, e quando faltam pouco mais de um mês para a realização do seu IV Congresso, o atual Secretário-geral do Partido de Renovação Social (PRS), Benedito Daniel, concedeu uma extensa entrevista ao jornal “O Crime”, na qualidade de candidato a presidente dessa formação política, durante a qual aborda questões relacionadas com a linha do seu manifesto eleitoral, a vida interna da organização e o tipo de presidência que pretende imprimir, caso seja eleito, presidente do PRS, em substituição de, Eduardo Kuangana, que por questões de saúde, não vai concorrer a sua própria sucessão. A apresentação do seu manifesto eleitoral aconteceu nessa terça-feira, 18, durante a qual defendeu a revisão dos estatutos com vista a incorporação da figura de vice-presidente, na direção do PRS.  Siga a entrevista:

*Natanael Teles
Fonte: Jornal O Crime

E não a demagogia e ataques pessoais


Senhor Secretário Geral, depois de muita água correr por debaixo da ponte, finalmente o IV Congresso do PRS foi convocado…
Benedito Daniel: Formalmente a data está marcada, mas acho que havia uma incompreensão por parte de certos militantes que, ou não acompanhavam bem a dinâmica interna do Partido ou então apenas queriam criar confusão que por pouco vazaria para violação das regras estatutárias do Partido. É verdade que o Comité Nacional havia deliberado a realização do Congresso para Junho de 2016, porém entre a deliberação do Comité Nacional surgiram vários constrangimentos inviabilizaram a convocação do IV Congresso no horizonte temporal deliberado pelo Comité Nacional, entre esses constrangimentos, a doença do nosso líder, Presidente Eduardo Kuangana, que por esse motivo, teve de ser evacuado para o exterior do país. Por essa ausência de força maior do presidente, ficamos impedidos de convocar o Congresso, porquanto, estatutariamente, a convocação do Congresso cabe exclusivamente ao Presidente do Partido. Não sei com que intenção, mas a verdade é que, durante esse período de ausência do presidente, alguns militantes, movidossei lá por que forças, tentaram sem sucesso, forçar a convocação do IV Congresso, apenas para criar confusão. Recuperado e tendo regressado ao país, o presidente do partido, Dr. Eduardo Kuangana, após consulta aos órgãos competentes do partido, convocou o Congresso no dia 27 de Fevereiro, para os dias 29, 30, e 31 de Maio de 2017.

Que passos subsequentes se deram…
Convocado o Congresso, criaram-se as estruturas responsáveis pela organização de todo o processo, nomeadamente, a Comissão preparatória que já realiza as conferências, provinciais, municipais, e comunais, conferencias essas que terão o seu final no dia 30 de Abril e que visam eleger os delegados ao Congresso.

Nesse Congresso o Dr. Kuangana não se vai candidatar. Daí a sua entrada em cena como candidato à presidente do PRS… ou já tinha essa ambição?
A ambição política para líder do partido começou a surgir em mim, desde há algum tempo a esta parte. Até porque comecei como militante de base e pelo meu empenho, dedicação e abnegação fui ascendendo até chegar à Secretário Adjunto para os Assuntos Políticos, Secretário Adjunto para os Assuntos Internacionais, Secretário para as Relações Exteriores, Secretário para os Assuntos Políticos, até chegar agora ao cargo de Secretário-geral. Sobre a decisão de candidatar-me ao cargo de Presidente do Partido, pessoalmente considerava não ser ético fazê-lo enquanto o Dr. Kuangana também o fizesse. Por isso fi-lo apenas agora, já que o Presidente, por motivos já evocados não vai concorrer.

O Senhor acha-se com bagagem suficiente para liderar um partido como o PRS… que até 2012 foi a terceira força política do país?
Bem! Não sou eu que o digo, são os militantes que acham que pela minha trajetória política dentro do partido e o perfil que me caracteriza, e com a retirada do nosso presidente, não devia deixar o partido a deus de ará… e nós com o espírito de missão que nos caracteriza, aceitamos o desafio, já que durante esses vinte e cinco anos que trabalhamos para o engrandecimento do partido, ganhamos alguma experiência que queremos colocar a disposição da nossa organização.

Qual o objetivo principal da sua candidatura?
O nosso objetivo é claro! Trabalhar para que o partido continue a ser uma referência político-partidária do nosso país e defensor dos anseios do povo angolano.

Como é que os militantes do PRS receberam a notícia da retirada do presidente Kuangana, depois de vinte e cinco anos a frente do partido?
O presidente Kuangana é um ícone do partido e para todos os efeitos, até prova em contrário é o melhor dentro do partido. É aquele que elevou o partido ao patamar em que se encontra hoje, fazendo parte do mosaico e da história do nascimento da democracia político-partidária de Angola por mérito próprio. Sem esquecer as relações com partidos congéneres ao nível internacional. Como todo o homem, e pela natureza do próprio trabalho político, teve os seus altos e baixos, mas a sua marca esta lá por isso os militantes, mostraram-se preocupados mas não desesperados, porque sabiam que a saída do presidente era uma questão que tarde ou cedo podia acontecer. Aliás, o mundo é dinâmico e porque o Dr. Kuangana acha que já não tem o vigor de há vinte e 25 atrás achou por bem passar testemunho a outros quadros do partido, por isso nada a lamentar por parte dos militantes, mas sim um sentimento de expectativa no sentido de escolherem o candidato certo, aquele que vai prosseguir e sempre inovando o projeto de sociedade do PRS.

Esse candidato chama-se Benedito Daniel?
Tenho a certeza que sim!

Mas o senhor não é o único candidato à sucessão do Dr. Kuangana?
Não sou o único, somos três candidatos, com o Secretário para a Economia e Finanças, Senhor Sapalo António, e o antigo Secretário-Geral do PRS, Senhor, João Baptista Ngandagina.

Todos foram aprovados para concorrer?
A Comissão preparatória aprovou a candidatura de todos como tendo reunidas todas as condições estatutariamente exigíveis para concorrer ao cargo e presidente e estabeleceu trinta dias para a pré-campanha e trinta dias para a campanha de sensibilização dos militantes delegados, visando a eleição do novo presidente do PRS.

Qual a pedra de toque da sua candidatura para convencer os delegados ao IV Congresso do PRS a votarem em si?
O manifesto da nossa candidatura assenta em cinco pilares fundamentais: Coesão, Credibilidade, Visibilidade, Dinamismo, Honestidade e Trabalho. Pensamos que com esses cinco pilares, daremos ao PRS a dignidade que ele merece.

A sua candidatura é de mudança ou de continuidade?
A renovação pode ser feita na continuidade, porque nós somos aqueles que conhecem o partido e a candidatura que agora se efectiva é o corolário do empenho de todos nós, ao lado de militantes que ao longo desses vinte e cinco anos acompanharam-nos. Por isso vamos renovar na continuidade, claro sem desviarmo-nos dos princípios básicos e essenciais do Partido de Renovação Social.

Que presidência quererá imprimir no PRS?
Caso seja eleito presidente do PRS, e acredito que serei eleito… tal como é característica da minha personalidade, para aqueles que me conhecem, vou adoptar uma presidência aberta, virada para os militantes e para o povo sofredor, principalmente nas províncias esquecidas, aonde falar de escolas e de serviços de saúde públicos ainda é uma miragem. Não será necessário marcar audiência para falarmos com os militantes e com os cidadãos… vamos ouvi-los abertamente. Aquilo que estiver ao nosso alcance vamos resolver, aquilo que for de outro fórum, vamos influenciar para que todos os assuntos sejam solucionados. As questões sociais, como as doenças, o analfabetismo, o desemprego juvenil e a pobreza extrema serão prioridade, isso no cômputo geral. Internamente, vamos continuar a expandir e a reforçar as nossas estruturas, reforçar a coesão interna e chamar todos os filhos do PRS para trabalharem para essa ceara que é de todos nós, o Partido de Renovação Social.

Quantos delegados vão participar nesse conclave?
O IV Congresso do PRS vai contar com a participação de 701 delegados eleitos nas conferências provinciais, municipais, comunais e na diáspora, para debater a vida interna do partido, analisar a situação económica, social e política do país, com maior enfase às eleições de Agosto próximo, culminando, no seu ponto mais alto com a eleição do presidente do partido.

Setecentos e um delegados, de um horizonte de quantos militantes controlados pelo PRS?
Estatisticamente, até 2013 o PRS controlava, 3 milhões e 243 mil militantes, um número que tem vindo a subir substancialmente, graças à dinâmica de trabalho imposta pela Direção do partido nas 435 estruturas partidárias, intermédias e de base existentes em todo o país.

Algum apelo em particular?
Um apelo especial aos militantes em geral sobre o comportamento a adoptar durante a campanha e durante os três dias que estaremos em Congresso: que acreditem num PRS unido para operar a mudança na continuidade, sem fracturas, sem demagogias, mas sim, com espírito congregador, de debate de ideias que tornem o PRS mais forte e não enveredar por questões pessoais, que apenas nos enfraquecem e que no dia seguinte saiamos todos a sorrir!