Lisboa    -   As antigas denuncias   de que   o Banco Kwanza Invest (BKI)  serve de instrumento para  lavagem de dinheiro,  foram nas últimas semanas reavivadas em meios da alta finança   europeia com a descoberta segundo a qual  o seu  sistema informático  está   alojado no exterior do país. 
 
*Paulo Alvés 
Fonte: Club-k.net
 
Sistema Informático do Banco Kwanza na Suíça
 
Trata-se de   um banco criado pelo filho do Presidente da República, José Filomeno dos Santos (Zenú) que, depois de assumir a presidência do Fundo Soberano de Angola, transferiu as suas acções, na qualidade de maioritário, para o seu amigo Jean-Claude Bastos de Morais, que agora acumula 84,99% do capital social.
 
 
O   sistema informático do Banco Kwanza Invest (BKI) está alojado na Suíça, através de dois servidores, um instalado no subúrbio de Breganzona e outro de Paradiso.  Isto é,  os seus servidores informáticos  estão  numa empresa chamada Equus Informática SA, na Suíça, ligada ao universo de empresas do “testa-de-ferro” Jean-Claude Bastos de Morais. As comunicações com Luanda são asseguradas via VPN (virtual private network). 
 
 
Desta forma,   o BKI actua   fora do controlo de supervisão do Banco Nacional de Angola.
 
 
“Parece uma coisa de somenos importância, mas não é. Quando foi descoberto o “buraco” dos biliões no BESA, o dono português, Ricardo Salgado, afirmou que desconhecia em Portugal tal “buraco” porque o BESA tinha “independência informática”, tendo sido obrigado a tal pelo Banco Nacional de Angola. Isto é, o sistema informático do banco estava em Angola e não podia ser acedido de Portugal. Era gerido  localmente.”, refere o economista  João Baião Araújo,  solicitado pelo Club-K,   a esmiuçar o assunto. 
 
 
Em rigor técnico, o banco pode ser “apagado” da Suíça e as autoridades angolanas nunca terão acesso aos seus registos. Em Luanda há apenas, conforme informações em posse do Club-K, um jovem que assegura as comunicações entre a Suíça e Angola.
 
 
O Banco Kwanza Invest, segundo a imprensa nacional e estrangeira,   tem servido de vector passagem de   “vários milhões de dólares”  do Fundo Soberano.  Em  Abril de 2015, o jornalista Rafael Marques de Morais, denunciou no seu site “Maka Angola” que foi através deste banco que o Fundo Soberano de Angola procedeu a uma transferência de 9 948 750 000 de kwanzas (equivalente na altura a cerca de US $100 milhões) à empresa Kijinga S.A., ligada aos interesses de José Filomeno dos Santos.  Trata-se de uma empresa-fantasma que  serve para dar cobertura à transacções obscuras com o Banco Kwanza Invest (BKI).
 
Atividades suspeitas do BKI 
 

Em Luanda, até ao momento as instituições financeiras desconhecem o que faz exatamente, o BKI que era suposto ser um banco comercial. Uma pesquisa levada a cabo pelo Club-K, indica que pelo menos, entre 2014 e 2015, o BKI  não concedeu crédito a clientes. “Portanto, não é um banco comercial no sentido habitual da palavra, aquele que recebe depósitos e empresta dinheiro”, concluiu João Araújo.
 
 
Olhando para as Demonstrações Financeiras de 2015 expostas no seu relatório  - não estão outras disponíveis para o público - verifica-se que o Banco não concedeu créditos, mas uns estranhos adiantamentos a depositantes.  E por sua vez vê-se que essencialmente o banco tem depósitos à ordem e quase nada a prazo. Em números redondos existem cerca de 100 milhões de dólares de depósitos à ordem que não são remunerados. Não há actividade bancária típica, remuneração de depósitos e concessão de empréstimos. 
 
 
Um dado surpreendente denota que este   banco faz adiantamentos sobre depósitos à ordem aos seus depositantes.  Um depósito à ordem é aquele que pode ser levantado a qualquer minuto. 
 
 
“Então, o banco adianta dinheiro com base num dinheiro que pode ser levantado a qualquer momento. Em rigor, pode ficar em segundos sem nada. Adiantou o dinheiro e a pessoa, entretanto, levanta o depósito à ordem. É uma alquimia financeira”, considera João Araújo. 
 
 


No seu website, o Banco Kwanza Invest  apresenta-se também  como um banco de investimento, o que equivale a uma instituição que essencialmente monta operações e cobra comissões. O seu relatório de 2015, revela que  o  único serviço financeiro que se vê neste ano  “correspondia essencialmente a um contrato de prestação de serviços celebrado com a África Corporate Finance Advisory, S.A., no valor de mAkz 3.144.541.” O contrato previa a prestação de um conjunto de serviços financeiras, na área de finanças corporativas e desenvolvimento de novos negócios. 
 
 
Esta empresa (África Corporate Finance Advisory, S.A) pertence a Marcel P. Krüse, suíço radicado em Angola, que foi Presidente do Conselho de Administração (PCA) do Banco Kwanza Invest. 
 
 
“Então, a principal actividade do Banco é um contrato com o seu anterior  PCA? Dá ideia que banco funciona apenas como Banco interno do grupo de empresas associadas a Jean-Claude Bastos de Morais.” Diz o analista Araújo. 
 
 Ausência de consistência financeira detectada pelo BNA 
 
Em 2015, o Banco Nacional de Angola (BNA) sob liderança do então governador  José Pedro de Morais Júnior remeteu uma comunicação ao Conselho de Administração do Banco BKI  a solicitar a apresentação de “um plano de reestruturação da actividade do Banco que vise o objectivo principal de dotar o mesmo dos níveis de fundos próprios necessários para desenvolver a sua actividade numa óptica de longo prazo, em cumprimento dos requisitos de capital estabelecidos pelo Banco Nacional de Angola.”
 
 
Até ao momento,  não há informações indicando que o BNA já  recebeu do BKI algum plano de restruturação ou se  está a ser executado. O economista João Baião Araújo  é de opinião que face a  ausência de consistência financeira do BKI, de Zenú dos Santos,  o Banco Nacional tem que intervir para repôr a legalidade desta situação.